Aos vinte e nove dias de cada mês, há a feira dos “29” em Monte Redondo. Poderia dizer-se também que a feira de “Monte Redondo” é dos 29. Mas, por convenção centenária, os “29” é feira em Monte Redondo. Ali (aqui) nos “29” há de tudo. E, porque de tudo havia, diziam até os antigos “então traz-me de lá uma canga!” Uma canga era um apetrecho só encontrado numa feira de categoria onde, obviamente, não podia faltar o gado corno; muito procurado para as lides agrícolas.
Sábado, 29 de Outubro, fui aos “29” o que há muito não acontecia. Ainda mal entrava e logo houve quem viesse observar “por cá, hoje! no mês passado é que vieram cá todos, vieram à mama dos votos. Promessas!” E, terréu téu-téu conversa p’ra cá e para lá; lá foram dizendo “olha só prometem barba de milho, é o que é. Estão lá para dar alguma coisa a alguém? Só pensam é neles!”
Enfim. Como não sou surdo, fui ouvindo! E andando continuava a dar de caras com caras que há muito não via. E outros comentários vinham, “eh pá, isto tem p’raqui lama como porra!” Enfim, os “29” continuam a ser um lugar de encontro, de palreio mas sobretudo um espaço para do pequeno negócio que vai, desde o pronto a vestir, à mobília com mochos, aos produtos de jardim, ao gado corno, às ferramentas, às panelas e tachos para todos os gostos, às tascas do desengano. De tudo ali se pode encontrar. Todavia,
Ultimamente não se tem falado de outra coisa que não sejam o vírus das aves; dizem que é um grave (quando o for!) problema de saúde púbica, que só em Leiria (talvez distrito, será?) poderá arrumar com um milhar de almas; é o que já se diz. Na feira dos “29” de facto não vi aqueles galos capões, como os do outro tempo; nem galinhas, nem pintos (os mais velhos ainda lhe chamam pitos), nem passarinhos de companhia.
Havia, isso havia, abonada correnteza de jaulinhas com coelhos. Mas também havia, de entre o povo quem perguntasse se íamos à cata de pintos. E há! Perguntei. “Há, vá ali dentro que há” E, de facto sonegados lá estavam. E, este ano haverá Natal? Haverá com toda a certeza mas sem peru, porque também entraram de quarentena.
Já de regresso lembrei-me do Sócrates – não do Primeiro-Ministro de Portugal –, mas do Sócrates grego que foi à feira lá do burgo, coisa estranha para o seu povo que logo o questionou “então, Sócrates, por aqui, acaso destes conta de algo de novo?”. O filósofo, respondeu “não, nada de novo, apenas estou admirado com tanta coisa que vejo e que não me faz falta nenhuma!”
Os “29”, como outras, não são feiras do consumismo, são locais onde mercadejamos, por isso fazem falta ao nosso povo, para muitos únicas fontes de rendimento. E, pese embora o vírus das aves merecer atenções, tais precauções devem ser asseguradas na justa medida das necessidades; sem cagaços. Lá diz o sábio povo que “animal de bico nunca deixou o dono rico”. Mas, ainda assim faz falta na gestão caseira e culinária de todos. Um corte cerce, uma degola destas é prejuízo a mais; ainda não existem viricas evidências.
Não existirão por aí outros vírus que mais precisam de combate; a sida. E, acaso meteram polícia, por exemplo, por essas estradas fora onde proliferam putas às resmas autênticos atentados à saúde pública. Ah! mas a essas só vai quem quer, se apanharem vírus é porque querem. E as aves, essas também só hão-de ser comidas por quem quiser; não é!
Faça-se o que acharem de melhor, implementem as medidas que entenderem, mas eu entendo que posso continuar a comer aves de capoeira e, se nos próximos “29” tiver disponibilidade lá voltarei. Se por lá existir petisco de frango, comerei. Vamos à feira!
Leiria, 2005 Outubro 30