Fim de tarde; a esta hora, deveria estar presente na inauguração do relvado sintético do “Afonso de Lacerda” – antigo Secretário-Geral da FPF - em Figueiró. Pedi escusa. Confesso que os dias são exigentes, e uma tarde de Domingo sabe bem, e é necessária para oxigenar, para reflectir; é sempre um tónico para uma nova semana.
Enquanto isto, tropeçam a meus olhos duas personagens como que a dizer: o tempo de veraneio está de abalada, agora o bom seria termos um futuro! O tempo de espera já começa a cansar, os dias vão passando, os sonhos vão-lhe no encalço. Passou-se mais um verão e as perspectivas continuam sombrias. Dizem que vão fechar mais empresas.
Duas interessantes personagens; um jovem casal (sem futuro, já o disseram) por sinal com nomes velhos, que nem dão para apaparicar com diminuitivos. Ela pelo baptismo recebeu Paciência, ele Boamorte. Mas porquê Boamorte! E dizia, conheço é um Mortelenta, um descansado, vive a vida como ela lhe vem, de expedientes. Boamorte até parece nome de cantor rap, não é! Oh Paciência, tu és aquela que me falta!
E opinavam sobre o estado da economia atribuindo-lhe a sua (deles) pouca sorte e descodificavam o guru “Ikujiro” que na Harvard Business Review disse que “numa economia onde a única certeza é a incerteza, a única fonte segura de vantagem competitiva é o conhecimento”. E, dizia o Boamorte: - é preciso ter paciência, um Ikujiro deu-se ao trabalho de trazer a debate questões de gestão, quando nós por cá somos uns morte lentas, o que mais querem é política de tacho, agora competitividade!
E, retorquia a Paciência: - e pensas tu que vamos nós portugueses chegar a algum lado, olha-me só nisto! Cá, a governar temos um Sócrates. Se quisermos fugir para a Europa (a da união) temos um Durão. Mas, se quisermos fugir desta … (desta quê?), se quisermos ser refugiados, quem é controla os refugiados, é o Guterres! Estás a ver porque nós estamos mal, é tudo portugueses a mandar. Vê-me só, até o Pinto do Porto trouxe um Co de fora. O fixe era que também tivéssemos cá gente de fora a governar, poderíamos fazer um outsourcing para gestão e contas certas. Até a Isabel disse isso, não foi! As contas lá da loja dela não estão mal! Só estariam se fosse uma empresa internacional a dizer-lho. Foi o que ela disse no jornal, então não viste! Foi, foi; vi!
Boamorte esgotado e sem qualquer paciência para tanta confusão que por aí vai, quase telegraficamente, disse: - Olha Paciência, para mim emprego é, negativo; saldo no cartão de crédito está, negativo; cobres para uns cigarritos, negativo; chope-chope no frigorífico, negativo. Ao menos valha-me …, olha o exame ao HIV é, positivo. Como vês, tenho alguma coisa, positivo! Pois é, disse Paciência: - Oh Boamorte, tenhamos paciência vamos ter um lindo enterro!
Se eu tivesse ido àquela inauguração nem sabia o que perdia, pelo menos não sabia o que pensavam estas simpáticas personagens. Oh! Paciência acompanha lá o Boamorte, também já me falta paciência para esta gente, mas que vamos ter um lindo enterro, também me parece que sim!
Leiria, 28 Agosto 2005