Segunda-feira, 18 de Fevereiro de 2008

O desaire futebolístico da Inglaterra ao não conseguir classificação para o Europeu de 2008 foi notícia e ninguém, do mundo do futebol, consegue imaginar um campeonato da Europa sem a presença do país onde nasceu a modalidade.

 

Para os seus adeptos vai ser uma chatice, todo o mundo de olhos na Europa, e eles, que ostentam o brasão da arte ficam de fora. Mas, nem isso seria grave não fora o impacto económico; a não presença no evento resulta num prejuízo para a economia local superior a 500 milhões de euros. E, por seu turno os direitos televisivos também não trazem à UEFA a facturação esperada.

 

Enquanto isso, nós por cá, vamos fazendo o planeamento das tarefas com vista a afinar a máquina de molde a que tenhamos um bom desempenho, pois de outro modo também nada lucramos. As despesas são certas, já que a preparação de um campeonato faz incorrer sempre em avultados gastos e os nossos recursos, todos eles, sabido é, são escassos.

 

Entretanto para dar conta do que fora a longa jornada de dois anos até à nossa qualificação final, a 15 de Dezembro último, a estrutura nacional do futebol reuniu em assembleia geral para discutir entre o mais o orçamento para a próxima época, mas também o relatório de gestão e contas da pretérita.

 

Quanto ao orçamento, cuja cifra prevista é de quase 37 milhões de euros e embora não contivesse verbas bastantes para quanto o futebol precisa, ainda assim irá trazer apoios tão importantes quanto necessários à modalidade e até mesmo no aspecto social já que a FPF vai disponibilizar fundos para apoiar a nível nacional o chamado futebol de rua.

 

Discutir, aprovar ou modificar um relatório de contas é sempre o culminar de uma actividade exercida em determinado espaço de tempo. E, razões todos acham que têm para dar opinião, nomeadamente, quando o resultado económico é parco. Mas, se é certo que o resultado da época em apreço não foi gordo, o mesmo já não se dirá quanto à avaliação de uma década de gestão.

 

A administração desta última década dotou a estrutura nacional do futebol com condições, como nunca tivera, quando comparado o seu capital próprio de então, pouco mais de dois mil e quinhentos euros, com os actuais dezasseis milhões de euros. Encerrou-se um ciclo de prosperidade.

 

E, como dizia o pai de gestão - Peter Drucker - a prosperidade cria-se, não de herda. Por isso soube bem, ver estas peças financeiras discutidas até ao tutano, mas aprovadas por unanimidade.

 

Oxalá que, agora que Portugal vai ao Campeonato Europeu e logo se segue o Mundial na África do Sul possa traduzir-se em resultados desportivos quanto económicos a contento. É isso que se espera para bem do desporto, mormente do futebol.

 

O futebol tráz prestígio a Portugal. Por isso, surpreendidos ficamos quando uma organização ganha prestígio internacional, ganha posição no contexto, uma organização que tudo tem feito para sair da lama, quando é contribuinte liquido para o tesouro nacional, e, quando se propõe organizar - apenas se propõe, nada o garante que assim seja - vem, em consequência, gente com responsabilidades de governação dizer “futebol para quê”.

 

Mais nos surpreende a posição do Senhor Presidente da República. Mas ele não foi desportista? E não conhece os impactos? Ou diz o que diz, tão-só, para engrossa o coro dos autofágicos! Assim não.

 

Deixem-nos trabalhar! – quem disse isto? – de outro modo, por mim, vou-me embora - desisto - estão a meter muita areia na engrenagem. Nem se governam, nem se deixam governar!

 

Leiria, 2008.02.18



publicado por Leonel Pontes às 16:56
Quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2008

 “Está tudo pela hora da morte, quem é que aguenta isto! Ainda vamos voltar ao tempo da sopa de ortigas” Vale a pena passar pela praça, mas também vale a pena passar pelo campo. E, ouvindo a voz da praça, parece que não há campo. Mas há! Há um campo de gente que se foi deixando de fazer as suas próprias culturas, daquelas culturas que dão saúde duas vezes; dão-no-la primeiro pelo efeito físico – não há ginásio melhor do que o do ar livre; agricultar – e depois as “novidades” são sempre novidades ecológicas. Químicos zero.

 

De quando em vez vou ao campo, aquele campo um por onde passei na minha meninice horas infindas, de ratoeiras à cinta – nunca percebi porque havíamos de chamar ratoeiras aquela geringonça de caçar pássaros; porque não haviam de ser passareiras! –, canivete bem afiado  no bolso para golpear o canoulo, daí sacando gordas lagartas, engodo vivo, para atrair esvoaçantes arrevelas. A caminho, atrás de mim, pachorrentos como o são, compassava uma junta de bois donde só voltariam quando fartos. E ainda hoje me pergunto quando é que boi está farto? E quando dorme?

 

Os campos eram verdes, vastas eram as searas, cujo fruto, entre o mais, também servia para pagar a congrua ao Senhor Prior ou as pensões ao curador e ao enfermeiro, fora a gorda maquia que semana após semana ficava na moenda. Mas, para que as arcas se enchessem - essa era a meta - não havia leira que gozasse de pousio, tudo era amanhado e daí tudo se colhia; milho, feijão de toda a qualidade; frade, palhão, manteiga etc. A terra dava tudo e tudo era aproveitado.

 

O tempo foi correndo - agora mais moderno, as pessoas foram ensinadas a fazer o que fazem, pouco - e o que vemos? Vemos terras cheias escalraxo, valas entulhadas de silvas e outros pedúnculos, canais ao cuidado da Associação de Regantes aterrados – é certo que tenho sido relapso no pagamento do regadio, mas já viram vocemessês como está o campo? Uma lástima – de um modo geral não há campo. Há terras infestadas.

 

E, enquanto isto, fazem-se filas nas lojas do Ti Belmiro passando pela ranhura de uma qualquer caixa o magnetizado plástico descarregando cêntimo em cima de cêntimo. E dizem “está tudo pela hora da morte” E, a morte tem hora? Tem! Vamos morrendo a pagar caro e vamos comprando maleitas; sabem vocês o que comem? Tudo é muito bonito, muito bem embalado. Mas tudo tão artificial!...

 

Os lavradores da minha freguesia - que de lavradores já poucos o são -  ainda não vai longe o tempo faziam um encontro anual, mesmo no sopé que deu o nome à vila – o Monte Redondo - um encontro que servia para pôr a conversa em dia, para rever quem já se não via há muito, e, enquanto isso, saboreava-se apurado naco de galo - galo, galo – opípara comezaina regada a palheto, palheto natural.

 

Era de voltar aos encontros dos lavradores para amena cavaqueira e quiçá, automotivando-se ao cultivo dumas leiras onde pudessem voltar à mesa as puras e genuínas novidades da época, tais sejam; as alfaces, os agriões, os tomates, os pimentos, as batatas, o feijão verde, e bem assim as carnes caseiras e tudo o mais que a natureza cria sem complementos químicos que, como diz amigo meu “de uma forma ou doutra” acabamos por ingerir com larga possibilidade de apanhar tão espontâneas quanto incuráveis doenças.

 

O campo sempre deu saúde, o centro comercial sempre deu dinheiro. Ao dono! E sabem os meninos de hoje – já não digo de 8, 9 ou 10 anos – os de 15, 18 e 20 anos como se podem produzir  bens de primeira necessidade saudáveis?

 

Leiria, 2008.02.13



publicado por Leonel Pontes às 15:40
Sábado, 02 de Fevereiro de 2008

Há algum tempo atrás, alguém que viesse a terreiro dizer que a banca, e alguns banqueiros, iriam ser tema de muita conversa de café, de notícia de jornal, de telejornal, de denúncia, se alguém dissesse que uma tal criatura, honrada até à medula, geria sem ética, o dinheiro confiado aos seus bons ofícios; alguém que ousasse dizer, fosse o que fosse, sobre tão respeitável criatura e, outrossim, sobre tão impoluto banco – que era tido como um caso de estudo – esse alguém, só não seria enforcado porque em Portugal não há pena de morte; felizmente. Mas, no mínimo seria condenado por blasfémia.

 

E, eis que, qual língua mais entaramelada, sai a terreiro e consegue fazer perceber que alguma coisa andava mal em tão vetusta casa. No mínimo ficou-se a saber que por ali as contas não eram contas, antes e tão-só, eram números. E, quando os números não conseguem expressar tudo, devê-lo-ia dizer, inequivocamente, a prosa, o relatório de gestão.  Escondeu-se a verdade e fez-se, contabilidade criativa. E, quem devia fiscalizar negligenciou.

 

Mas, a crise foi remediada - só remediada - pois, a meu ver, a emenda foi pior do que o soneto. E, não fora, o meu país andar tão falado, nada diria. Mas, tenho o direito de opinar, de comungar da discussão pública das misérias em que o país mergulhou, por obras de nobres figuras.

 

Um dia destes durante as IV Jornadas da História da Contabilidade – o que eu perdia se não tivesse participado – colega estudioso, trouxe à discussão da classe acontecimento histórico sobre a falência do Banco do Minho (1865-1930) que fora criado por decreto régio ante parecer do Ministério das Obras Públicas endossado ao Rei D, Luis “apesar dos receios de se estar a permitir a multiplicação de entidades…  com possibilidade de emitir notas à vista e ao portador (dinheiro), o Conselho julga que enquanto factos importantes não demonstrarem, os perigos do caminho agora seguido, o Governo de Vossa Majestade não pode… deixar de conceder a qualquer nova associação bancária os mesmos direitos que a outros tem sido concedidos por lei e decreto-lei” E, quem tinha a capacidade de decretar, decretou.

 

E quem eram os donos do novo banco, eram homens hábeis e ainda os provindos do Brasil. Os abrasileirados conhecidos ao tempo por “empreendedores”. O que mais relevava à época – tal como agora – era o dinheiro, as regras de relevância contabilística, pouco importavam. E, muita criatividade se fez, inclusivé operações sem suporte, o que, obviamente, viria a dar bronca, como sempre acontece, ainda que se não queira, fica sempre o rabo de fora.

 

Entretanto, com alguma crise à mistura, o banco começou a ter dificuldades financeiras e fora pedida ajuda (apoio) ao Ministério das Finanças. Mas, em 1928 Salazar chega ao Ministério. Inteirando-se da situação, conhecendo as criatividades, outra opção não teve senão dar xeque-mate, por DL 19583, ao Banco do Minho. Digamos que o governante, por uma vez, esteve bem. Ou, se fazem as coisas cumprindo regras, ou se dá morte às habilidades.

 

Voltando ao princípio da história. Quem perdeu com a miserável história do BCP? Foram os pequenos accionistas. E, ao tempo do Banco do Minho quem perdeu? Foram os pequenos investidores. Ah, mas naquele tempo a falência de um banco deixava muita gente de rastos! Pois deixava. Mas curava-se o mal pela raiz. E agora? Agora remedeia-se e perdemos tempo a discutir o sexo dos anjos, qual católico mais fervoroso e temente a Deus, que vai todos os dias à missa, com uma reforma mensal de 100 mil euros no bolso, ou sejam 20 mil contos. Isto também é pecado. É o pecado da gula, oh Sr. Jardim. Tenha vergonha e faça (sem favor) uma dádiva mensal, pelo menos de metade a instituição de beneficência, sob pena de ser condenado ao inferno, já que por este mundo andamos parcos de justiça.

 

Leiria, 2008.02.02



publicado por Leonel Pontes às 23:46
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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