Sexta-feira, 15 de Setembro de 2006

Já aqui o disse no RL que não sou muito a favor do que vem de fora, de uma certa ciência importada muito em particular no que concerne a todo um vasto role de teorias que por aí abundam, nomeadamente na área da gestão, teorias que versam acerca de tudo e de nada. Contudo, neste mundo em que vivemos de economia global e aberta, obviamente que temos de ler, acompanhar, por vezes até, citar casos estudados e exemplos testados por experts de outros espaços económicos.

 

Por outro lado, infelizmente, não somos muito dados a estudos aqueles que advêm da muita prática de experiências que no fundo são a ciência do saber feito, temos algum mau hábito em comprar estudos, por vezes como quem compra tremoços na praça. Aliás, vária legislação por aí existe regulamentando subsídios exactamente para aquisição de estudos.

 

Se um de nós pensar em fazer um empreendimento, não é preciso saber do sector, basta-nos encomendar um estudo, que haverá de ser pago, directa ou indirectamente, com os tais subsídios e depois é só esperar, como quem põe ovos no choco, se saírem galados, que sorte foi o negócio, se saírem goles, olha paciência a intenção era boa mas a sorte não esteve do nosso lado.

 

Os outros, os estrangeiros, não têm o menor rebuço em referir-se a nós, mas pela negativa, deixando-nos por vezes a ridículo, colocando toda a ênfase no que produzem ou vendem, por vezes aperfeiçoando, melhorando o que já sabemos e há muitos anos fazíamos. Em conclusão os outros têm sempre um jeitinho para fazer melhor do que nós, assim dizemos e pensamos. Errado.

 

Contudo, não se pense, e é bom ter consciência disso, que nos outros países não existem também grandes e complexos problemas para resolver. Por exemplo, “existe actualmente um consenso entre os nipónicos de que o Japão está excessivamente regulamentado“. Se eles assim pensam é porque têm as suas razões, embora nos pareça que a galinha deles é sempre melhor que a nossa.

 

Ora, não obstante o sucesso económico dos nipónicos nem tudo o que luze é ouro, por vezes até, cá como por lá, existem grandes pérolas preciosas que mais não são do que autênticos calhaus, é só preciso esperar, pois o tempo tudo põe a descoberto.

 

Com efeito, e a propósito do que de bem e de mal se faz por cá, por mão de pessoa amiga chegou à nossa posse um texto que opina, quiçá caracteriza pela negativa os gestores portugueses, um texto algo exagerado mas que não deixa de ser curioso, quanto mais não seja dá para desentorpeçar os faceais músculos.

 

“No sentido de estreitar relações, estabelecer laços de cooperação e trocar experiências, realizou-se em 1994 a primeira regata entre uma equipa portuguesa e a sua congénere Japonesa. Dada a partida, a equipa japonesa de imediato se distanciou, tendo cortado a meta com uma hora de vantagem.

 

Após o desaire, a direcção reuniu para determinar quais as causas de tão desastrosa actuação. Depois de longos e cuidadosos estudos verificou-se que na equipa japonesa havia dez remadores e um chefe de equipa e que no conjunto português eram dez os chefes e um remador. Estes factos levaram a direcção a delinear e a pôr em prática uma nova estratégia para o ano seguinte.

 

No ano de 1995, após dado o sinal de partida, a equipa nipónica começou imediatamente a ganhar vantagem desde a primeira remada. Desta vez a equipa portuguesa chegou com duas horas de atraso. A direcção voltou a reunir.

 

Verificou-se mais uma vez que os japoneses tinham atacado com uma equipa constituída por dez remadores e um chefe de equipa, enquanto a portuguesa cumprindo as eficazes medidas estudadas pelos estrategos, apostara numa formação composta por um chefe de serviço, dois assessores da administração, sete chefes de secção e um remador.

 

Reunida novamente a equipa técnica, acertaram-se novas estratégias e resolve-se, por unanimidade, atribuir um voto de desconfiança ao remador pela sua incompetência.

 

No ano de 1996, como era habitual, a equipa nipónica voltou a adiantar-se à portuguesa, cuja embarcação encomendada ao recém criado departamento das novas tecnologias, chegou com quatro horas de atraso. Após a regata e para avaliar os resultados teve lugar uma reunião ao mais alto nível, com a participação de toda a administração, chegando-se à seguinte conclusão: este ano a equipa japonesa tinha optado novamente por uma formação de um chefe  e dez remadores.

 

A direcção técnica, e desta vez com o apoio técnico de auditores externos e assessoramento especial de todo o departamento de informática, decidiu-se por uma formação mais vanguardista, constituída por um chefe de serviços, três chefes de secção, dois auditores de uma conceituada empresa da especialidade e quatro securitas que vigiaram o desempenho do único remador.

 

Na mesma reunião foi ainda decidido abrir um processo disciplinar ao remador, com perda de todos os abonos e incentivos devido aos fracassos acumulados pela equipa. Foi ainda decidido que a partir de 1997 seria o mesmo remador admitido apenas com contrato a prazo, pois se verificara que a partir do vigésimo quinto quilómetro o mesmo mostrara algum desinteresse e mesmo indiferença, ao cruzar a linha de chegada.

 

Pois bem, o comportamento e o desempenho dos portugueses no concreto não será assim tão negativo, mas que as performances por vezes ficam aquém do desejado, isso é verdade.

 



publicado por Leonel Pontes às 13:25
Sexta-feira, 15 de Setembro de 2006

O país está em brasa. Altas temperaturas ameaçam a paz social. Estamos a entrar num Verão quente, num contexto diferente daquele  longínquo Verão de setenta e cinco.

 

Os portugueses, na generalidade, estão apreensivos, traduzindo-se o seu sentimento numa opinião pública “isto está mau!“. O governo rasgou uma linguagem de abastança e agora, infelizmente do muito que disse foram só promessas.  Um pai nunca deve apregoar algibeira cheia, e um governo ainda menos.

 

Quem governa deverá ter um sentido de responsabilidade pedagógica. Este governo haverá de ficar na história pelo governo dos milhões. Milhões que prometeu, e milhões que gastou sem luzimento. Entre o mais, vejamos:

 

O endividamento dos cidadãos é uma realidade para o qual não existe terapia, pelo menos a curto prazo. A bolsa continua endémica e é caso para dizer, mas que trambolhão! A despesa pública atingiu cifras para além do comportável. A economia arrefeceu e os balões de oxigénio estão a voltar ao mercado.

 

O país está a gastar dinheiro garantindo rendimentos a quem, em muitos casos não quer trabalhar, e ao mesmo tempo vamos importando mão d’obra. Buzinões, um comportamento social made in PS,  sucedem-se já por tudo e por nada. Por outro lado, para animar a populaça temos prestes a entrar no top musical o Zé Cabra; com mais um jeitinho vai lá !

 

Pois bem, por muito que nos custe este é um cenário evidente a nossos olhos. Poder-se-á encontrar uma explicasãozita mais para aqui, ou mais para ali, mas o que é evidente dispensa demonstrações.

 

Depois ainda deste negro quadro temos aí instalado o terrífico flagelo dos cidadãos enganados,  roubados, espancados, esfaqueados, assassinados. Isto será consequência de quê? Também não temos segurança, e pelo que por aí corre os agentes da ordem pública também não estão para se meter em chatices, porque às tantas temos os papeis invertidos. É um outro serviço que não aproveita ao país.

 

O que está acontecer ao meu país não era coisa previsível há uma década atrás, tudo apontava num outro sentido e politicamente era isso que os cidadãos esperavam. Dir-se-á, pois é, mas em democracia os governos ascendem ao poder pelo voto do povo, pois é, mas quando o povo acredita facilmente em promessas e contos, também de modo fácil cai no abismo, e há muita gente que não tem culpa desta vaga de mau estar, de resto uma vaga em contraciclo com  o que seria espectável.

 

De resto, Alvin Tofller proeminente figura do pensamento económico-político,  na sua obra “A Terceira Vaga“  ao caracterizar a evolução do desenvolvimento económico e social, não concretamente para Portugal como é óbvio, mas num certo contexto europeu, por razões que andam próximas do quadro que vivemos em Portugal, com tendência para  agravar, se não for posto cobro aos desmandos.

 

Com efeito, Tofller  admite o “desmembramento da família,  que há-de abalar a economia, a paralisação dos sistemas fiscais e destruição dos nossos valores“.

 

Ora, sem mais notas, aqui temos um quadro de reflexão para degustar neste início de Verão quente, uma reflexão que por certo, cada um à sua maneira não deixará de fazer, no âmbito dos partidos da cena política portuguesa.

 

Para já, e por certo temos que, para além do endividamento - daqueles que o têm, obviamente - dos cidadãos há o endividamento do país que só se resolve com uma nova política, daí pois um novo conceito de gestão da coisa pública “ o endividamento geracional “.

 

Contributos é quanto poderei dar,  embora não me restam dúvidas que pouca força tenho para mudar este estado de coisas, ruins, do meu país, mas uma coisa direi;  não deixarei de dizer o que meus a meus olhos é dado ver.

 

Leiria, 15.09.2006

in intemporal(idades) |  pag. 373  |  2008



publicado por Leonel Pontes às 01:12
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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