Os americanos, por menos de uma cabeça de fósforo, fazem explodir uma guerra, e não são guerreiros, dizem! (e, fazem-se de guardiões dos povos). O que fariam, se o fossem? E, por via disso, trazem o mundo dividido e os cidadãos apreensivos. E, já se diz que uma guerra até nem calharia mal e se viesse depressa ainda melhor; era uma maneira de aquecer as economias.
Diariamente, nas televisões, nos jornais, nas conversas de café ou outras, somos bombardeados com notícias acerca das tropelias de Walker Bush. Interessará saber, contudo, como estaria a política se o sistema eleitoral americano – ambíguo, como se viu - tivesse dado a victória a Albert Gore.
Ante a eminência de guerra, esta já tomou proporções tais, que do sério à glosa vai um fôlego. Com efeito, já há quem diga que Clinton é que foi um político de primeira água, visitava o mundo, distribuía sorrisos e beijinhos, dava uns acordes de saxofone, fazia amiúde duetos e carícias em dó, lá na Casa Branca, de tão branca que nunca perdeu a pureza.
E, aquela simpatia da Kalligas, guia turística, já velhota mas gaiteira, quando ao mostrar Washington não perdeu a oportunidade de nos fazer passar por dado local, dizendo "é aqui que vive a Mónica, aquela!... “
A primeira vez, é sempre a primeira, para tudo, e, quem pisa as terras do tio Sam parece ficar boquiaberto; todos diferentes, todos iguais, brancos, negros, amarelos, uns a inspirar confiança, outros nem tanto. Eu sei lá !
Idos cá de Lisboa, em grupo, com transfer em Madrid, aí vamos nós a caminho da Flórida, aeroporto de Miami. Avião cheio de hispanos, gente barulhenta, que tanto vão como vêm e muito se ufanam de exibir passaporte americano.
Chegados a Miami respira-se outro ar - mais quente, claro! -, tudo organizado, parques de estacionamento em silo, ruas desimpedidas, sem carros em cima dos passeios, tudo a fluir ordeiramente. A meus olhos, tudo seria uma maravilha, não fosse...
Mal havíamos saído do avião, já a meu lado saracoteava o rabinho um pequeno cachorro, sempre por perto, pareceu-me que seria mais um passageiro, acompanhante de dama; nem tive o discernimento para perceber que os irracionais têm tratamento diferenciado.
Feito o check-in, o bicho continuava por perto. A tiracolo levava comigo uma maleta que entre o mais dava guarida um chouriço caseiro, confeccionado cá em casa. E ainda uma garrafinha de água-pé cá do nosso. Aquilo é que seria uma brincadeira, um gozo, com os meus familiares que no aeroporto aguardavam pela deputação.
Sem que por isso déssemos conta, guiados por entre corredores de corda, entrámos numa sala, já todos os outros passageiros haviam desaparecido, sempre acompanhados pelo canino. Aí, uma senhora abeirando-se de mim, em tom agreste, disse “open the bag!“ e logo de seguida perguntou o que era aquilo e bem lhe poderia ter respondido “são rosas senhora “, mas as evidências, são evidências e lá lhe disse "isto é chouriço português“. A mulher, polícia, por instantes fixou-o, algo surpreendida, pegou-lhe para não mais o devolver.
Gerou-se ali uma guerra, e pronto pormenores pouco interessam, mas fiquei desarmado, tão desarmado que os demais do grupo, passaram a ter tema de conversa e ironia bastante durante as férias, e ainda hoje, lá perguntam pelo meu chouriço, ironias a propósito de um cidadão que se vê despojado de tão jeitoso “mata fome”.
Enfim, os americanos são mesmo assim, ou é tudo como eles querem, ou então temos o mundo às avessas. Em conclusão direi que eles fazem o culto da “arte da guerra”, nem que seja por um bom chouriço, mas por certo não apreenderam, nem nunca hão-de aprender o que Sun Tzu ensinou e escreveu há mais de 2.500 anos “só devemos entrar em batalhas em que tenhamos a certeza de victória “.
Leiria, 22 de Fevereiro de 2003