Terça-feira, 28 de Agosto de 2001
 

Acabámos de entrar na recta final do ano de 2001. Um período aparentemente igual a tantos outros, porém este ficará na história por uma particularíssima razão, entrámos no quadrimestre da morte anunciada do nosso escudo, bem como de outras moedas dos países constituintes da União Europeia; à excepção da Inglaterra, Dinamarca e Suécia.

 

Ora, este enterro já vem sendo organizado há anos, se quisermos começou logo com a assinatura do tratado de Roma, decorria o ano de 1957. Com efeito, ao longo de décadas a questão monetária, que haveria de dar lugar a uma moeda única, o euro,  teve fervorosos adeptos, mas também com o decorrer do tempo foi ganhando fervorosos cépticos.

 

Não obstante a controvérsia gerada, e o cepticismo que parece reinar, ainda assim, outros países desejam, e muito, entrar para o clube da “União“, como sejam;  Bulgária,  Letónia, Lituânia, Malta, Roménia, Eslováquia. Em sumária conclusão constata-se que quem está dentro da união e conhece as realidades não manifesta grandes entusiasmos, quem está fora em nada se importa e até deseja engrossar o pelotão da união europeia.

 

Todavia, agora, e usando uma expressão do povo “quem está no carro é para ir“. Mas será que vamos bem, será que não entrámos num beco sem saída ? Várias razões concorrem para as muitas dúvidas que sobre a questão se levantam, elencaremos algumas;

 

Há no seio da união ideia feita de que não existe liderança do processo, isto é, ninguém reconhece em ninguém uma superior capacidade, mormente política, que possa fazer vender este novo produto “ o euro” fora de portas. De resto, fora do contexto político, há vozes que sobre a matéria têm dado testemunho; a Europa não tem um líder político que faça a diferença. Valha-nos contudo que o outro grande espaço económico, o americano, também não. Mas aí, mesmo com um presidente pouco respeitado, perderemos aos pontos, porquanto o empresariado do novo continente tem um poderio financeiro que sempre há-de abafar esta manta de retalhos chamada união europeia.

 

Por outro lado, avaliando pelo que publicamente é divulgado o investimento não revela indicadores satisfatórios, por seu turno poder-se-à até dizer que o crescimento está anémico.

 

A acrescentar a estas incógnitas temos dentro deste mesmo espaço notórias assimetria sociais, às quais convém juntar também a existência de desigualdades de tratamento em matéria de política fiscal.

 

Com efeito, a única certeza que temos é a incerteza, daí que a coluna dos eurocépticos engrossa dando mesmo lugar ao “ SOS democracia “, onde é posto em causa o tratado de Nice. Adiante.

 

E quanto a nós, que no fundo é o que interessa para o caso, como estamos? Por certo temos que,  o nosso escudo entrou em agonia e no dia 31 de Dezembro expira mesmo – parece que estamos a fazer um exercício de eutanásia! – e por certo temos que a nossa economia está doente, e muito. Por certo temos também que os nossos políticos – os da primeira linha - lutam mais por causas próprias – salvaguardando talvez o seu futuro -, com desprezo, quiçá alheamento, das causas nacionais.

 

E concluindo deixem-me, hoje e agora, alimentar o meu cepticismo: não estamos a caminhar para uma crise financeira, económica, social e política? Algo de catastrófico? A ver vamos, assim dizia o cego!

 

Leiria, 28 Agosto 2001

 



publicado por Leonel Pontes às 17:43
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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