Quinta-feira, 20 de Março de 2008

Se, se ofender com palavras vernáculas, fique por aqui; não leia mais. Contudo, sempre digo que, a aferir pela receptividade dos meus leitores – coisa chique, não acham? “dos meus leitores!” –, só por isso, sem abusos, ouso escrever hoje e agora um texto sobre uma questão de gestão – de gerência – usando linguagem ipsis verbis; picante, embora dum léxico do qual já não sei o que é, e o que não é, vernáculo, posto que há um acordo ortográfico em discussão lá para as bandas do Brasil, do qual somos parte; e, por cá, alguém falou dele?  Mas, para a matéria, pouco importa. Vamos à história.

 

Numa empresa, nossa cliente; quatro sócios, volume de facturação razoável, empregando (ao tempo) à volta de cinquenta trabalhadores, salários ligeiramente acima da média, boa remuneração do capital investido, mercado florescente, bons rácios de performance, etc., etc. Quando assim é, todos querem dar o seu palpite.

 

Vai daí, a esposa de um dos sócios achava, isso mesmo, que tinha direitos de gerência – querendo, exigindo, que as suas opiniões fossem seguidas – opiniões, dadas a partir de casa, sempre ao arrepio dos princípios e das normas de gestão estabelecidas. Isto é; como dizem os brasileiros, enchia o saco ao marido. Este, por sua vez, em função desse aconselhamento, unilateralmente, vezes sem conta, derrogava decisões tomadas no seio da empresa, argumentando só no pós-decisões; em cima do que a esposa lhe havia injectado.

 

Com se compreende, por via disso, a situação começou a ficar tensa; conturbada, tão conturbada que a páginas tantas os outros sócios sugeriram que o melhor seria falar com a Senhora fazendo-lhe perceber que embora casada com um sócio, obviamente, não tinha estatuto para dar ordens, para fazer derrogar decisões.

 

Mas, a coisa aqueceu quando a dita veio à minha presença para uma reunião, na qual a deveria esclarecer e convencer, de que, gostando ela muito da empresa – que lhe enchia a boca, tal era o orgulho -, nem por isso poderia levar o marido a cair no ridículo, dando muitas vezes o dito-pelo-não-dito. E, que as suas opiniões, poderiam ser ouvidas, mas não poderiam fazer vencimento no seio da gestão; sobrepondo-se às da gerência.

 

E, pronto, com grande delicadeza, com os cuidados que sempre devemos ter perante uma Senhora, lá fui explicando que não obstante o marido ser dono de um quarto da empresa, essa detenção do capital não lhe dava, a ela, qualquer direito estatutário. E, terreu-teu-teu com punhos de renda lá a fui esclarecendo. E, eis se não quando, vendo a Senhora que estava vencida, pelo que emana da lei - não da minha opinião - eis que me reponde com voz firme e decidida “oh! senhor fulano, com essa é que o senhor me passou os colhões a ferro!”. Enfim, se a conversa tivesse acontecido aos dias de hoje, talvez, nem achasse anormal, porque agora tudo é aceitável, arregimentável até, mas ao tempo fiquei embaraçado com a saída da senhora, que por tudo deste mundo, não queria perder direitos de mando; que afinal não tinha.

 

Em apoio às suas teses, vem à liça o marido – até aí sempre calado -, dizendo-me prontamente “oh senhor fulano; a minha mulher, sempre foi assim, tem assim umas saídas, com graça, que lhe ficam muito bem! – e ria desbragadamente – olhe que, já noutro tempo, ainda ela era garota, contava o meu sogro, que Deus tem!, até os Senhores juízes vinham p’ráqui a banhos só para a ouvir!” O que poderia eu fazer? Fiz um esforço, para me manter sério, sem me rir, também!

 

E sabem o que vos digo, digo que as garotas fazem sempre das suas. O pior é quando deixam de ser garotas, levam vícios da má educação e do que tem graça, mas que não traz valor acrescentado.

 

Leiria, 2008.03.20



publicado por Leonel Pontes às 10:31
Sábado, 15 de Março de 2008

 

Como é sabido, durante o “fontismo”, o povo revoltou-se por não suportar mais tanto imposto. Ao tempo Fontes Pereira de Melo tinha uma visão – então não se falava de estratégia –, que era modernizar o país edificando os caminhos-de-ferro. A revolta fez mortos.

 

Hoje continuamos a dizer o mesmo, a sangria é de tal ordem que todos se queixam, e o pior é que não se vê para onde vai tanto dinheiro. Então, o melhor que podemos fazer é atalhar caminho, já. Urge dar ordem à coisa, e para tanto – já que não temos dinheiro - pelo menos que tenhamos ideias. Porque nos havemos de autoflagelar?

 

Quando em 12 de Novembro de 2003 foi aprovado o Código do Imposto Municipal sobre Imóveis – vulgo IMI - este começava logo por dizer no seu preâmbulo que “há muito tempo que se formou na sociedade portuguesa um largo consenso acerca do carácter profundamente injusto do regime de tributação estática do património imobiliário.” E, de facto assim é; temos uma política fiscal profundamente injusta.

  

Não tarda, de novo vamos ter eleições autárquicas, e - digo eu! -,  não se deveria fazer promessas promessas ao povo, fazer promessas é mentir. Daí que ouse fazer uma proposta, assim:

 

Dentro das baias em que as taxas podem deslizar proporia que estas tivessem uma variação consoante o número de almas do agregado familiar.Isto é; majoraria positivamente tais taxas em função do número de filhos. Quem não tivesse filhos, teria uma majoração negativa.

 

Todos compreendemos que é através dos impostos que o país é governado. Cobrar impostos é um direito constitucional, já não o é quando são cobrados desproporcionadamente.

 

Salvo melhor opinião e discussão, o legislador colocou nas mãos de um parceiro cego - os politiqueiros - ferramentas que tornam a máquina administrativa, não numa organização de “fisco” mas de “confisco.”

 

E, só por isso, os cidadãos pagam impostos sem que “realmente” tenham auferido proventos. Então porque é que pagam? Pagam porque a máquina diz que têm de pagar (já nem estamos a pensar naqueles a quem o estado vende as casas atirando-os para a rua, para o esmolar, sem avaliar das consequências sociais em que vamos caindo!) estou a pensar naqueles, que têm de pagar impostos, tal seja a antiga SISA sobre tornas.

 

Como não é justo – não há justiça fiscal – quando o cidadão tem de pagar IMT por valores de transacções nunca realizadas, valores inflacionados pelo fisco, sobre imóveis, que nessa base posteriormente hão-de pagar IMI também inflaccionado. E o que prevalece nesta matéria? Pervalecem índices que geram bases de liquidação superiores, sempre, aos valores efectivamente transaccionados.

 

Nessa peugada damos conta que esses impostos são mal administrados - e se mal! -, e logo insuficientes. E, volta a ser confrangedor ver um erudito da política, agora autarca, a choramingar perante as câmaras da televisão a dizer que não tem meios para pagar aos credores da autarquia.

 

Mas, quem manda executar obra não deve ter cabimento orçamental aprovado a content?. E, quem gere uma autarquia que recebe milhões desses impostos locais não deve saber o que está a gerir, consignando-os a fins específicos. Ou, os orçamentos são só para inglês ver?

 

Quando os impostos não chegam têm as autarquias a possibilidade de cobrar derrama, que agora sofreu alterações significativas. E, é a derrama aplicada em conformidade com a política que esteve na sua génese? Não. Damos um exemplo da nossa praça.

 

Durante muitos anos não se cobrou derrama. Entretanto, foi criada/estabelecida derrama para dar cobertura financeira a “habitação social” e a “saneamento básico”. Pois bem, onde está essa habitação social (que poderia servir de abrigo daqueles a quem o fisco vende em hasta pública as suas habitações). E tem o concelho uma rede de saneamento básico? Também não.

 

Então, o que se recebeu de imposto nestes últimos anos (quanto foi?) onde foram efectivamente gastos. Ou teve aplicação em gastos correntes, ou investimentos supérfluos?

 

Não é só de saneamento básico que se precisa, mas também e sobretudo saneamento financeiro. É preciso reformar o paradigma da gestão autárquica. Já! E baixamos os impostos? Sim, os locais, controladamente, em consonância com uma nova politica de emprego geradora de resultados nas empresas para suprir os custos da derrama.

 

Façam alguma coisa que se veja, andem lá! Porque teimam em complicar o que é fácil?

 

Leiria, 2008.03.15



publicado por Leonel Pontes às 13:40
Sábado, 15 de Março de 2008

No mínimo, temos vindo a assistir a um espectáculo confrangedor, se não inqualificável. Quando em campanha eleitoral o actual primeiro-ministro disse que iria baixar os impostos (e não vamos agora dizer o que sustentou, sobre a matéria). Porém, chegado ao governo aumentou-os (também não vale a pena relembrar o que disse). O que se sente é que deliberadamente induziu os eleitores em erro; levou-os ao logro.

Porém, todos bem compreendemos que é através dos impostos que o país é governado. Cobrar impostos é um direito constitucional, já não o é quando são cobrados desproporcionadamente. Cabe, ao estado cobrar impostos e, a essa máquina administrativa convencionou-se chamar de “fisco”. Mas, salvo melhor opinião e discussão, o legislador (por via de quem ganhou as eleições, mentindo) colocou nas mãos (nos computadores) de um parceiro cego, ferramentas que tornam a máquina, não numa organização de “fisco” mas de “confisco.”

E, só por isso, os cidadãos pagam impostos sem que “realmente” tenham auferido proventos. Então porque é que pagam? Pagam porque a máquina diz que tem de pagar (já nem estamos a pensar naqueles a quem vendem as casas atirando-os para a rua, para o esmolar, sem avaliar das consequências sociais em que vamos caindo!) estou a pensar naqueles, que têm de pagar impostos, tal seja a antiga SISA sobre tornas. Como não é justo – não há justiça fiscal – quando o cidadão tem de pagar IMT por valores de transacções nunca realizadas, valores inflacionados pelo fisco, sobre imóveis, que depois hão-de pagar IMI também inflaccionado. E o que prevalece nesta matéria? Pervalecem índices que geram bases de liquidação superiores, sempre, aos valores efectivamente transaccionados. 

E, na peugada, do que damos conta. Damos conta que esses impostos são mal administrados, muito mal, e logo insuficientes. E, volta a ser confrangedor ver um erudito da política, agora autarca, a choramingar perante as câmaras da televisão a dizer que não tem meios para pagar aos credores da autarquia. Uma vergonha. Mas, quem manda executar obra não deve ter cabimento orçamental aprovado a contento? E, quem gere uma autarquia que recebe milhões desses impostos locais não deve saber o que está a gerir, consignando-os aos fins específicos. Ou, os orçamentos são só para inglês ver?

E, como estes não chegam ainda têm as autarquias a possibilidade de cobrar derrama, que agora sofreu alterações significativas. E, é a derrama aplicada em conformidade com a política que esteve na sua génese? Não. Damos um exemplo da nossa praça.

Durante muitos anos não se cobrou derrama (que incide sobre os resultados das empresas) Entretanto, foi criada/estabelecida derrama para dar cobertura financeira a “habitação social” e a “saneamento básico”. Pois bem, onde está essa habitação social (que bem poderia servir de abrigo àqueles a quem o fisco vende em hasta pública as suas habitações). E, quiçá, tem o concelho uma rede de saneamento básico? Também não. Então, o que se recebeu (quanto foi?) nestes últimos anos onde foi efectivamente gasto. Ou teve aplicação em gastos correntes, ou investimentos supérfluos?

Não é só de saneamento básico que se precisa, mas também e sobretudo saneamento financeiro. É preciso reformar o paradigma da gestão autárquica. Já! E baixamos os impostos? Sim, os locais, controladamente, em consonância com uma nova politica de emprego geradora de resultados nas empresas para suprir os custos da derrama. Façam alguma coisa que se veja, andem lá! Porque teimam em complicar o que é fácil?

 

Leiria, 2008.03.15



publicado por Leonel Pontes às 09:53
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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