Segunda-feira, 17 de Outubro de 2005

Velha é a história da freguesia de Monte Redondo – história que não ousarei interpretar nem dela dar relato, o que seria, estou certo, grave atropelo aos historiadores – data de 1589. Insatisfeitos pelas longas caminhadas a que se viam obrigados, nomeadamente para pagarem os seus tributos, “a pedido dos moradores da parte norte da freguesia do Souto, foi criada uma nova freguesia: a de Monte Redondo, cujo orago é a Nossa Senhora da Piedade. O que até então fora o “casal” de Monte Redondo passou a freguesia.

 

Com as vicissitudes por que as terras e as suas gentes sempre passam, também Monte Redondo não fugiu à regra e alguns séculos mais tarde – repetimo-nos, séculos -, precisamente, em Novembro 1939, o jornal “A Voz do Domingo” traça um quadro airoso – para a época! - sobre esta terra e, entre o mais, diz que “sob o ponto de vista económico Monte Redondo encerra as primeiras fortunas do concelho sem se notar o pauperismo que envergonha outras terras”. E, mais dizia que “ainda recentemente vem juntar-se-lhe uma população de à volta de 200 operários para a exploração de ofite”.

 

Monte Redondo foi uma terra de imigrantes, e, hoje quase não existe uma família neste burgo que não tenha ascendência aos velhos trabalhadores, provindos do norte do país, e que à exploração mineira, sita em Montijos, mais conhecida pelas “pedreiras”, aportaram. As terras desenvolvem-se pela acção das populações e do empreendedorismo dos ousados. Volvidos muitos anos, a freguesia continua a receber imigrantes, provindos não do norte do país mas, de origens bem mais longínquas, gentes do lado de lá da derrubada cortina de ferro, do lado de lá do Atlântico, do Brasil ou de África. Assim acontece por todo o país, ou quase. E, por amor à verdade diga-se que o contrário também é verdade, ou seja; também muitos Monterredondenses partiram para outras paragens em busca de melhor vida.

 

Mas, os movimentos migratórios não pressupõem uma dinâmica de crescimento em aspiral; são o que são e valem o que valem ao seu tempo. Daí que, dizer-se que «Monte Redondo é uma mini-cidade e neste momento tem todas as condições para ter vida própria, uma vez que presta um conjunto de serviços que a torna praticamente auto-sustentável» vai longa distância. Que sejamos ambiciosos e orgulhosos das nossas terras, dos nossos feitos é louvar que ninguém poderá usurpar, mas tenhamos a lucidez de perceber que aos nossos dias somos uma freguesia cheias de carências.

 

Por isso, o acto eleitoral “autárquicas 2005” determinou que os actores políticos locais dessem lugar à mudança. E, não se poderá dizer que o povo foi ou é ingrato; não, o povo sabe o que faz e bem compreende as arrogâncias de quem no poder político é colocado. Aliás, no dizer do filósofo “não há nada mais permanente que a mudança”, crê-se que também em matéria de política, daí que a todo o momento poderá corrigir trajectórias ajustando-as às realidades e necessidades das populações.

 

As mulheres, que em última – ou primeira? – instância são quem detêm o governo da família, por isso sabem do que falam (algumas, nem sempre sabem!). Com efeito um grupo de mulheres – tantas quantas 22 - com provas dadas na vida política, empresarial, laboral, social e familiar atiraram-se à luta com um projecto de renovação e requalificação para a freguesia, tiveram a coragem e o arrojo em afrontar e enfrentar poderes instalados, deitaram pernas ao caminho e venceram o desafio de conquistar o poder político. Não deixa de ser louvável. Agora espera-se que não se fechem em si, e não pensem que só o que a sua cabeça dita é o correcto. Ouvir, ouvir e resolver as necessidades locais é um honroso acto de gestão.

Espera-se que Monte Redondo seja efectivamente uma Vila, que continue a história. Vossas merçês, mulheres de armas, já fizeram história. E, 22 podem fazer coisa que se veja. Estamos p’ra ver!

 

Leiria, 2005 Outubro 17



publicado por Leonel Pontes às 16:18
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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