Acho que deveria levar a texto memórias "estórias". Esta, porque deliciosa (a meu ver!) a estória da minha vaca, vou partilhá-la convosco. Cada um de nós, pelo menos uma vez na vida, tem a sua vaca. O seu momento de sorte!
Vamos à estória. Ainda a noite ia alta e escura, as cadelas ladravam; a dar fé do seu papel, dando conta de quem se afoita ao perigo, dando rédea curta ao intruso. Ladravam sem parar. E, pensava eu, ante os latidos, mas que raio incomoda tanto os animais.
O clarear do dia chegou. Então sim, saí de vale de lençóis e fui ver o que se passava. E vejam só (quando toda a gente – toda, é como quem diz - mete mão no alheio) a mim dão-me uma vaca. Fiquei surpreendido. E exclamei é sorte. A estória é longa, por isso, abrevio.
Vai daí, dou conta que me foram pôr uma vaca no quintal. Disse, porra, isto é que é sorte! Uma vaca, de carne e osso! Vendo melhor, vi que estava enganado, já que a rês apresentava um par de tubaros, que nem vos conto. O animal era bravio, logo que me vislumbrou correu, atacou. Resguardei-me por detrás de uma árvore.
Eh lá! vamos ter toirada, à vara larga; disse. E interrogava-me; mas porque raio uma oferta destas! E porque raio havia de ser presenteado com um bicho deste porte, dava bifes – e não só! e, pela certa dos bons -, para uma freguesia inteira.
Ante a admiração, telefonei para a GNR e disse ao que ia. Ficaram tão surpreendidos quanto eu! E, responderam; “tem uma vaca no quintal, então é sua!” Não senhor, não é! Retorqui. Era tanta a admiração do polícia, quanto a minha – as policias também não andam a passar nada bem, ao que se lê - Estando o país em tempo de vacas magras, como é que me ofereceram uma vaca. E gorda!
Entretanto, fui à minha vida, e deixei o caso entregue à GNR, tendo estes ficado no quintal a fazer investigação que o caso impunha. Numa primeira instância arranjei pai p’rá cria; o GNR. Ao fim do dia quando voltei, tinha o quintal destruído, a agricultura comida - eu também agriculto, nunca se sabe o futuro! – e parte da rede de vedação destrída.
Entretanto soube que só conseguiram apanharam a rês, já cansado, ao fim do dia, longe, Bem longe a quilometros de distância.
Mas, volto à mesma! Porque teria o animal ido parar ao meu quintal? Foi ali parar porque fugido andava de algures e, ante a passeata pela EN109, a indiciar causar perigo ao trânsito, alguém terá aberto o portão do meu quintal, fazendo-me um favor que, obviamente, nunca agradeci.
O acontecido ocorreu ao mesmo tempo em que a pseudo amigo também lhe havia calhado em sorte uma vaca.
E, só por isso, por ser em sorte, os factos merecem passar à estória; não é vulgar ter-se assim tanta vaca. Ou seja, a vaca do pseudo amigo, essa saba-se de onde veio; veio-lhe por via política.
Essa bastarda política deu de mão beijada uma autentica vaca. Ao meu pseudo-amigo, calhou-lhe uma empresa (dessas que se oferecem aos boys) com cash - e cash é nota -, nota fiduciária, disponível, de 30 milhões de euros.
As contas são públicas, depositadas na Conservatória do Registo Comercial. Não é treta. Vocemessês já pensaram o que é calhar em sorte, uma empresa, limpa de maleitas, com seis milhões de contos a prazo?
Entretanto, um dia destes, num jornal cá da urbe, alguém com responsabilidade política disse que … quer ganhar, em próximo acto, a Câmara de Leiria. Ao que o jornalista perguntou ao tal sortudo (mais ou menos nestes termos), vai ser candidato. O sortudo ficou-se pelas evasivas.
Todavia, em recente publicação das 500 maiores empresas do país, a dita empresa, lá constava que em 2006 tivera1,3 milhões € de prejuízo. Afinal sorte não é saber. Pensam que na Câmara também há massa? Eu que se sabe está falida; portanto o putativo candidato não vai aceitar qualquer desafio.
Ali, na Câmara, é preciso provar o que sabe. Não há sempre, carne da perna. Quem práli for tem que saber; saber de contas, saber de gestão. O tempo da gestão dos sorrisos rasgados, já lá vai.
Agora é preciso saber, saber fazer e, é preciso ter software de gestão, na tola. Estamos em tempo de vacas magras. Oh se estamos. Estou p’ra ver!
Leiria, 2007.09.27