Sexta-feira, 16 de Junho de 2006

Tudo, sobretudo todos nós, que ao mundo viemos, inelutavelmente vamos cedendo, inelutavelmente vamos envelhecendo. Somos coisa, com arranjo, mas sem conserto! É a ordem natural das coisas, como diz o nosso povo; dir-se-á que é a única “ordem” que temos. Quem veio, vai. E, quem de novo não vai, de velho não escapa, também (e bem) diz a sabedoria popular. Aliás se quisermos dar ordem à ordem forçoso é dizer que, esta - a da vida – é, a única ordem verdadeiramente democrática. Todas as demais, por mais regulamentadas sejam, geram desordem.

 

Mas, dessa passagem pelo mundo, sabido é, que este não é igual para todos. Quem nasce em Portugal, tendencialmente, é católico. Talvez por isso, há quem viva na convicção (fé) de que haverá sempre alguém que encontrará soluções para o quanto houver por fazer. Mas, quem nascido seja, na América, por exemplo, pouco lhe importará a tendência para o católico, antes vive com a certeza (mania) de que são eles os donos do mundo.

 

Mas, estávamos a falar de velhos (ou idosos se, se quiser!). E, sobre a questão reflectindo constatamos que podemos ser velhos, sem ter a população envelhecida. Mas, por outro lado, poder-se-á concluir coisa diferente; é que de facto somos uma população envelhecida, porquanto – sem aferir pela estatística – por cada 100 jovens, temos à volta de 110 idosos (pessoas fora da vida activa). Mas, pior do que tê-la, é “contínua tendência de envelhecimento”. Não fazem filhos!

 

E, os que de velhos não escapam, precisam – é um direito de cidadania! – de entrar (estar) na penumbra de vida com dignidade, de modo a gozar o que não puderam glosar enquanto na vida activa estiveram. E por isso, não só as instituições públicas de solidaridade social, mas também a própria sociedade civil, têm o dever de criar condições em ordem a minimizar desconfortos e desconsolos daqueles que a cada dia que passa mais se lhes abre a porta de saída; uma porta que abre para fora do mundo, e quando fechada for, jamais se abrirá.

 

Por isso, o Padre Joaquim João, naquele seu jeito de quem não sabe estar quieto, fez erguer em espaço contíguo à residência paroquial, de Monte Redondo, um Centro dia Dia/Lar “Nossa Senhora da Piedade”, obra tão digna quanto necessária para acolhimento de idosos e por certo para incapazes.

 

Com efeito, no passado dia onze, foi dia de festa, teve lugar a inauguração da obra, cuja primeira pedra foi lançada há pouco mais de dois anos. E, com a ajuda de um povo empenhado, com o apoio da edilidade e demais instituições aí está a sala de repouso das vítimas do tempo gente que hoje mais não pode fazer que não seja recordar feitos e obras que foram erguendo ao longo da sua vida.

 

Ainda assim, mais de metade do custo daquele centro de dia/lar está por pagar, disse o pároco, mas com as ajudas de instituições de solidariedade social, do povo e dos proventos da gestão, tudo se haverá de salda. Mas, uma dívida jamais se pagará, diz o povo, foi o arrojo do Padre da freguesia que atirou a sotaina para o lado e fez-se mestre d’obras. Mas que obra. Bem haja!

 

Testemunhando o evento muitas entidades vieram a Vila de Monte Redondo; Governador Civil, Câmara, Presidente da Segurança Social, representante do Bispo, Professor Paiva de Carvalho, também ele nado e criado em Monte Redondo e muitos outros amigos, uns dos outros, que aproveitaram para confraternizar, cavaquear e recordar outros tempos. E, já agora, lembro que o tempo já vai escasseando!

 

Leiria, 15.06.2006



publicado por Leonel Pontes às 18:41
Sábado, 03 de Junho de 2006

Em tempos idos Aquilino - que por Monte Redondo passou - descreveu na sua obra batalha sem fim, como só ele sabia, lenda sobre gordo tesouro enterrado nas soltas areias do pinhal de Leiria; como todos o sabemos.

 

Mas, o que poucos de nós sabemos – assim o creio - é que existe um outro tesouro, não de moedas de ouro, mas de preciosidades raras, nunca vistas, pelos mouros sepultado nas profundezas de Monte Redondo.

 

E, para que o valiosíssimo tesouro nunca, em tempo algum, dali fosse levado, por cima, deixaram-lhe pesada pedra trabalhada pela mourama como se uma cadeira fosse. Aí, sobre ela – a pedra -, ela – a moura, enquanto vida teve – em sentinela vigiou, de olhos postos no horizonte, não viesse d’algures mandado, qual avaro, para surripiar tamanha riqueza.

 

E, todos e cada um de nós, monte-redondenses, temos essa fortuna, mas também e sobretudo a nossa riqueza, tanta que de todo escusamos de escavar ou escachar a ofítica cadeira, para daí retirar o tesouro que há séculos repousa sob nossa guarda.

 

Monte Redondo, não foi só terra e pouso de mouros. Ao longo dos tempos recebeu gentes provindas d’outros ares, gente que lhe deu talho; num monte que de muito alto e de forma redonda chamado foi, até hoje, de Monte Redondo, estremenha região que foi palco não só de lutas, mas também de guerras, não havendo escapado às invasões francesas, sofreu dos efeitos das “sezões”, foi fustigada pelo “ciclone”.

 

Soçobrou às vicissitudes e acabou por ser aos dias de hoje o nosso berço e doutros que bem o conhecem e deste têm retratos, memórias de quem por cá deixou uma parte de tempo, desse tempo que é a nossa vida, o nosso tesouro e fortuna que um dia também haverá de à terra descer. Os que ficam, enquanto ficam, recordam memórias, actos e feitos de quem jamais dialogará com os seus antepassados como se deles ouvissem “naquele tempo! … ”

 

Mas, falar de memórias é afirmar o labor do passado, por isso, assim o cremos, não basta saber-se que a freguesia – hoje Vila - criada no ano de 1589 pelo Bispo de Leiria, D. Pedro Castilho. Como não é bastante saber-se que, em meados do século passado, Monte Redondo era uma das mais notáveis freguesias do Concelho, uma terra progressiva, habitada por uma população ordeira e trabalhadora.

 

Hoje, a caminho de cinco séculos de história, talvez valha a pena saber-se algo mais, como seja, o que pensam aqueles – e não só! - que um dia daqui rumaram outros caminhos sem que alguém mais cuidasse de saber do que aprenderem e sabem, coisa de que no-lo possam falar de viva voz.

 

Com efeito - esta é a nossa convicção - a breve trecho, em Monte Redondo, havemos de falar, em “conversas ao serão” com figuras gradas desta terra ou a esta com laços, publicamente partilhando o seu saber, os seus percursos de vida, as suas obras, sobre questões tão diversas como sejam história local e outra, a saúde, o ensino, a economia local e comunitária, a cultura; tudo!

 

Vamos à descoberta de tesouros? Convidados ficam!

 

Leiria, 03.06.2006



publicado por Leonel Pontes às 11:48
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
mais sobre mim
Junho 2006
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
15
17

18
19
20
21
22
23
24

25
26
27
28
29
30


pesquisar neste blog
 
subscrever feeds
blogs SAPO