Sexta-feira, 27 de Agosto de 2010

O trabalho tinha que ser feito, não existiam tempos mortos. A ordem soava imperativa "depois dos trabalhos de casa - hoje têm por acrónimo TPCs – pões o gado ao carro e vais ter ao campo”. Ordens não se discutiam, nem tinham direito a resmungo. E, o fim de tarde chegava num instante.

 

Sem perda de tempo lá ia ao curral tirar o gado, passando, com cuidado, pelo seu meio em direcção à manjedoura, não fosse levar um coice, ou mesmo uma cornada. Sentindo gente ficavam desinsofridos e quando soltos logo corriam em pinotes pátio fora; bem sabiam que iam trabalhar, mas a alegria de se verem fora do curral animava-os. Foi assim que aprendi a lidar e a respeitar o gado corno. Entre as várias regras; para bem os dominar era preciso deixá-los cansar; espinoteando.

 

Um após outro juntava-os e perfilava-os; lado a lado, com esforço, escarranchava-lhes a canga sobre o cachaço; corria as peaças pelos cornos, após o que atrelava a cabeçalha à canga através da xavelha. (As coisas que sei fazer!)

 

E lá íamos estrada fora – ao tempo não havia o movimento de carros de tracção motorizada de hoje – a caminho do campo, não sem que, não tivesse cometido alguns erros; mas com eles aprendi. A tarefa de colocar os bois ao carro tinha ordem - como tudo -, um puxava do lado esquerdo e outro do lado direito. Conquanto, pensava eu, que era todos iguais.

 

O certo é que os animais se deslocavam de modo muito lento, fazendo uma força centrítpta – ao tempo, sabia lá o que eram forças! – contra a cabeçalha, e em vez de andarem prá frente empurravam pra dentro, o tempo passava e nunca mais chegávamos ao campo. Até que, ao passar por nós o ti Manel Pereira ao ver-me enfurecido com os bois disse: “oh rapazito os animais estão trocados, assim não andam!”

 

O homem ajudou-me a desaparelhar os animais, trocou-os e voltou a pô-los ao carro. E não é que os bois passaram a andar de forma ágil. Inevitavelmente, cheguei atrasado. Logo ouvi um ralhete “primeiro estava a brincadeira, não foi?” Quando é assim o melhor é ficar calado, e quando a conversa mete bois, então o melhor é mesmo esperar por asada oportunidade.

 

Enquanto isto dizia pra comigo “estes bois um dia, hão-de ter a sua encarnação”, que só poderia ser em boi; hoje não tenho dúvidas! Portanto, para além de um bom tirocínio de lide, o melhor é pôr-lhes mesmo o nome – um, o Chalado, e outro Encarnado, que de tão carregado, chamava-o de Encarnadão -, aparelhando-os a contento.

 

Quanto me tem valido na vida haver feito de tudo, por isso sempre que necessário - ainda hoje, já cair para velho - enfrento qualquer lide. Outrossim, procuro estudar as bestas não vá sair coice ou mesmo cornada que já não curaria com as fricções de alambique.

 

Leiria, 2010.08.27



publicado por Leonel Pontes às 17:14
Sexta-feira, 20 de Agosto de 2010

 Tenho aproveitado, tanto quanto possível, há anos, esta coluna do REGIÃO de LEIRIA, onde teço considerações sobre assuntos, a meu ver, pertinentes do interesse do nosso concelho. Hoje utilizá-la-ei para dar opinião em matéria que me é cara, as empresas municipais. Muito tenho lido sobre a matéria, porventura analisado conceitos subjacentes a este tipo de empresa.

 

Localmente têm sido proferidas opiniões do mais bizarro que já vi, por vezes, ficamos com a ideia que vivemos num país de gente rica, ousaria até dizer se - quem assim se manifesta - também faz em sua casa, ou nos seus negócios o que publicamente opina como solução para a rentabilização do estádio municipal. Há quem diga, que esta obra rentabilizar-se-ia implodindo-a, vendendo-a, fechando-a, entregando-a a particulares, etc.

 

Mas este tipo de opinião – se é que chega a ser opinião, mesmo vinda de destacados opinions maker da nossa praça – a meu ver não é opinião responsável, porquanto não é sustentada, nem fundamentada, especialmente, porque falta de prévia discussão em fórum apropriado. E, em consequência, alguns portugueses são pouco dados a pensar, logo apressam-se a seguir tais opiniões.

 

Convirá, pois, deixar claro que o Estádio Municipal nasceu onde não devia. Mas nasceu, agora só nos resta saber dar-lhe vida, aliás sempre manifestei opinião neste sentido. Na altura o velho estádio Dr. Magalhães Pessoa havia sido objecto de recente intervenção, portanto ao ser demolido aí começou o primeiro desperdício de dinheiros públicos e equívoco.

 

Depois, o actual estádio foi mal concebido - adjectivarei melhor e direi: contraditoriamente mal concebido - porquanto é muito grande para as necessidades do concelho, e é pequeno para a prática de competições internacionais. Todavia, está dotado de infra-estruturas periféricas que urgem ser convenientemente utilizadas. Por outro lado, a exemplo de similares infra-estruturas por essa Europa fora – e não só – deveria servir para outras actividades que não só o futebol. Basta sair fora de portas e ver!

 

Com efeito, o de Leiria, está dotado de “n” infra-estruturas que, se devidamente aproveitadas, podem (já estão) suprir muitas insuficiências de que a nossa cidade está carecida. Escuso-me de citá-las, porque são públicas, as muitas entidades que utilizam tais instalações, classificando-as de soberbas.

 

Para além do estádio, a empresa municipal de Leiria, gere um conjunto de infra-estruturas desportivas, com utências de mais de seis vezes a população do concelho, e não consomem um avo do orçamento do estado. Dir-me-ão: mas o Município paga uma parte desses serviços? Claro que paga! E sempre pagaria, com ou sem empresa municipal, logo o desembolso é sempre igual.

 

E, para dissipar dúvidas, poder-se-ia fazer um debate público sobre a política desportiva do concelho. Porque se foge do confronto dos números e do modelo de gestão. Desde logo, não só o modelo, mas também o termo choca-se entre “gestão” e “governância” e por isso ouso citar o Prof. Dr. Carlos Lobo quando desabridamente diz que “quem pede a extinção das empresas municipais não conhece o seu trabalho”, e eu acrescentaria que, nem os seus quadros.

 

Por outro lado permito-me citar ainda o gestor e político que mais crédito merece neste governo, o Prof. Dr. Teixeira dos Santos quando diz que o “governo quer aprofundar reformas no sector empresarial do estado” E porquê? Desde logo, porque as Câmaras Municipais estão prenhes de ineficiências, de hábitos, de práticas, de gente que não acompanhou – ou para tanto não foi preparada – o progresso. E por via disso, as Câmaras são autênticos alfobres de gente que não produz o que deveria produzir. E como aproveitá-los maximizando cada euro gasto? É encerrando-as? Não! No mínimo é reestruturá-las.

 

E, só se poderá por um travão nesta quase “medieval” governância autárquica, criando – isso sim - mais empresas especializadas não só no desporto, como nas águas, na educação, na acção social, no ambiente, na cultura, nos transportes, etc., devidamente controladas com objectivos essencialmente empresariais; empresas que consolidariam para cima. As Câmaras seriam, na sua essência órgãos políticos tout court, sendo que para tanto também o governo deveria estar aberto a uma reforma profunda do edifício administrativo do poder local, e não só!

 

Leiria, 2010.08.20



publicado por Leonel Pontes às 12:01
Segunda-feira, 09 de Agosto de 2010

Noutro tempo, por dá cá aquela palha, evocava-se com gáudio, por vezes com um mix de desdém, que Portugal era “um jardim à beira mar plantado”. E assumamos sem medos de rótulos o nosso portuguesismo; e era!

 

Nesse tempo, não havia televisão que mostrasse esse jardim, tinha-se de sair fora de portas para o contemplar, bem como às maravilhas circundantes. E tudo o que se via, nomeadamente na fileira florestal – publica e/ou privada -, estava cuidado e preservado, até se dizia que a floresta era nosso petróleo verde.

 

Tais tempos já são passado, mas não tanto, que não os possamos ver diante da nossa retina sem ajuda da caixinha das surpresas; as televisões. Com efeito, o que menos falta nos faz, é este meio de informação (e é?) a aproximar a nossos olhos, o que outros querem que vejamos pela sua óptica. O que verdadeiramente vemos não é um jardim à beira mal plantado, o que vemos é um Portugal à beira mar queimado.

 

Bem como vemos um Portugal sujo, desleixado, lixado, sem limpeza, porco, sem aceiros abertos, com uma floresta desprezada, sem riquezas naturais; um Portugal que passou de exportador a importador de madeiras. Viesse cá o Rei D. Dinis e vocês veriam!

 

Enquanto isso o que vemos nas televisões são fogos em directo, onde parece que já estava a caixinha das surpresas à espera para os reportar. Vemos gente d’aquém e d’além a reivindicar mais bombeiros, mais meios, mais disto e mais daquilo. Todavia, o que verdadeiramente está em causa é a falta de planeamento e saneamento florestal.

 

Vemos ainda, como se viu este fim-de-semana, o país em chamas, como foi dado ver em S. Pedro do Sul. Concomitantemente, vemos uma mole de gente, alguns com ar extasiado, no mesmo S. Pedro do Sul, em animado espectáculo musical aborrecidos porque pr'ali avançavam, e já estavam a menos de dez quilómetros, as vastas labaredas. Uma chatice, não foi!?

 

A mesma televisão, deste Portugal à beira mar queimado, dava-nos ainda conta, de que num outro recanto, a sudoeste, num outro espectáculo musical - que grandes ganhos trazem ao orçamento do estado! -, foram apreendidos uns quilitos de pó risonho. E pergunta-se: é isto que querem? É isto de que precisa para ganhar o futuro?

 

Enquanto isto, o país continua a arder, em lume brando; um país de gente que privilegia a festa e o descanso em vez do trabalho; um país de escombros onde já laboraram excelentes unidades de produção; um país de terra queimada; um país que não se governa deixa governar; um país de eruditos onde nem sempre sabem a tabuada; gente que guia o país em contra-mão conduzindo-o cada vez mais para o abismo.

 

Se pudesse governar – poder posso, mas não me deixam! - este país voltaria a ser um jardim à beira mar plantado. Oh se seria! Estou em crer que apreciariam a minha governação.

 

E que tal (como diria o meu avô) “na casa deste home, quem não trabalha não come!” E dinheiro “cada um gasta o seu!”

 

Leiria, 2010.08.09



publicado por Leonel Pontes às 15:42
Terça-feira, 03 de Agosto de 2010

Não recordo onde li; mas que li, isso li! E quem escreveu, escreveu! E, por certo que, aos dias d’hoje (havendo-se finado no mês de Agosto do ido ano 1900, em Paris) nada negaria do muito que escreveu. E, até estou em crer que ainda mais condimentaria, quando disse “Portugal é um bom país, anda é mal frequentado!”

 

Como por certo também não negaria – nem poderia, porque o que escrito foi, escrito está! - que da sua cédula de nascimento constava (coisa rara, se não única) ser filho de mãe incógnita. O pai, também ele, Eça de Queiroz, foi magistrado do reino.

 

E com que lata - não os filhos, como o fora Eça - mas os filhos da mãe, gerem e frequentam este bom país levando-o cada vez mais pró fundo. Míseros servos.

 

Quanto não custa ao país o sem número de processos que resultam sempre, mas sempre, inconclusivos; ou prescrevem, ou foram instaurados quase que por lapso. Ou seja a que pretexto for, mas ninguém paga penas; pecuniárias, de cárcere, ou mesmo morais.

 

E vocês, cidadãos tão mortais quanto eu, ou quanto o foi Eça, acreditam em tanta bondade? Claro que não! Por exemplo, na América, o “batotas” Madoff, não obstante haver sido um proeminente filantropo, foi indiciado, julgado e posto no cárcere em menos de um esfregar de olhos. E se fosse em Portugal quantos anos andaríamos a queimar dinheiro aos cidadãos?

 

E os “aldrabas” da ENRON, líder americana na distribuição de energia que, não obstante dar emprego a 21 mil pessoas, os gestores e os auditores foram objecto investigações que correram céleres. E quais foram as conclusões? Aqueles responsáveis – num curtíssimo espaço de tempo - foram condenados, ao cárcere, a empresa liquidada e a empresa de auditores extinta. E por cá como seria? Por certo, de explicações em explicações, tudo ficaria na mesma. E ainda se diria: no melhor pano caiu a nódoa!

 

As autarquias portuguesas estão obrigadas a uma série de regras em matéria de controlo e certificação de contas. Mas logo se diz; mas pagam tão mal, quem é que pode fazer-lhe um trabalho sério? E o que fazem? Nada! Mas nem mesmo mal pagos renunciam à cifra.

 

E vai daí um certo funcionário de uma certa Autarquia do distrito abotoou-se com 500 mil euros. E agora? Sim e agora, de quem é a culpa? É do funcionário? E ninguém viu? E estava sozinho? Durante quanto tempo esteve em roda livre. Mas a Câmara não tinha auditores? Tinha. E onde estavam?

 

Em matéria de facto; isto é, em matéria de auditoria, o que mais os preocupa são vírgulas. E 0 “pandan” para ganharem (mesmo mal pago) o serviço para o seu portefólio. E no que deu? Deu nisto; em mais um facto a emporcalhar a sociedade, a região até, porque mal frequentadas anda. E a auditoria? Ah, Isso dá trabalho!  

 

Volta Eça porque esta gente precisa de quem lhes abra a pestana. Por mim, que não tenho a tua sábia pena, ainda assim não deixarei de fazer o que deve ser feito. Chamar à atenção desses filhos da mãe que têm responsabilidades que de modo nenhum podem ser negligenciadas.

 

Leiria, 2010.08.02



publicado por Leonel Pontes às 16:26
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
mais sobre mim
Agosto 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
10
11
12
13
14

15
16
17
18
19
21

22
23
24
25
26
28

29
30
31


pesquisar neste blog
 
subscrever feeds
blogs SAPO