Domingo, 30 de Outubro de 2005

Aos vinte e nove dias de cada mês, há a feira dos “29” em Monte Redondo. Poderia dizer-se também que a feira de “Monte Redondo” é dos 29. Mas, por convenção centenária, os “29” é feira em Monte Redondo. Ali (aqui) nos “29” há de tudo. E, porque de tudo havia, diziam até os antigos “então traz-me de lá uma canga!” Uma canga era um apetrecho só encontrado numa feira de categoria onde, obviamente, não podia faltar o gado corno; muito procurado para as lides agrícolas.

 Sábado, 29 de Outubro, fui aos “29” o que há muito não acontecia. Ainda mal entrava e logo houve quem viesse observar “por cá, hoje! no mês passado é que vieram cá todos, vieram à mama dos votos. Promessas!” E, terréu téu-téu conversa p’ra cá e para lá; lá foram dizendo “olha só prometem barba de milho, é o que é. Estão lá para dar alguma coisa a alguém? Só pensam é neles!”

Enfim. Como não sou surdo, fui ouvindo! E andando continuava a dar de caras com caras que há muito não via. E outros comentários vinham, “eh pá, isto tem p’raqui lama como porra!” Enfim, os “29” continuam a ser um lugar de encontro, de palreio mas sobretudo um espaço para do pequeno negócio que vai, desde o pronto a vestir, à mobília com mochos, aos produtos de jardim, ao gado corno, às ferramentas, às panelas e tachos para todos os gostos, às tascas do desengano. De tudo ali se pode encontrar. Todavia,

Ultimamente não se tem falado de outra coisa que não sejam o vírus das aves; dizem que é um grave (quando o for!) problema de saúde púbica, que só em Leiria (talvez distrito, será?) poderá arrumar com um milhar de almas; é o que já se diz. Na feira dos “29” de facto não vi aqueles galos capões, como os do outro tempo; nem galinhas, nem pintos (os mais velhos ainda lhe chamam pitos), nem passarinhos de companhia.

Havia, isso havia, abonada correnteza de jaulinhas com coelhos. Mas também havia, de entre o povo quem perguntasse se íamos à cata de pintos. E há! Perguntei. “Há, vá ali dentro que há” E, de facto sonegados lá estavam. E, este ano haverá Natal? Haverá com toda a certeza mas sem peru, porque também entraram de quarentena.

 Já de regresso lembrei-me do Sócrates – não do Primeiro-Ministro de Portugal –, mas do Sócrates grego que foi à feira lá do burgo, coisa estranha para o seu povo que logo o questionou “então, Sócrates, por aqui, acaso destes conta de algo de novo?”. O filósofo, respondeu “não, nada de novo, apenas estou admirado com tanta coisa que vejo e que não me faz falta nenhuma!”

 Os “29”, como outras, não são feiras do consumismo, são locais onde mercadejamos, por isso fazem falta ao nosso povo, para muitos únicas fontes de rendimento. E, pese embora o vírus das aves merecer atenções, tais precauções devem ser asseguradas na justa medida das necessidades; sem cagaços. Lá diz o sábio povo que “animal de bico nunca deixou o dono rico”. Mas, ainda assim faz falta na gestão caseira e culinária de todos. Um corte cerce, uma degola destas é prejuízo a mais; ainda não existem viricas evidências.

 Não existirão por aí outros vírus que mais precisam de combate; a sida. E, acaso meteram polícia, por exemplo, por essas estradas fora onde proliferam putas às resmas autênticos atentados à saúde pública. Ah! mas a essas só vai quem quer, se apanharem vírus é porque querem. E as aves, essas também só hão-de ser comidas por quem quiser; não é!

 Faça-se o que acharem de melhor, implementem as medidas que entenderem, mas eu entendo que posso continuar a comer aves de capoeira e, se nos próximos “29” tiver disponibilidade lá voltarei. Se por lá existir petisco de frango, comerei. Vamos à feira!

Leiria, 2005 Outubro 30

 

 



publicado por Leonel Pontes às 16:30
Segunda-feira, 17 de Outubro de 2005

Velha é a história da freguesia de Monte Redondo – história que não ousarei interpretar nem dela dar relato, o que seria, estou certo, grave atropelo aos historiadores – data de 1589. Insatisfeitos pelas longas caminhadas a que se viam obrigados, nomeadamente para pagarem os seus tributos, “a pedido dos moradores da parte norte da freguesia do Souto, foi criada uma nova freguesia: a de Monte Redondo, cujo orago é a Nossa Senhora da Piedade. O que até então fora o “casal” de Monte Redondo passou a freguesia.

 

Com as vicissitudes por que as terras e as suas gentes sempre passam, também Monte Redondo não fugiu à regra e alguns séculos mais tarde – repetimo-nos, séculos -, precisamente, em Novembro 1939, o jornal “A Voz do Domingo” traça um quadro airoso – para a época! - sobre esta terra e, entre o mais, diz que “sob o ponto de vista económico Monte Redondo encerra as primeiras fortunas do concelho sem se notar o pauperismo que envergonha outras terras”. E, mais dizia que “ainda recentemente vem juntar-se-lhe uma população de à volta de 200 operários para a exploração de ofite”.

 

Monte Redondo foi uma terra de imigrantes, e, hoje quase não existe uma família neste burgo que não tenha ascendência aos velhos trabalhadores, provindos do norte do país, e que à exploração mineira, sita em Montijos, mais conhecida pelas “pedreiras”, aportaram. As terras desenvolvem-se pela acção das populações e do empreendedorismo dos ousados. Volvidos muitos anos, a freguesia continua a receber imigrantes, provindos não do norte do país mas, de origens bem mais longínquas, gentes do lado de lá da derrubada cortina de ferro, do lado de lá do Atlântico, do Brasil ou de África. Assim acontece por todo o país, ou quase. E, por amor à verdade diga-se que o contrário também é verdade, ou seja; também muitos Monterredondenses partiram para outras paragens em busca de melhor vida.

 

Mas, os movimentos migratórios não pressupõem uma dinâmica de crescimento em aspiral; são o que são e valem o que valem ao seu tempo. Daí que, dizer-se que «Monte Redondo é uma mini-cidade e neste momento tem todas as condições para ter vida própria, uma vez que presta um conjunto de serviços que a torna praticamente auto-sustentável» vai longa distância. Que sejamos ambiciosos e orgulhosos das nossas terras, dos nossos feitos é louvar que ninguém poderá usurpar, mas tenhamos a lucidez de perceber que aos nossos dias somos uma freguesia cheias de carências.

 

Por isso, o acto eleitoral “autárquicas 2005” determinou que os actores políticos locais dessem lugar à mudança. E, não se poderá dizer que o povo foi ou é ingrato; não, o povo sabe o que faz e bem compreende as arrogâncias de quem no poder político é colocado. Aliás, no dizer do filósofo “não há nada mais permanente que a mudança”, crê-se que também em matéria de política, daí que a todo o momento poderá corrigir trajectórias ajustando-as às realidades e necessidades das populações.

 

As mulheres, que em última – ou primeira? – instância são quem detêm o governo da família, por isso sabem do que falam (algumas, nem sempre sabem!). Com efeito um grupo de mulheres – tantas quantas 22 - com provas dadas na vida política, empresarial, laboral, social e familiar atiraram-se à luta com um projecto de renovação e requalificação para a freguesia, tiveram a coragem e o arrojo em afrontar e enfrentar poderes instalados, deitaram pernas ao caminho e venceram o desafio de conquistar o poder político. Não deixa de ser louvável. Agora espera-se que não se fechem em si, e não pensem que só o que a sua cabeça dita é o correcto. Ouvir, ouvir e resolver as necessidades locais é um honroso acto de gestão.

Espera-se que Monte Redondo seja efectivamente uma Vila, que continue a história. Vossas merçês, mulheres de armas, já fizeram história. E, 22 podem fazer coisa que se veja. Estamos p’ra ver!

 

Leiria, 2005 Outubro 17



publicado por Leonel Pontes às 16:18
Sábado, 15 de Outubro de 2005

A coisa já arrefeceu, mas foi notícia. O país inteiro da base ao topo deu o seu bitaite. Desta vez foi o sopapo, ou o gesto - o que vai dar no mesmo - do seleccionador nacional. Foi pena, mas aconteceu! Poder-se-á dizer que foi um mau momento na vida do homem, mas todo o homem que é homem, por certo, já experimentou um dia aziago; deu um murro na mesa. Todavia, aquele, em Portugal, sempre pugnou pelas boas práticas e sobretudo pelo fair paly. E, nas lições que professa segue uma matriz racional com vinte atitudes, cremos que todas elas provindas da escola do seu guru, o professor motivacional Gretz. Mau grado, todo o seu saber e empenhamento que a missão exige, negligenciou uma, apenas uma; o autodomínio, atitude que um outro guru do comportamento motivacional previlegia; o americano Daniel Goleman.

 

 

Provocado, num instante deixou vir ao cimo, um ponto fraco que num ápice se tornou num ponto forte para a imprensa, mormente para a imprensa desportiva. E, vai daí, sem o esperar adquiriu matéria-prima a custo zero – aliás não é caso único no panorama nacional porque no que somos mesmo bons é em notícias bombásticas. A imprensa sérvia, nada de relevante disse, o seu Presidente da República estava a ver o jogo aqui, em Portugal e, eventualmente, ter-se-á arrepiado no momento, mas logo pensou, isto é futebol! E, depois escrevem, escrevem que se desunharam e vendem e venderam jornais a esmo. Viram, reviram, esfolam, fazem vitimas, encomendam-nos, dão-lhes enterro, dão-lhes bênçãos. Enfim, escrevem. E, se ao menos, muitos desses escritos, e até dos ditos, estivessem em bom português, por certo, não nos deliciaríamos com os conteúdos, mas arregalávamo-nos com a forma.

 

 

E, em consequência vem sempre a eterna história de dizerem que andamos nós, portugueses, a pagar impostos para isto! Pois bem, já agora, deixem-nos que vo-lo digamos, a FPF é uma Instituição de Utilidade Pública e de Utilidade Pública Desportiva, mas tal não pressupõe que esteja a coberto dos fundos do orçamento do estado. Tem, boas relações com a tutela, procura tê-las de modo irrepreensível com todos os intervenientes no fenómeno desportivo, mas daí a consumir o dinheirinho dos contribuintes, isso nunca. Celebra, convêm dize-lo, contratos-programa específicos, os quais não chegam a pesar seis por cento no orçamento da instituição. E, o que paga em impostos, nem é menos do que recebe, ou seja; chega a ser contribuinte líquido. Ironicamente até diríamos que, se por um acaso, o estado deixasse dos celebrar, teria muito mais custos, porque é bom que se saiba que quem está no desporto, presta um serviço de relevo ao país dando ocupação cívica a milhares de jovens que de outro modo perder-se-iam na penumbra dos malefícios que a sociedade lhes oferece. Mas, infelizmente, não há bela sem senão!

 

 

Outrossim, não fora o bom-nome da Selecção “AA” jamais poderíamos vender um cêntimo de patrocínios. E, para que isso aconteça, para que esse produto seja vendável são necessários quadros bons, bons técnicos, bons tudo, de outro modo - e lembro que ainda não vai longe o tempo que o dinheiro para salários era uma aflição - estaríamos falidos. E, pelo trabalho de muitos hoje paga os seus compromissos a tempo e horas, goza de crédito e de credibilidade, é respeitada e leva o nome de Portugal por todo o mundo, sigam-lhe o rasto e vendam também outros produtos nacionais!

 

 

Portanto, se todos fizerem como alguns opinion maker tínhamos mais uma empresa igual a muitas outras mais; insolventes (agora até têm um código novo de insolvência). E esses que por teimosia fazem opinião em vez de informação, a esses, lembramos que é bom olharem para dentro da sua casa, já que vivem às custas do dinheiro dos portugueses, esses sim, tal seja a estação pública de informação que recebeu dos cofres do estado o ano passado, segundo apurámos do seu Balanço de 2006 mais de 200 milhões de euros de fundos públicos. Da gestão não ousamos falar, mas não deveriam autofinanciar-se?

 

 

Em suma, às vezes, mesmo com autodomínio, é preciso dar um murro na mesa e o seleccionador nacional não tinha razão para dar o seu, mas infelizmente esticou o braço a Dragutinovic. Paciência. Quem não gosta da selecção de todos nós, sempre haverá de encontrar uma razão para depreciar. Antes de opinarem informem-se. Em nada nos anima o estado do país, por isso defendemos a marca Selecção Nacional. E, já agora, se quiserem, vamos fazer um Portugal novo. Mas é preciso trabalhar, dando inclusivé um murro na mesa, se caso disso!

 

Leiria, 2007.10.15

in intemporal(idades) |  pag. 211  |  2008



publicado por Leonel Pontes às 16:11
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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