Terça-feira, 29 de Janeiro de 2008

Aos meus olhos era previsível - cá entre nós - um cenário de carência alimentar. E, por várias vezes, opinei sobre a questão, só digo o que vejo; evidências. Agora, reitero o que fora dito, tendo por base factos; não ficções. E, recordo que ainda não há muito tempo, existiam pelas aldeias – na minha por exemplo – os vendedores de leite porta-a-porta, gente que fazia a verdadeira economia familiar, amanhando terras que haviam de alimentar “vacas leiteiras” e outras rezes destinadas ao sustento familiar.

Coitadas das vacas, mugidas duas vezes ao dia, de mão grossa e calosa num vai-e-vem de teta acima, teta abaixo esguichando o precioso líquido – genuíno leite de vaca, puro como nenhum outro – leite recolhido em vasilha inox; desinfectada e areada a cinza – qual celorine – que de pronto era carregada à cabeça de uma qualquer Nazaré que a horas certas estava à porta dos fregueses fornecendo o gordo alimento, ainda quente. Ainda assim, tal quentura não dispensava, nem podia, fervura para extermínio de possíveis micróbios. Leite que era sustento para pequenos e graúdos, leite que dava pronta refeição, de manhã, pela tarde ou à noite. Qualquer bocadinho de broa ou pão, por vezes, à mistura com um pouco de café de chaleira; nutritivo aconchego estomacal.

Para além das leiteiras do porta-a-porta existiam também uns pequenos postos de recolha por onde passava a horas certas uma camioneta que recolhia o produto depositado pelos agricultores, leite que muitas vezes era o mealheiro e cofre, cujo retorno financeiro, por vezes, ia direitinho para o grémio da lavoura para pagar adubos. Isto era assim, ontem.

Hoje tudo é diferente. Por amor ao progresso e à modernidade já não existem terras amanhadas – antes pelo contrário, tudo em pousio, uma lástima - hoje já não existem leiteiras de porta-a-porta, hoje já não existe o posto leiteiro na aldeia, nem a passagem da camioneta. Hoje nem vacas existem - nem as de trabalho, nem leiteiras - que duas vezes ao dia levavam uns apertões de amonjo – ah, e ainda havia o tempo de vacatura – vaca que se prezasse ainda dava uma vez ao ano um bezerrinho, ao qual não havia garoto que não gostasse de dar uns abraços e beijos, até. E, quando já mais crescidos – os bezerros - eram provocados com cenas de toureio, e, às vezes, saia mesmo marrada. Por fim, alguns lavradores, os mais abastados, ainda davam, estocada certeira por entre cornos fazendo cair a rês redondinha, desconjuntada, no chão e daí vinham suculentos nacos de carne que para além de um dia de festa dava farto governo familiar.

Entretanto mudaram os tempos. Vieram novas políticas e novos políticos e políticos novos e novas teorias económicas, novos conceitos de gestão e aforro. E veio, o “é mais fácil ir ao supermercado”, é mais barato, é melhor, é mais saudável e tudo o mais que sobre a matéria se queira dizer, só não temos o mais importante; as vacas. E, não obstante ser tudo melhor, não há o essencial; o leite! E, o que há é caro – e as terras continuam em pousio - e ainda o vai ser muito mais caro, ou seja, como dizem as regras da economia, quando a procura supera a oferta, o produto sobe de preço. Mas a chatice é que também não há dinheiro.

Mas há políticos eruditos, até há um espaço económico europeu que regula tudo – e regula quem pode e não pode criar animais de leite, isto para bem de todos, quais “feitores” de promessas. Mas, o prometer é tão leve que nem alma tem. E, por tudo isso, há quem nem pinga de leite tenha; há fome. E, para concluir diríamos que; foram-se as vacas, as pequenas e as grandes, foram-se os agricultores, os pequenos e os grandes e vieram uns, seja perdoado o vernaculismo, vieram uns vacões. A teta secou, e para eles, para esses eruditos, também vai secar; pela certa!

 Leiria, 2008.01.29



publicado por Leonel Pontes às 17:53
Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2008

Quando este texto vier à estampa, porventura já terão decorrido muitos dias após o momento em que escrevo. Mas, tomara que rapidamente perca actualidade, era sinal de que o mundo estava melhorar. Mas, como se axioma fosse, não estará nada melhor e antes pelo contrário, estará bem pior. A imprensa diária de hoje diz quer a “queda da bolsa antecipa crise mundial”. Só hoje é que se viu que caminhamos em crise!

 

Todos andamos de olhos abertos mas fazemos de conta, que “não passa nada”. Mas, passa-se e grave. E, não é só porque o crude está em crescendo; não. De quando em vez aqui deixo apreensões; a economia vai de mal a pior, o governo vende barba de milho como se fora um bom tabaco.

 

Hoje vou falar de mim para dizer que, entre mim – pobre cidadão - e um banco não existem diferenças; estamos os dois falidos. Pensava eu que estávamos bem, ricos. Mas como é que isto aconteceu? Poupo, poupei, amealhei, investi, paguei juros, adquiri alguns, pouquíssimos, patrimónios.

 

Agora tenho patrimónios - poucos, como já disse - não valem nada. Ninguém os compra; não tenho dinheiro; tenho patrimónios. Mas não valem nada! Ninguém mos compra.

 

Está bem! E, o banco? O banco também está como eu, falido. Comprou dinheiro e vendeu-o bem, ficou com bens em garantia; bens que não são dinheiro, são bens que agora também não vendem, e os que se vendem, vendem-se a um preço abaixo do que custaram.

 

Isto é, o mercado manda, mas e o mercado está anémico e de tal modo enfraquecido, que nem reage a estímulos. Bem, mas também são estímulos só de palheta, de quem nunca investiu coisa nenhuma!

  

Dito tudo isto noutra linguagem, se os bancos – todos eles – tivessem de registar nas suas contas o justo valor dos imóveis que garantem o dinheiro emprestado apresentariam coisa diferente de lucro. E, se o tiverem, sem qualquer dúvida, são incomensuravelmente menores.

 

E, se assim for – tal como fazem às empresas – o seu rating é mau, cada vez pior. E, então? Então têm que comprar o dinheiro mais caro, porque estão doentes, anémicos, e não merecem a mesma confiança, o mesmo crédito, porque não respiram saúde, saúde económica.

 

Não tenho aqui estatísticas para assegurar absoluta confirmação, mas aferir pela tristeza que perpassa na carruagem, a festa já lá vai e as canas são biodegradáveis. A crise está aí. E diziam que a economia estava a crescer. A crescer, a crescer só o pau e tem de ser em tempo, como o de agora, de muita de chuva, para que inche qualquer coisinha, o resto está em crise. Mas, crescendo o pau há alegria, valha-nos isso!

 

Leiria, 2008.01.17

in intemporal(idades) |  pag. 330  |  2008



publicado por Leonel Pontes às 00:03
Segunda-feira, 14 de Janeiro de 2008

Tenho claríssima consciência que estou a meter-me num vespeiro – mas como há p’raí uns melrinhos que, em tempo, pediram a minha expulsão do PSD – nem sei como é que isso está! Mas sei que têm uma lata, procuraram enterrar-me vivo e agora ainda me vêm cumprimentar e dizem que é por amor, por amor à unidade –

 

Como entretanto, apanhei um tremendo raspanete do meu amigo S. Pedro não tenho medo de novas ameaças e, por isso, não quero deixar passar o meu prazo neste mundo, sem contar umas estórias. Mas, por enquanto só contarei o que menos escabroso for.

 

Nem no tempo do António das Botas, se via (viram) coisa assim. Vejam só se esta gente do PSD é gente de senso!

 

Já lá vai uma década. Era eu candidato à presidência de determinada organização profissional nacional. A páginas tantas comecei a ver o caso malparado, as coisas extremaram-se. A campanha descambou; "os socialistas e, os social-democratas".

 

Vendo que estava a perder terreno e ante o andamento da campanha percebi que toda a máquina socialista estava empenhada em ganhar aquela eleição – e, eu até dizia, não há socialistas nem social-democratas, o que há, são profissionais, embora tivesse a clara noção de que não éramos todos farinha do mesmo saco – e perante a luta de campanha vi-me obrigado a socorrer-me, também dos préstimos do PSD via secretário-geral – hoje Presidente de Câmara – que me despachou num ápice “ah, mas nós não podemos fazer nada, vai falar com o Presidente dos TSD’s esse é que pode”. O conselho nem foi mau mas, por mais tentativas que fizesse não consegui chegar à fala com o dito.

 

E, eis se não quando, vou aos Açores – com a minha equipa de campanha – eis se não quando, apanho – coisa de milagres - o dito no hall do hotel. E, de pronto, antes que se fizesse tarde, falei-lhe do que me levava aos Açores e bem da necessidade, por mim entendida, que havia em aquela estrutura dar também apoio a uma candidatura nacional. O Senhor presidente dos TSD’s descartou-se logo.

 

O que constatei, então? É aqui que começa a estória. Constatei que de facto não existe (não existia, será que já existe?) nenhuma estrutura nacional sindical de trabalhadores social-democratas, o que existia era um Senhor que tinha, parece que ainda tem, um ficheiro informático lá em casa e que disse ser seu.

 

Portanto não o disponibilizava. E logo concluí que não existia estrutura sindical nenhuma, o que havia apenas era para dar lastro às candidaturas, dele pseudo presidente, a deputado e que, de quando em vez, também é candidato à presidência duma Câmara Municipal. Aliás, coisas à Judas.

 

E, para dizerem que existem, fazem uns congressos onde quem quer vai botar palavra, dá largas à sua retórica, e pensa que está a ter alguma utilidade. Mas fala para dentro! Depois, regressam aos seus lares contentes e satisfeitos porque disseram umas coisas de política sobre o país e o sindicalismo e ainda dizem - eu nunca fui lá, mas parece que é assim – “disse lá umas coisas, que eles hão-de ficar a saber quem eu sou!”.

 

Mas em verdade é que de tudo o que fora dito não serve rigorosamente para nada, serve o esforço de uns quantos, bem intencionados, para politicamente sustentar umas candidaturas para madornar na Assembleia da República.

 

Por amor à verdade e ao desencanto, tinha que dizer isto. E, espero que os verdadeiros sindicalistas social-democratas ajudem o país a sair do fosso em que vai caindo. Corram com os oportunistas e com o voto democrático, que só o é, se for “eu” o candidato, porque “sou eu” o dono da bola!

 

Leiria, 2008.01.14



publicado por Leonel Pontes às 10:04
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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