Sábado, 12 de Agosto de 2000

Actualmente, em Portugal, trabalhar o é crime. 

 

Não tenho que contar a minha vida a ninguém, muito menos de modo público, não tenho vergonha de dizer que comecei a trabalhar aos doze anos, como não tenho vergonha de dizer que a primeira vez que fui para o emprego fui de tamancas de pau.

 

Não tenho vergonha de dizer que fui, sempre fui e ainda sou, um trabalhador estudante.  Mas tenho vergonha de ver o meu país como está, o meu país está a ficar um lixo, e todos vamos dizendo “se para os outros isto assim está bem, para mim também está!“. 

 

Somos um país de acomodados. Estou para ir de férias, e ando angustiado, não é só pelo cansaço do trabalho, mas sobretudo pelo que vejo à minha volta. Vejo gente que podia fazer coisas, coisas bonitas e interessantes por este país e nada fazem; fizeram-se eleger por questões de estatuto, penso que foi só por isso.

 

Ouço e vejo dizer que se não existisse o sigilo bancário o Estado arrecadava mais impostos. Mas, ó Senhores políticos lá da Assembleia da Republica, em Portugal não existe sigilo bancário, há pelo menos quatro situações em que, quem de direito nos termos de normativos legais, pode autorizar o exame às contas bancárias dos cidadãos, portanto não há sigilo bancário.  Mais tarde poderei explicar em que circunstâncias, mas desde já adianto, que uma dessas possibilidade está consignada na denominada Lei Mateus.

 

Vejo que o Estado, nas suas infinitas competências, pode desautorizar a educação dos pais sobre os filhos. Ou seja, em certa empresa, trabalhava um casal e aí empregaram um filho, que foi devidamente legalizado, com contribuições para a segurança social e tudo; pois bem, a empresa sofreu pesada coima, foi incomodada porque empregava um jovem, embora com bom corpo para o trabalho. Teve de voltar para casa, ou para a rua, ou talvez para a galderice. 

 

Vejo, o meu país cheio de gabirus, que começam a pôr em causa a segurança dos cidadãos, gente que anda em tropel, que rouba, assalta e espanca, mas não podem trabalhar porque a lei deste país não deixa; podem matar, alguns nem podem ser presos nem condenados porque a lei deste país não deixa.

 

Vejo os membros dos governos e não só, dizendo, vamos baixar os impostos, mas cada vez se paga mais, porventura para contribuir no sustento uma vasta legião de força de trabalho inactiva que atormenta e amedronta cidadãos honrados.

 

Vejo um Ministro a dizer atoardas, classificando e definindo o conceito de roubo. Vejo o meu país a arder, em altas labaredas, e tudo se passa na maior de calmas e das impunidades. Assim não,  temos de dar um grito! Ninguém faz nada, os nossos governantes enganaram-se ao tomar o estimulante de quem vai entrar em dura competição, e em vez disso tomaram sonoríferos, e dormem que nem justos.

 

Por outro lado, dir-se-á, que a oposição anda à procura de norte. Bom, mas o fulcro da questão é que em Portugal trabalhar pode ser crime.  Os jovens, (nem todos, obviamente) podem fazer tudo o que lhes der na real gana; podem roubar, assaltar, espancar e até matar e as suas famílias. E, com habilidade ainda recebem rendimentos mínimos garantidos para sustentar tais tropelias; mas trabalhar é que não podem.

 

Assim sendo, se os de cá, não podem trabalhar, então deixem vir gente de fora, porque o país está a afundar-se, os Senhores que têm o poder na mão, não estão a ver?  Como pode Portugal progredir assim?

 

Mas, se me preocupo é porque quero, porque nem tudo é mau. Segundo a nova lei de bases da segurança social, ao que percebi, esta vai permitir que ao fim de quarenta anos de trabalho quem quiser pode reformar-se, ou seja os cidadãos da minha geração podem começar a pensar na reforma.

 

Por mim direi; contando aqueles dois anos em que estiva na guerra do ultramar, que para este efeito valem por quatro, ora aí está, tenho o tempo necessário para a reforma. Portanto a história é assim; eu também não quero trabalhar, os da minha geração poderão fazer o mesmo, os velhos esses coitados lá vão sofrendo as agruras das suas míseras reformas, os mais novos em absoluto estão proibidos de trabalhar, os políticos o que mais desejam é uma boa reforma.

 

Portanto o melhor mesmo é que ninguém faça nada.  Ora vamos lá ensaiar; vamos todos para férias, afinal estamos em Agosto e neste mês está tudo em repouso, depois em Setembro podemos continuar de férias...

 

Bom, para já vou meio mês de férias, mas na volta conto convosco, porque temos de começar a pensar na constituição de um sindicato de voto que diga a esta rapaziada “assim não vamos a lado nenhum“. Estamos a pactuar na construção de uma sociedade de malandros. Ou, é  mentira?

 

Leiria, 12 Agosto 2000



publicado por Leonel Pontes às 16:54
Sábado, 05 de Agosto de 2000

 

Drucker, guru da gestão, produziu e continua a produzir abundante literatura, no âmbito das ciências empresarias defendendo, ao longo de quase um século de vida, que o sucesso dos homens de negócios jamais estará dentro dos muros das grandes quintas, antes estará no saber, sendo certo que este mestre bem conhece a evolução tecnológica, nomeadamente, dos últimos cinquenta anos. 

A artesanal prancheta sobre a qual eram efectuados lançamentos contabilísticos, as máquinas de registo mecanográfico daquelas mesmas operações ou os escamartelhões dos computadores com portas de inserção de disquete do tamanho de um portão de quinta, eram ainda há menos de um quarto de século utilíssimas ferramentas de apoio à gestão. Hoje são peças de museu. Comparando aquelas tecnologias com os actuais equipamentos informáticos com relevo para os minúsculos computadores portáteis conectados estes com os grandes sistemas de informação, assentes naquele irreverente génio inventivo e bem sucedido de Bill Gates, não há dúvida que estamos perante uma maravilha das tecnologias da neo-economia. 

Se entretanto estabelecermos uma coligação racional das novas ferramentas, entendam-se estas pelo conjunto de máquina e programa, se lhe adicionarmos a experimentada razão de ciência do velho guru far-se-á um produto explosivo capaz de provocar autenticas maravilhas. E, se por seu turno, a este composto adicionarmos aquele outro que só tem quem tem, e não quem quer, o saber e o conhecimento, então ter-se-á em mãos uma revolucionária ferramenta para e produzir confortáveis riquezas quando comparadas com as fontes de rendimento do princípio do século, ora a expirar.

Está provado à evidência que para fazer, seja o que for, é preciso saber do que estamos a tratar, e depois é preciso conhecer os meios que temos ao nosso alcance, de modo a que com estes possamos construir ferramentas de apoio ao desenvolvimento e ao crescimento dos negócios. Quem tiver a ousadia de assumir a gestão do que desconhece, ganha, desde logo, o direito a que mais cedo ou mais tarde confrontar-se-á com a dura da realidade das derrapagens (noutros tempos chamava-se falência), e não haverá tecnologia por mais sofisticada que seja que possa salvar as incapacidades ou o desconhecimento de quem gere, impondo modelos adquiridos a pacote, por vezes muito caros.

Contudo, o contrário também é verdade, isto é, por mais moderno e sofisticado que sejam as tecnologias e bem assim os sistemas de apoio à gestão, se estas não estiverem conectadas com o negócio e conduzidas por quem com o processo saiba lidar é certo que o tempo inexoravelmente apontará o caminho do insucesso. E, não é só e apenas nos casos de sucesso que tiramos conclusões e vemos exemplos, os casos de insucesso, no fundo são os verdadeiros casos de estudo.

Com efeito, em tempo, dizia a imprensa de grande tiragem deste país que uma então próspera empresa, aplicando as sobras dos seus recursos e potenciando o know how adquirido ao longo dos anos, implantou-se num promissor país do leste, para aí deslocando pessoas acompanhadas de um sofisticado sistema informático sob o qual a gestão se haviaria de adaptar. Cedo se veio a constatar que aquela empresa experimentava grandes e graves dificuldades.

Diz o povo que nos erros dos outros corrigimos os nossos e por isso aquele erro estratégico, acompanhando-o, serviu-me de estudo. E é assim que de novo vem à luz do dia, nas páginas da imprensa, um relato de insucesso com uma derrapagem nos resultados e com um endividamento que ascende a muitos milhões de contos. Diz-se agora que o grande responsável pelo insucesso foi (é) o sistema informático.

Nestas coisas de insucessos, sejam eles de uma empresa de bens alimentares, sejam eles a construção de um empreendimento nacional como a Expo 98, sejam eles as obras o metropolitano de Lisboa, tudo se passa sem culpados. Isto faz lembrar aqueles três milhões e meio de portugueses que fumam ao lado de outros prejudicando-lhes a sua saúde, vêm agora dizer que vão pedir indemnizações às tabaqueiras para ressarcir os seus erros. 

Com efeito, nestas coisas, quiçá inexplicáveis, de má gestão que por aí graça, só estou à espera de ver um dia destes alguém a pedir que seja Peter Drucker e/ou a Bill Gates a indemniza-los pelas incapacidades de gestão ruinosa que fizeram.

E quem perde? Todos nós, claro. Os erros cometidos, nos empreendimentos geridas por gente nomeada pelo governo, são cobertos com dinheiro dos nossos impostos. Os erros cometidos nas empresas privadas também pagamos por via das abruptas quedas em bolsa, e em última instância somos sempre nós quem perde, porque o peso do orçamento do estado será distribuído por todos aqueles que geram riqueza, os outros dela se aproveitam e assim vão gozando a vida. 

Leiria, 5 Agosto 2000



publicado por Leonel Pontes às 15:16
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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