Quinta-feira, 27 de Setembro de 2007

Acho que deveria levar a texto memórias "estórias". Esta, porque deliciosa (a meu ver!) a estória da minha vaca, vou partilhá-la convosco. Cada um de nós, pelo menos uma vez na vida, tem a sua vaca. O seu momento de sorte!

 

Vamos à estória. Ainda a noite ia alta e escura, as cadelas ladravam; a dar fé do seu papel, dando conta de quem se afoita ao perigo, dando rédea curta ao intruso. Ladravam sem parar. E, pensava eu, ante os latidos, mas que raio incomoda tanto os animais.

 

O clarear do dia chegou. Então sim, saí de vale de lençóis e fui ver o que se passava. E vejam só (quando toda a gente – toda, é como quem diz - mete mão no alheio) a mim dão-me uma vaca. Fiquei surpreendido. E exclamei é sorte. A estória é longa, por isso, abrevio.

 

Vai daí, dou conta que me foram pôr uma vaca no quintal. Disse, porra, isto é que é sorte! Uma vaca, de carne e osso! Vendo melhor, vi que estava enganado, já que a rês apresentava um par de tubaros, que nem vos conto. O animal era bravio, logo que me vislumbrou correu, atacou. Resguardei-me por detrás de uma árvore.

 

Eh lá! vamos ter toirada, à vara larga; disse. E interrogava-me; mas porque raio uma oferta destas! E porque raio havia de ser presenteado com um bicho deste porte, dava bifes – e não só! e, pela certa dos bons -, para uma freguesia inteira.

 

Ante a admiração, telefonei para a GNR e disse ao que ia. Ficaram tão surpreendidos quanto eu! E, responderam; “tem uma vaca no quintal, então é sua!” Não senhor, não é! Retorqui. Era tanta a admiração do polícia, quanto a minha – as policias também não andam a passar nada bem, ao que se lê - Estando o país em tempo de vacas magras, como é que me ofereceram uma vaca. E gorda! 

 

Entretanto, fui à minha vida, e deixei o caso entregue à GNR, tendo estes ficado no quintal a fazer investigação que o caso impunha. Numa primeira instância arranjei pai p’rá cria; o GNR. Ao fim do dia quando voltei, tinha o quintal destruído, a agricultura comida -  eu também agriculto, nunca se sabe o futuro! – e parte da rede de vedação destrída.

 

Entretanto soube que só conseguiram apanharam a rês, já cansado, ao fim do dia, longe, Bem longe a quilometros de distância.

 

Mas, volto à mesma! Porque teria o animal ido parar ao meu quintal? Foi ali parar porque fugido andava de algures e, ante a passeata pela EN109, a indiciar causar perigo ao trânsito, alguém terá aberto o portão do meu quintal, fazendo-me um favor que, obviamente, nunca agradeci.

 

O acontecido ocorreu ao mesmo tempo em que a pseudo amigo também lhe havia calhado em sorte uma vaca.

E, só por isso, por ser em sorte, os factos merecem passar à estória; não é vulgar ter-se assim tanta vaca. Ou seja, a vaca do pseudo amigo, essa saba-se de onde veio; veio-lhe por via política.

 

Essa bastarda política deu de mão beijada uma autentica vaca. Ao meu pseudo-amigo, calhou-lhe uma empresa (dessas que se oferecem aos boys) com cash - e cash é nota -, nota fiduciária, disponível, de 30 milhões de euros.

 

As contas são públicas, depositadas na Conservatória do Registo Comercial. Não é treta. Vocemessês já pensaram o que é calhar em sorte, uma empresa, limpa de maleitas, com seis milhões de contos a prazo?

 

Entretanto, um dia destes, num jornal cá da urbe, alguém com responsabilidade política disse que … quer ganhar, em próximo acto, a Câmara de Leiria. Ao que o jornalista perguntou ao tal sortudo (mais ou menos nestes termos), vai ser candidato. O sortudo ficou-se pelas evasivas.

 

Todavia, em recente publicação das 500 maiores empresas do país, a dita empresa, lá constava que em 2006 tivera1,3 milhões € de prejuízo. Afinal sorte não é saber. Pensam que na Câmara também há massa? Eu que se sabe está falida; portanto o putativo candidato não vai aceitar qualquer desafio.

 

Ali, na Câmara, é preciso provar o que sabe. Não há sempre, carne da perna. Quem práli for tem que saber; saber de contas, saber de gestão. O tempo da gestão dos sorrisos rasgados, já lá vai.

 

Agora é preciso saber, saber fazer e, é preciso ter software de gestão, na tola. Estamos em tempo de vacas magras. Oh se estamos. Estou p’ra ver!

 

Leiria, 2007.09.27



publicado por Leonel Pontes às 17:40
Sábado, 01 de Setembro de 2007

Estava em Tallinn, capital da Estónia, recém alforriada da cortina de ferro. Num breve intervalo de tarefas aproveitava para queimar tempo p’rá hora do jogo Estónia-Portugal. Calmamente visitavamos a zona velha, muralhada, qual parecença com a nossa velha Óbidos.

 

A páginas tantas, o meu colega de promenade, Mont’Álverne Brou, atende o telemóvel (o criado mais barato do mundo moderno, mas mal criado quanto baste! berra pelo dono onde quer que seja, chegando a ser inconveniente. Havia de haver sinalética, em determinados sítios, como a dos cães, a dizer “aqui não entram telemóveis”) e falou; de quê, não dei conta. Mais adiante pede-me, por momentâneo empréstimo, o meu criado barato, o dele, não tinha função de roming activada.

 

Falou e disse; vamos andando, vem aí o Belmiro! Amigos há-os por toda a parte; disse para comigo. Lá fomos rua fora. Já no Hotel, o telefone de Brou volta a sonir. O viajante, acabara de vencer o golfe da Finlândia, vindo de Helsínquia de helicóptero. Um pulo. Vamos recebê-lo, continuou Brou. Acabava de chegar o amante do desporto, que estando ali tão perto, disse não poder deixar de ver e apoiar a selecção nacional.

 

Mas, para espanto meu o viajante era, nem mais nem menos, o Engº Belmiro de Azevedo acompanhado de sua esposa Drª Margarida. Estás bom; disse ele para o meu colega de tarefa desportiva. Enquanto isto, o Brou (também ele Engenheiro e gestor, foram colegas de curso; prezam a amizade) fez as apresentações, e terreu-teu-teu, lá fomos caminhando para um canto mais recatado (e eu, cá com os meus botões; quem havia de dizer, aqui a tomar um drink com o homem mais rico de Portugal)

 

A tarde caía e continuávamos a queimar tempo, esperando que a hora do jogo se aproximasse. Enquanto isso, falámos, falámos como se tivéssemos todos a mesma confiança e amizade (eu, só o era amigo de circunstância) mas estar ali a conversar com o homem que mais emprego sustenta no país, era momento único. As conversas, as dele, brotavam sempre linguagem económica e financeira. Falava com um vigor das coisas do país, e até Leiria entrou na contenda. Impressionante. Informado até ao tutano.

 

Mas, porquê cronicar agora sobre ricos; o que é que isto interessa? Interessa e até diria, agora que tanto se fala do coaching nada se perdíamos em ouvir, cá no meio, o maior empresário do país falando de gestão e afins. E, porquê? Porque o país, neste momento em que escrevo e há algum tempo a esta parte, anda agitado por causa de desinteligências entre bogalhudos.

 

Os accionistas de certo banco têm dado uma imagem mísera do que são, chegando mesmo a haver ataques pessoais – e eu a pensar que linguagem grossa era coisa só de pobretanas! – a dizer que o senhor fulano, o melhor que fazia era pôr-se a andar para casa e dar milho às galinhas! Também não é má função, mas com os diabos, será que aqueles senhores não têm capacidades para mais?

 

E o que sobressai da imensa polémica? Sobressai que os protagonistas da estória do banco são uns algozes por dinheiro e, por via disso quase se matam. Mas têm demonstrado estar interessados com a economia do país? Não. O que mais querem é que o banco continue e cobrar bem às pequenas empresas e a publicitar milhões de lucros, em detrimento duma necessidade real que é a criação de riqueza pela via do empreendedorísmo e da criação de emprego.

 

Aprecio muito, mesmo muito, quem fez vida a pulso (porventura aqui e ali queimando a ética), sem horários, todos os dias, por cá e por lá, sem parar, sempre labutando em prol de um país mais moderno e próspero, como a Finlândia onde só a produção dos telefones quase sustenta o seu orçamento. E bom, treinadores temo-los, jogadores de campo é que não, temos os da bolsa e os do bolso. Assim não vamos lá!

 

Leiria, 2007.09.01

in intemporal(idades) |  pag. 206  |  2008



publicado por Leonel Pontes às 23:23
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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