Domingo, 31 de Outubro de 2004

O “destrabalho” não consta dos dicionários, mas também não é - nem se pretende que seja - um neologismo. Mas existe, à guisa de prévia conclusão dir-se-á até que, já é o que mais temos.

 

Também não é desemprego, isso é outra coisa. Então, o que é o “destrabalho”?

 

Há dias demos conta pela imprensa nacional que a Filarmónica das Beiras estava no estertor da morte. O desgosto era imenso, às lágrimas; trouxe a fome, dizia-se. Se no-lo dissessem diríamos que não era coisa para acreditar. Vemos, lemos e ouvimos, não podemos ignorar.

 

Na televisão, entre aqueles que foram ouvidos, a dado passo um presidente de Câmara, ao que deduzimos co-financiador e co-detentor da Filarmónica, dizia não perceber porque se havia de dar fim à agremiação posto que tinha espaço, ou seja; existe mercado de trabalho. E, se assim é; se a Filarmónica goza de procura, se educa e forma, se efectuou investimentos a contento, então porque hão-de desfazer todo um trabalho. Ora aí está, isto só pode ser um “destrabalho”.

 

Os trabalhadores, os músicos, incrédulos ficaram ao tomarem conhecimento de que a sua função estava a chegar ao fim. E mais diziam não perceber porque haviam de sofrer tamanha maldade. Uma coisa deu para perceber ali só faltava organização, tudo o mais sobrava; mercado, executantes, instrumental, dinheiro, ainda que pouco; e doravante “destrabalho”. Dê-se então ênfase à questão.

 

*      *      *

 

Hoje é Domingo, à noite.

Convidado fui por ouvir um concerto musical, coisa rara cá na freguesia, Monte Redondo. Ao que fora dito este concerto insere-se nas comemorações do centenário do nascimento de um filho da terra que também foi músico, professor e bispo, D. João Pereira Venâncio, e por isso aqui trouxemos o “Grupo de Cordas Alegro” de Souselas–Coimbra. Os músicos, alguns dos quais alunos do Conservatório, durante uma hora executaram clássicos que quase já não se ouvem. Inolvidável.

 

Quem não viu e ouviu, perdeu. O maestro Manuel Abreu, esclareceu que no ano findo deram 52 concertos, todos de modo gracioso “basta que nos tragam e levem”. Fez ainda questão de referir “o grupo só é possível com trabalho, muito”. Dedicou ainda um trecho a outro músico cá do burgo, já desaparecido, Joaquim Duarte, um mestre do violino, membro que foi dos “Galitos”. Uma noite diferente. Uma raridade.

 

Os homens são capazes de tudo, do melhor e do pior; os gestores da Filarmónica das Beiras hão-de sentir problemas de consciência. 

 

Leiria, 2004.10.31



publicado por Leonel Pontes às 14:56
Terça-feira, 19 de Outubro de 2004

O mundo parece cada vez mais pequeno. Sabido é, contudo, que cada vez mais é uma grande sociedade em contínuo desenvolvimento (assimétrico, diga-se), composto por pessoas em permanente simbiose com as tecnologias (também em constante up grade); pessoas que, de todo, não são mais um recurso humano, antes são a organização, também ela em constante mudança; tão constante quanto o filósofo a definia: nada há de mais constante que a mudança.

 

Razões profissionais, levaram-nos a Salvador (os portugueses teimam em chamar-lhe de São "já faz tempo que a santidade caiu" Logo repliquei :- pois sim, nós por lá também dizemos que dinheiro e santidade é sempre menos de metade. Uma semana, agitada, que nos permitiu observar não só ao que íamos, mas também de quão numerosos são os investimentos promovidos ali pelos portugueses. Por lá encontrámos quem oportunidades de negócio procure.

 

Sem embargo de nossa admiração, a dado passo, o nosso interlocutor, Durival, fez notar que o Brasil está a ser redescoberto pelos portugueses já que as distâncias não são nenhum óbice, o Brasil tem tudo; bom tempo, espaço, matérias-primas, mão d’obra, regime fiscal não muito penalizador, etc.

 

A propósito também não deixou de causar admiração; porquanto vimos afixado numa carrinha da Secretária da Fazenda “faça sua denúncia fiscal, seguida do número telefone”. O que dá para concluir que também o Brasil pretende moralizar a fiscalidade.

 

Naquela semana, quadragésima, decorria a campanha para o 1º turno eleitoral das autárquicas (Prefeitura) e, assim, demos conta do seu modus faciendi; para além de prolixos cartazes, os candidatos esgrimem argumentos em ordem a cativar votantes e assim, além do nome, identificados são por específico número.

 

A imprensa local dava conta de que José Genuíno, presidente nacional do partido xis deslocar-se-ia a Salvador em missão de apoio e desde logo adiantava que o grupo de trabalho eleitoral “recomendava menos salto alto e mais atenção aos …”. Ou seja, mais do que simpatia o pragmatismo.

 

Os brasileiros – da Bahia - continuam a ver os portugueses como gente bem vinda, com quem sem esforço travam relações de cordialidade. E, por sua vez, os portugueses que dizem achar-se perseguidos por cá – em questões fiscais – parecem, de facto, estar a redescobrir as terras de D. Pedro onde há espaço para tudo. E organização te-la-ão? 

 

Leiria, 2004.10.19



publicado por Leonel Pontes às 00:45
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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