Sábado, 26 de Fevereiro de 2005

Era princípio de tarde, pouco faltava para que o dia caísse mas, ainda assim, a iluminação pública já estava ligada e o tom barrento dos edifícios apardacentava ainda mais o tempo; burrinhava e ventava. Ao encaminharmo-nos para o automóvel que nos haveria de levar ao hotel, o motorista logo fez questão de chamar a atenção que dever-se-iam seguir as linhas paralelas sobre o alcatrão pintadas, como quem diz, se há regras estas são para cumprir. Acompanhava-me forte curiosidade em ver – e saber - de onde provinha o tão falado sucesso de um pequeno país que ainda não há 50 anos vivia tão-só da agricultura e da pastorícia.

 Entrados no automóvel o motorista começou por falar nalguns pontos de referência da cidade, ao mesmo tempo manifestava satisfação por ter na sua terra, Dublim, a selecção principal de futebol de Portugal. À noite, a pé, dirigimo-nos ao estádio, que afinal ficava ali perto, e, antes de assistir ao treino fomos recebidos na sala de visitas do estádio e aí demos conta que o centenário clube nunca tivera um Presidente por mais de dois anos, assim documentava uma galeria de fotos. No dia seguinte, mais ou menos, um quarto de hora antes do jogo não havia quase ninguém no estádio, mas eis se não quando - por debaixo de uma das bancadas - pára o comboio parindo aí gente que num ápice engrossou os 44 mil e tantos assistentes. Isto já sabem, os irlandeses ganharam, grande era a sua satisfação. Pouco tempo depois, o estádio voltava a estar despido.

 Entretanto soubemos, assim no-lo disseram, a Irlanda tem uma população pouco superior a 4 milhões de habitantes, o crescimento do PIB é na ordem de 5%, a inflação ronda os 2%, têm rendimento per capita próximo dos 50 mil euros. Um nível de vida comparável ao da Suécia. Enfim, dava para ver que estamos perante um povo que vive muito bem e pese embora o tempo sombrio o povo irradia bem-estar. Um outro pormenor de somenos e por isso vale o que vale, em Março passado entrou em vigor a lei anti-tabágica e os serviços de saúde congratulam-se porque à volta de 97% dos cidadãos cumprem, sem esforço, o que estabelecido está.

 Falar das questões fiscais pouco adianta porque já todos sabemos que a Irlanda tem taxas diferenciadas relativamente a alguns outros países da Europa dos 25, dizer que ali aporta muito investimento estrangeiro todos sabemos, dizer que as rodovias são incomensuravelmente mais pobres do que as nossas é outra realidade, dizer que só agora estão a fazer uma via rápida do aeroporto para a cidade é outra realidade, dizer que estão agora – só agora – a receber, mas de modo muito controlado, os primeiros emigrantes é outra verdade. E dizer ainda e também que dali saem todos os anos para o nosso Algarve e também para Óbidos elevado número de turistas, nomeadamente amantes do golfe é outra verdade. Enfim!

 Enquanto isto, não dei conta de ver polícia no estádio, não me perguntem como fardam porque não os vi pelas ruas, nem em lado nenhum, e vim embora sem saber se a Irlanda tinha polícia. Também podia ter perguntado, mas para quê!

 A minha curiosidade era; de onde provem o sucesso daquele pequeno país? Pelo que ouvi, observei e vi, só pode ser de uma coisa, tão simples quanto isto; educação pública.

 Leiria, 26.02.2005



publicado por Leonel Pontes às 12:10
Domingo, 13 de Fevereiro de 2005

Leiria e o seu castelo foram palco de relevante evento de âmbito desportivo ao receber o escocês Ernie Walker - esposa e filho -um dos mais ilustres membros da União Europeia do Futebol, personalidade que teve a seu cuidado – a par de outros - o pelouro de estádios e nesse papel acompanhou a edificação das estruturas que receberam no Verão passado esse evento de boa memória que foi o EURO 2004. Com efeito, a Federação Portuguesa de Futebol escolheu a cidade do Lis para homenagear aquele técnico, na sequência de deliberação de Assembleia-geral da FPF que aprovou por unanimidade e aclamação a atribuição da medalha de ouro ao mérito internacional àquele amigo de Portugal. 

E, sem embargo de opiniões cépticas, quanto ao futebol este por princípio é exercido a coberto de actividade lúdica, mas também o é, sem quaisquer dúvidas uma actividade económica, à qual alguém já chamou de negócio emergente. E assim o país está dotado de um conjunto de infra-estruturas que bem podem carrear para cá demais actividade económica, como seja o turismo, e precisamente por isso em Maio próximo, o país – Estádio de Alvalade - receberá milhares de cidadãos estrangeiros para assistir à final da UEFA cup’s, posto que o nosso país foi o escolhido para assegurar aquele evento exactamente porque goza de um conjunto de condições para acolher tão importante prova desportiva

E, pese embora o que de bom no país temos para oferecer – que não só os estádios, rodovias ou gastronomia - a quantos demandam a Portugal para assistir a eventos desportivos como de resto provado ficou durante o EURO 2004, por certo muito ainda temos por fazer em matéria de organização que não só a de âmbito desportivo, e tanto assim é, quanto é certo que a organização não se copia, estuda-se, testa-se, implementa-se, exige-se; em suma a organização trás prosperidade.

E deixem-me que vo-lo relembre, o primeiro milénio foi caracterizado pelo milénio dos almocreves, ninguém tem dúvidas, mas também ninguém duvidará que o nosso será o milénio “da organização” e só com esta podemos vencer competindo a par de outros adversários, porquanto a nossa era haverá de ficar para a história pela era da competitividade - e competitividade é fazer no menor tempo possível, é fazer bem, mas fazer bem sempre à primeira vez.

E, já agora, a propósito do nosso estádio – estou a opinar enquanto leiriense – sobre o qual nunca teci opinião negativa, fosse onde fosse – a não ser o do local, e porventura hoje comece a ter diferente opinião - nem tão pouco do modelo de gestão ou dos prejuízos vem gerando, ou de quaisquer outras razões e muitas são a aferir pela imprensa, e não só, oferece-me dizer – dizer não perguntar - ao Senhor Vereador do Desporto da Câmara Municipal de Leiria, uma vez que não fala, pode-o dizer de modo público – porque veda a minha entrada no Magalhães Pessoa, quando como sabe – por razões que não vêm agora a discussão - usufruo de livre entrada nos estádios nacionais. Deixo adjectivações para melhor oportunidade. 

Leiria,13.02.2005



publicado por Leonel Pontes às 10:23
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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