Domingo, 28 de Agosto de 2005

Fim de tarde; a esta hora, deveria estar presente na inauguração do relvado sintético do “Afonso de Lacerda” – antigo Secretário-Geral da FPF - em Figueiró. Pedi escusa. Confesso que os dias são exigentes, e uma tarde de Domingo sabe bem, e é necessária para oxigenar, para reflectir; é sempre um tónico para uma nova semana.

 

Enquanto isto, tropeçam a meus olhos duas personagens como que a dizer: o tempo de veraneio está de abalada, agora o bom seria termos um futuro! O tempo de espera já começa a cansar, os dias vão passando, os sonhos vão-lhe no encalço. Passou-se mais um verão e as perspectivas continuam sombrias. Dizem que vão fechar mais empresas.

 

Duas interessantes personagens; um jovem casal (sem futuro, já o disseram) por sinal com nomes velhos, que nem dão para apaparicar com diminuitivos. Ela pelo baptismo recebeu Paciência, ele Boamorte. Mas porquê Boamorte! E dizia, conheço é um Mortelenta, um descansado, vive a vida como ela lhe vem, de expedientes. Boamorte até parece nome de cantor rap, não é! Oh Paciência, tu és aquela que me falta!

 

E opinavam sobre o estado da economia atribuindo-lhe a sua (deles) pouca sorte e descodificavam o guru “Ikujiro” que na Harvard Business Review disse que “numa economia onde a única certeza é a incerteza, a única fonte segura de vantagem competitiva é o conhecimento”. E, dizia o Boamorte: - é preciso ter paciência, um Ikujiro deu-se ao trabalho de trazer a debate questões de gestão, quando nós por cá somos uns morte lentas, o que mais querem é política de tacho, agora competitividade!

 

E, retorquia a Paciência: - e pensas tu que vamos nós portugueses chegar a algum lado, olha-me só nisto! Cá, a governar temos um Sócrates. Se quisermos fugir para a Europa (a da união) temos um Durão. Mas, se quisermos fugir desta … (desta quê?), se quisermos ser refugiados, quem é controla os refugiados, é o Guterres! Estás a ver porque nós estamos mal, é tudo portugueses a mandar. Vê-me só, até o Pinto do Porto trouxe um Co de fora. O fixe era que também tivéssemos cá gente de fora a governar, poderíamos fazer um outsourcing para gestão e contas certas. Até a Isabel disse isso, não foi! As contas lá da loja dela não estão mal! Só estariam se fosse uma empresa internacional a dizer-lho. Foi o que ela disse no jornal, então não viste! Foi, foi; vi!

 

Boamorte esgotado e sem qualquer paciência para tanta confusão que por aí vai, quase telegraficamente, disse: - Olha Paciência, para mim emprego é, negativo; saldo no cartão de crédito está, negativo; cobres para uns cigarritos, negativo; chope-chope no frigorífico, negativo. Ao menos valha-me …, olha o exame ao HIV é, positivo. Como vês, tenho alguma coisa, positivo! Pois é, disse Paciência: - Oh Boamorte, tenhamos paciência vamos ter um lindo enterro!

 

Se eu tivesse ido àquela inauguração nem sabia o que perdia, pelo menos não sabia o que pensavam estas simpáticas personagens. Oh! Paciência acompanha lá o Boamorte, também já me falta paciência para esta gente, mas que vamos ter um lindo enterro, também me parece que sim!

 

Leiria, 28 Agosto 2005



publicado por Leonel Pontes às 14:01
Terça-feira, 23 de Agosto de 2005

Em pousio, eu, claro que não! Gostaria ainda de fazer metade, apenas metade, do quanto desejaria fazer. E, sem quaisquer dúvidas, cada dia que passa – todos nós - mais temos por fazer. Aliás, o trabalho fortifica-nos e o prazer gasta-nos.

 

Grandes têm sido os prazeres e por estes gastos estamos. Com que delícia se aceita a promessa fácil. É um consolo ver que o país continua em queda de produção. É um regalo ver o endividamento a subir, que não só o das famílias. E, como se ninguém desse conta, vem agora o Banco de Portugal informar que o deficit das autarquias triplicou em relação ao período homólogo do ano passado (1º semestre). É um prazer saber que os dinheiros mal aplicados, ainda assim, hão-de trazer um enternecedor retorno financeiro; que não se perca a fé. É uma alegria ver os cofres do estado a mirrar. É uma risota constatar que o que mais se deseja é escapar do trabalho e daí alcandoram-se as reformas antes de tempo.

 

Longo será o pousio em que nós – cidadãos do meu país – caímos. A inacção política, em termos de organização, não explica tudo. Somos assim, somos dados às coisas do fado, e às crenças sebastiânicas.

 

E assim vemos o país virar terra queimada. A natureza foi inclemente e trouxe-nos muito calor - precisava-se de algum para gozar os prazeres da fímbria marítima -, mas não tanto. E, pronto, lá se foram as colheitas da nossa agricultura. O que granjeámos para enceleirar? Depois vieram os fogos. Mas não se deixou de cuidar da floresta, há muito? Quantos milhões de euros são pagos a pretexto de suprir um desemprego – de nada haver para fazer. Não há? - a quem nada faz.

 

Dir-se-à que; privilegiem-se prazeres (que não só os da carne), renegue-se o trabalho, promova-se o endividamento, busque-se o lazer. Mas, meu Deus, não podemos cair nessa e por isso, escutei “humanos” do despedido Variação e aí encontrei fundamentos para o meu pensamento; teias existem, que obstam o viver, e nos consomem e por isso caindo vamos na lama e a culpa é da vontade dos humanos. Com todo o respeito … nem sei se tais variações são em dó, se de dó.

 

Ninguém pode cair em pousio, não podemos virar a cara ao trabalho – se temos tudo por fazer! - esperando que alguém faça a nossa parte. Exija-se, disciplina, rigor, transparência e acima de tudo verdade.

 

Leiria, 23 Agosto 2005



publicado por Leonel Pontes às 16:18
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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