“… a elevação a Vila é sempre o corolário lógico de um trabalho levado a efeito por todos aqueles que estiveram a montante de um processo, ou seja; poder-se-á dizer que o trabalho realizado há meio século atrás já era o contributo para o engrandecimento da freguesia”
Quando expendi esta opinião, para o “Região de Leiria”, por ocasião da elevação de Monte Redondo a Vila, pensava num conjunto de pessoas que deram o melhor de si para a edificação de uma aldeia que já foi importante (muito) no panorama económico e social da região de Leiria.
E, por isso ouso lembrar uma plêiade de homens que a Monte Redondo aportaram por haverem visto que, por estas paragens, poderiam fazer vida e porque importante foi o seu contributo para a vila que hoje somos. Ouso cita-los, ainda que de modo breve, em jeito de singela homenagem porque com eles cresci, trabalhei e aprendi, e, um pouco do que sou bebi-o na sua escola.
Gomes de Carvalho, industrial de madeiras, estanceiro em Lisboa, pioneiro de transportes públicos e de seguros, trouxe de fora quadros como Manuel Moutinho, relações públicas para as actividades com o estrangeiro; José Maria d’Oliveira, guarda-livros; José Tavares Nobre, tesoureiro.
Albano Alves Pereira, industrial de exploração mineira (pedreiras de Monte Redondo) e funerária.
Paiva de Carvalho, médico. A menina (ainda que sempre a tivesse conhecido muito velha) Isilda, drogaria. O tio José dos Santos, espingardaria.
Afonso Crespo, farmacêutico. Silvestre, talhante. José dos Santos, também conhecido pelo Zé do Regato, comerciante. António Ramalho, industrial. Todos, a seu tempo, foram deixando a aldeia – porque a vida é um tempo escasso que nem sempre aproveitamos e gozamos da melhor maneira -, sendo que o Ramalho dessa vasta plêiade de imigrantes, foi o último a deixar esta Vila.
Por certo que todos gostariam de dizer “presente” na cerimónia pública, a ter lugar no próximo dia 13, de elevação a Vila que foi (é) sua e aqui deixaram raízes.
Quando tudo era longe, a circunstância de a linha do Oeste, ter estação – para onde todos os caminhos afluíam - em Monte Redondo, foi por certo uma das razões, senão a primeira para que esta terra alicerçasse o seu crescimento com as iniciativas daqueles ilustres obreiros.
Daí que, sem embargo de olhos diferentes dos meus, continuo a ver o progresso desta terra em passo lento. Aliás, por um conjunto de razões que vêm de todo a propósito, mas que não cabem agora dissecar, em tempo que já vai longe num contexto da edificação de uma estação de gaz a levantar por cá, Proença ao tempo Presidente da Câmara Municipal de Leiria aqui veio dizer, em específica sessão, clara e publicamente que estavam tomadas as primeiras e todas as iniciativas para a construção de um parque industrial no norte do concelho, concretamente em Monte Redondo, que diga-se, tarda.
E, ainda a propósito, Lemos Proença, não foi um imigrante em Monte Redondo, mas vindo lá de Sernancelhe, por aqui consumiu uma parte da sua vida organizando e instalando a rede eléctrica e bem recordados estamos da alegria que era (foi) deixar o candeeiro e a torcida no zimbório, o petróleo tornou-se dispensável.
Importantes eram, pois, as palavras de circunstância por ocasião das cerimónias alusivas às inaugurações, sempre seguidas de broa assardinhada e tinto cá das areias, entre o mais. E dizia-se; agora é que isto vai, temos mão d’obra, vontade de trabalhar e luz, muito luz… mas ainda assim os nossos conterrâneos – um outro capítulo - debandaram para outras paragens. E verdade se diga, continuamos com luz ténue e distante.
Aos que partiram fica-nos a saudade neste momento solene. A quantos por esta terra alguma coisa fizeram esperamos que não (nunca) sejam ignorados. Aos meus amigos da neófita Vila de Monte Redondo, e seus vinte e nove lugares, a todos direi, ao jeito do que referia o filósofo “um homem só vale se houver feito obra”.
A vida também tem balanço (económico-financeiro) e os activos são as obras deixadas, que não forçosamente e só as tangíveis.
Leiria, 5.03.2005