Era princípio de tarde, pouco faltava para que o dia caísse mas, ainda assim, a iluminação pública já estava ligada e o tom barrento dos edifícios apardacentava ainda mais o tempo; burrinhava e ventava. Ao encaminharmo-nos para o automóvel que nos haveria de levar ao hotel, o motorista logo fez questão de chamar a atenção que dever-se-iam seguir as linhas paralelas sobre o alcatrão pintadas, como quem diz, se há regras estas são para cumprir. Acompanhava-me forte curiosidade em ver – e saber - de onde provinha o tão falado sucesso de um pequeno país que ainda não há 50 anos vivia tão-só da agricultura e da pastorícia.
Entrados no automóvel o motorista começou por falar nalguns pontos de referência da cidade, ao mesmo tempo manifestava satisfação por ter na sua terra, Dublim, a selecção principal de futebol de Portugal. À noite, a pé, dirigimo-nos ao estádio, que afinal ficava ali perto, e, antes de assistir ao treino fomos recebidos na sala de visitas do estádio e aí demos conta que o centenário clube nunca tivera um Presidente por mais de dois anos, assim documentava uma galeria de fotos. No dia seguinte, mais ou menos, um quarto de hora antes do jogo não havia quase ninguém no estádio, mas eis se não quando - por debaixo de uma das bancadas - pára o comboio parindo aí gente que num ápice engrossou os 44 mil e tantos assistentes. Isto já sabem, os irlandeses ganharam, grande era a sua satisfação. Pouco tempo depois, o estádio voltava a estar despido.
Entretanto soubemos, assim no-lo disseram, a Irlanda tem uma população pouco superior a 4 milhões de habitantes, o crescimento do PIB é na ordem de 5%, a inflação ronda os 2%, têm rendimento per capita próximo dos 50 mil euros. Um nível de vida comparável ao da Suécia. Enfim, dava para ver que estamos perante um povo que vive muito bem e pese embora o tempo sombrio o povo irradia bem-estar. Um outro pormenor de somenos e por isso vale o que vale, em Março passado entrou em vigor a lei anti-tabágica e os serviços de saúde congratulam-se porque à volta de 97% dos cidadãos cumprem, sem esforço, o que estabelecido está.
Falar das questões fiscais pouco adianta porque já todos sabemos que a Irlanda tem taxas diferenciadas relativamente a alguns outros países da Europa dos 25, dizer que ali aporta muito investimento estrangeiro todos sabemos, dizer que as rodovias são incomensuravelmente mais pobres do que as nossas é outra realidade, dizer que só agora estão a fazer uma via rápida do aeroporto para a cidade é outra realidade, dizer que estão agora – só agora – a receber, mas de modo muito controlado, os primeiros emigrantes é outra verdade. E dizer ainda e também que dali saem todos os anos para o nosso Algarve e também para Óbidos elevado número de turistas, nomeadamente amantes do golfe é outra verdade. Enfim!
Enquanto isto, não dei conta de ver polícia no estádio, não me perguntem como fardam porque não os vi pelas ruas, nem em lado nenhum, e vim embora sem saber se a Irlanda tinha polícia. Também podia ter perguntado, mas para quê!
A minha curiosidade era; de onde provem o sucesso daquele pequeno país? Pelo que ouvi, observei e vi, só pode ser de uma coisa, tão simples quanto isto; educação pública.
Leiria, 26.02.2005