Sexta-feira, 09 de Novembro de 2007

Quando vinha a caminho da secretária trazia alinhavado, mentalmente, texto-notícia versando aquele cair de noite de há dias, em que ilustre professor das coisas dos impostos fez apresentação pública d’obra sobre “IRS Incidência real e determinação dos rendimentos líquidos”, cuja acção foi assegurada pela Associação Fiscal Portuguesa, tendo tal evento decorrido nas vetustas instalações da Associação Comercial de Lisboa, com a presença de muitos entendidos nestas coisas; muitos Directores, Directores-Gerais, ex-Directores, ex-Directores Gerais, Directores disto e daquilo, professores, gente de contas. Eu sei lá!

 

Mas dizia: para a feitura do texto trazia memorizadas as palavras do orador de sapiência, o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que a momentos tantos, disse que hoje o Código do IRS já é uma “manta de retalhos”. E, é! Por muito que queiramos estar actualizados há sempre “qualquer-coisa-de-um-na-sei-quê” que, ou tem dúbias interpretações, ou foi esclarecida por via do “direito circulatório”, etc., etc.

 

E, enquanto isto, fui pondo um “cd” para animar a quietude e o sossego necessários à escrita. E, eis que desviei atenções, porquanto à mão me veio parar um Bob Marlei naquele seu jeito, único, do “reggae”, música orquestrada a contratempo, a soluços, sofrida, “made by” defensor dos direitos do povo e que ficou na história da Jamaica pela luta que travou contra a opressão, e a violência. “Um homem que nos 36 anos em que viveu deixou uma contribuição inestimável à humanidade em forma de canções de amor e de paz.” Pois é, todos os países têm os seus “artistas” no verdadeiro sentido da palavra.

 

Mas o que tem Marlei ou a Jamaica a ver com isto, com esta coisa dos impostos, do nosso IRS que é uma “manta de retalhos”. Desde logo, para mim, tem a ver, posto que, enquanto miúdo, ouvia falar da Jamaica como coisa que ficava lá-não-sei-onde, em nenhures e, por isso, se dizia que quem lá caísse era devorado; um sítio papão. E, daí que até diziam aos miúdos “se não comes a sopa, mando-te p’ra Jamaica”. E, Deus meu, nunca precisei que me metessem medo ou fizessem ameaças, tivesse eu que comer; tivesse-o eu! Nem que fosse côdeas de broa, velha de uma semana, por vezes, raiada de bolor.

 

Para mim a Jamaica foi sempre uma curiosidade. Até que, há meia dúzia de anos, fui mesmo à Jamaica e de lá trouxe músicas de “reggae”. Mas, por outro lado, a sua pobreza contrasta com a fortuna cultural das músicas que por todo lado eram tocadas por grupos animadores à passagem dos turistas. Um encanto; uma marca da educação deixada pelos colonizadores Ingleses – que a abarbataram aos Espanhóis - marca a que todos eram (foram) obrigados a frequentar escola de música. E, só por isso se percebe o seu imenso gosto pelas notas, as de música, com ou sem acidentes, musicais.

 

Pois sim, e a notícia dos impostos, foi esquecida? Não, mas o que interessa falar dos impostos, e no caso do IRS, se o Código já é uma “manta de retalhos” O melhor, doravante, está no bem guardar os trapos em que nos agasalhamos, e nos farrapos em que está a nossa economia - embora insistam em dizer o contrário; deixem lá as estatísticas e vão para o terreno e depois digam-nos o que viram! - porque aos farrapos estamos de volta para tecer as caídas em desuso “mantas de retalhos” com as quais ainda não há muito cobríam corpos nas longas noites. E andamos tão frios, não andamos?

 

Não há quem veja que melhoraram as performances da cobrança - dinheiro que tanta falta faz para animar a economia - porque pagamos que nem carneiros. Por este andar eu vou mas é para a Jamaica. Agora sim, vou. Só assim poderei fugir aos papistas do nosso suor.

 

São os impostos, oh patego! Para pagar imposto é que nós viemos ao mundo! De outro modo como é sustentariam tantos que vivem do desempenho dos que trabalham; não foi para vivermos bem! E, enquanto isso continuam a dar-nos música. Ainda se de música soubessem!

 

Leiria, 2007.11.09



publicado por Leonel Pontes às 09:34
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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