A fazer fé pelos indicadores de renúncia ao voto, de pronto uma conclusão poderemos tirar; os portugueses estão a desprezar a democracia. Contudo, convém dizer, que no passado, ainda recente, os cidadãos deste país muito lutaram, com consequências penosas, pela conquista deste direito.
E, no futuro que é já amanhã, a avaliar pelos cenários que temos pela frente, a abstenção aumentará, e quando os abstencionistas são em maior número os demais, daí devemos tirar também óbvia conclusão; a democracia como modelo de gestão entrou no trilho da falência.
Há, entre os cidadãos, uma generalizada opinião, mesmo entre aqueles que apoiam e suportam os partidos, que o modelo democrático vem perdendo virtudes, em consequência do que, novos cenários hão-de ser equacionados a breve trecho; é preciso reinventar a democracia.
Com efeito, acho que os portugueses não estão a fazer um exercício puro e simples de abstenção, os cidadãos têm vindo a dizer que; assim não! Mas assim como? Assim com toda essa galfarreada que temos vindo a assistir. Exemplos? Oh, inúmeros. Vejamos as polémicas à volta do financiamento dos partidos, por parte dos particulares; vejam o orçamento do estado que tarda, veja-se o crescente endividamento dos cidadãos, olhem para o esmagamento do pequeno empresariado pelas grande superfícies, atentem bem na inexistência de uma política de saúde suportada num plano moderno e adequado aos nosso tempo e aí por diante.
Então, o que fazer? Reinventar a democarcia; é preciso reinventar a democracia, é preciso que a democracia se democratize, é preciso que essa organização, máquina do governo, funcione em tempo útil de modo a servir os cidadãos e o país, de contrário os eleitores continuarão a manifestar o seu descontentamento desprezando quem os ignora, ou deles apenas se lembre em períodos eleitorais.
A democracia está a tornar-se numa coisa que ainda ninguém sabe bem o que é, uma coisa que mais se parece com um estranho bicho, indefinível, cheio de mãozinhas e perninhas com ventosas que se alapa por todo o lado, assim foi o destino do activo e lutador Gregor ao entrar em metamorfose na obra homónima de Kafka.
Mas, poder-se-à abandonar o modelo democrático? Claro que pode e com substanciais ganhos de produtividade, até financeiros, para o país! Então como? Reduzindo desde logo o número de gente no parlamento e subsequentemente as equipas governativas. Porquanto, há gente no parlamento que apenas ali está para se levantar e sentar. Por outro lado, há Ministérios sem estrutura orgânica suficientemente definida, ou com tarefas que antes um simples comissariado desempenhava.
Mas, qual é o modelo alternativo?
Assumamos que os partidos não são um Deus. A capacidade e a força dos cidadãos é que haverá de determinar os caminhos do futuro, e por isso começo a ficar convencido que o povo aceitará, porventura até desejará, um outro modelo de gestão, um modelo de gestão ad-hocrático configurado este para soluções prontas e imediatas em ordem à solvência das necessidades dos cidadãos, um modelo regenerativo assente em objectivos, assente nos princípios de funcionamento da gestão privada, à semelhança do que Henry Mintzberg sustenta na sua obra “estrutura e dinâmica das organizações “.
A democracia vai entrar em metamorfose. Vai. Eu penso que vai.
Leiria, 30.11.1999