O povo costuma dizer que com o mal dos outros vamos nós bem ! Será que é assim? Há males que de facto pouco ou nada nos apoquentam, mas outros há que são de fácil contágio e de efeitos funestos. O SIDA é um deles e até pode pôr em causa a segurança mundial, foi o que Presidente da maior potência político-económica do mundo no-lo veio dizer, um dia destes. Ele está com medo e confessou-o lá do alto da sua cátedra de governante de um povo, que nada teme, nem tem medo de ninguém. A saúde da humanidade está ameaçada, é o que se pode concluir.
A falta de dinheiro também é um mal e grave, bem como o é a sua utilização para além do razoável, ou do estritamente necessário. A saúde financeira de um cidadão, de uma empresa, de um país, de um grupo de países também pode ser uma grave ameaça mundial. Poder-se-ia, pois, dizer que remédios e unguentos, precisam-se. O que não falta neste mundo agitado, algo nervoso, cada vez mais desregrado e em estado assaz febril, são doenças que podem muito bem degenerar em convulsões, quiçá graves.
E vejamos, o euro, o dinheiro da Europa comunitária, está na ordem do dia porque está doente, dir-se-à gravemente doente, foi atacada por um vírus algo desconhecido e está cada vez mais anémico. Aparentemente não há razões para esta enfermidade, porquanto a economia dos países membros da união tem vindo a crescer, o desemprego tem diminuído e em Portugal até é preciso recorrer a mão d’obra externa, a inflacção parece estar controlada, embora a tendência no nosso país seja de subida.
Com efeito, o euro, que muitos ainda não sabem muito bem o que é, há muito que está em perda, e por causa disso nem é desejado e até começa a ser temido, constando mesmo que 26% dos portugueses andam assustados. E, por via disto, os negócios estão a sofrer dos efeitos de perda, nomeadamente aqueles que provêm de importações. Como é sabido o busílis da questão reside na moeda de transacção, ou seja, no dólar que tenazmente se impõe ao euro. A generalidade das empresas fornecedores preferem celebrar os seus contratos em dólar com absoluto desprezo pelo euro, tratam-no com desdém.
Mas então o que falta? As empresas funcionam, os negócios fazem-se, a rapaziada trabalha, mas o euro não se afirma e continua dormente. Em princípio, faltarão as grandes figuras da política de uma Europa activa e trabalhadora, homens que possam dizer da sua razão de ciência, vendendo a realidade de um espaço económico, mesmo que para isso seja preciso dizer verdades, como seja, assumir claramente que o euro, por falta de adequada estratégia, não se consegue afirmar nos mercados fora da zona comunitária.
A saúde da União Europeia, algo por inconfessados interesses, pode estar ameaçada. Pergunto-me, teria Freud terapia para esta doença, para este pesadelo em que vivemos. Estamos, ou não, em condições para animar os trabalhos de implementação do euro na gestão comercial corrente e nas contas das empresas? Será que o projecto vinga?
Não se pode continuar a vender sonhos. Temos que descer às realidades.
Leiria, 15.05.2000