Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010

Por muito que procure entender, não consigo perceber.

 

A caixa do correio tem afixado - e quando já não tem, já esteve -, uma ou mais sobrecargas informativas “publicidade AQUI NÃO”. E por mais avisos que sejam afixados, todos têm o mesmo destino; para além de desrespeitados, são arrancados.

 

Enquanto isto as inocentes caixas continuam a ser atafulhadas de papel que ninguém lê; pelo menos nós. Procurando pôr fim ao desmando – sim, porque o abusivo procedimento de um desmando se trata – interditamos as bocas, das ditas, com forte fita-cola. Uma só fica aberta para recepção de correspondência. Pura perda de tempo. As fitas também são arrancadas, e continuam a atafulha-las com quilos de papel.

 

E, eis se não quando, encontrámos por mero acaso ali uma diligente funcionária, sabe-se lá de quem, afogueando a caixa do correio, e dizemos-lhe “aí não ponha publicidade, obrigado”. Fez de conta que não ouviu, olhou-nos de soslaio e continuou a atacar papel em cima de papel. E voltamos a dizer: “não vê que isso está cheio e nós não queremos publicidade!”. Não ligou pívea ao que dissemos e avança para o prédio seguinte.

 

Em consequência, todas as semanas o serviço de limpeza retira das caixas de correio papelada que nunca mais acaba e enche farto saco com papel que é leva pró contentor do lixo, papel que corresponde a muitas árvores abatidas.

 

Compreende-se que quem distribui aquela futrica tenha que fazer aquilo porque contratada foi para o fazer. Como bem se compreende que aquele trabalho seja o seu ganha pão.

 

O que não se compreende, é que as empresas que assumem o serviço de distribuir porta a porta conteúdos publicitários, não entendam que devem dar formação aos seus colaboradores informando-os de que o seu serviço não é despejar toneladas de papel pelas caixas de correio, há quem não queira publicidade e nem tempo tenha para sistematicamente estar a desentupir as simpáticas caixas de correio que na sua incomensurável simpatia aceitam tudo o que pr’ali atiram.

 

Por outro lado sem pretender meter o nariz em ceara alheia, os ambientalista – que de algum modo todos somos – deveriam dar eco deste flagelo pedindo a quem de direito que se papel, que parecendo uma coisa barata e sem importância, é um desbaratar de uma matéria-prima caríssima e cada vez mais escassa.

 

Em conclusão “AQUI NÂO” é mesmo NÂO! Não queremos as caixas de correio cheias de lixo, que até poderia ser reciclado, mas nem isso é feito.

 

 2010.09.28



publicado por Leonel Pontes às 11:39
Terça-feira, 21 de Setembro de 2010

Seja-me permitido que inicie esta crónica num tom inquisitivo; sabe quem foi Nehru, e porque é usada comummente a expressão “terceiro mundo”?

 

Para quem estuda ou se interessa pelas coisas de política, sabe que Nehru foi herdeiro político de Gandi, como foi o único culpado por Salazar ter expulsado das fileiras do nosso exército o General Vassalo e Silva por ter assinado a rendição de Portugal ante a invasora Índia. O ditador nunca relevou a atitude.

 

Nehru foi o primeiro-ministro da Índia, de 1947 até 1964, como foi activista do movimento dos não-alinhados, tendo pugnado, não só, pela independência da Índia, como por uma nova ordem político-económica. Daí haver recusado fazer alianças com o Ocidente, ou com a potência que era, à época, a União Soviética, inculcando ao mundo uma nova ordem, o “Terceiro Mundo”.

 

Mas não tardou que o mundo associasse “Terceiro Mundo” a atraso, pobreza e subdesenvolvimento. Todavia, hoje (cinquenta anos mais tarde) a Índia é um forte parceiro do grupo BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China -

 

O ano de 1961 foi terrífico para Portugal, nomeadamente para os militares. E cada vez mais, somos menos a lembramo-nos do que foi a vivência desse facto, sendo que - não obstante a invasão ter ocorrido em 1961 – e, os principais intervenientes Nehru, Salazar e Vassalo e Silva já não fazerem parte do mundo dos vivos em Abril de 1974, foi só então que Portugal reconheceu a anexação dos ex-territórios portugueses pela Índia.

 

Mas não foram só os militares que sofreram os efeitos da invasão, foram também muitos civis que se refugiaram em Moçambique e em Timor, e nesta província, com muitos desses “retornados”, mais tarde, convivi como fora o Mari Alkatiri, que após uma violenta guerra civil seguida de invasão pela Indonésia – outro país dos não-alinhado –, acabou por ser primeiro-ministro de Timor, sendo ainda hoje um dos mais proactivos políticos.

 

A conclusão desta crónica pretende fazer alguma luz quanto ao “Terceiro Mundo”, posto que o verdadeiro significado era de um mundo independente, rico, e com capacidades próprias. Porém, mercê de “n” vicissitudes, hoje quando alguém se quer referir à pobreza, à incúria, à desorganização – e a tudo o que queira significar coisa menor – logo se diz: estamos pior que o “Terceiro Mundo”

 

Mas, talvez não seja tanto assim, pese embora no Portugal de hoje, haver só uma, e uma só, categoria de profissionais com emprego e trabalho assegurado, “as polícias”. Contudo, nem por isso, podemos perder a esperança, porque os tempos passados sempre foram os piores. Eduquem-se, ou desprezem-se os partidos, porque pobres e insolventes já estamos.

 

Leiria, 2010.09.20



publicado por Leonel Pontes às 11:45
Quarta-feira, 15 de Setembro de 2010

Como qualquer cidadão que se interessa pelas coisas do seu país tenho opinião, advinda do acompanhamento que faço pelos media, do dossier “encerramento de escolas”, facto grave, senão gravíssimo, porquanto é indiciador de produzir assimetrias. Por outro lado, ficam-nos dúvidas se o modelo em reorganização traz um avo de poupança para o erário público.

 

E começo por dizer que não concordo com a medida, e, como qualquer cidadão, no seu perfeito juízo, com o facto não pode concordar, porquanto o que está subjacente ao encerramento é uma questão económico-financeira; isto é, escola com menos de 20 alunos não justifica estar ao serviço da educação porque provoca mossa no orçamento?

 

A educação não é, nem pode ser vista, como uma questão financeira, muito menos económica. A educação é tout court um investimento, e como qualquer investimento – se for bem feito! -, o seu retorno só será quantificado a médio e longo prazo.

 

Ainda assim, valeria a pena reequacionar a questão de modo a colocar o tecto numa cifra mais abaixo, eventualmente, 10 alunos. E porquê? Porque com a transferência dos educandos para outros espaços tal mudança tende a aumentar custos, que hão-de de ser pago por alguém. Por outro lado é evidente que tais mudanças concorrerão para outras mudanças, não só das crianças, como também das famílias. Não ocorrerão de imediato, mas verificar-se-ão a seu tempo.

 

Cabe ainda analisar que, todo o discurso político do país vai no sentido de cortar gastos, e a explicação é sempre a mesma, cortar, cortar, cortar – no elo mais fraco! No caso em apreço não está claro que o corte de gastos traga alguma poupança. Haverá, isso sim, uma mutação de valores que dada a sua natureza converter-se-ão em gastos com transportes, edifícios em degradação, o pequeno comércio que fica cada vez mais fragilizado, perda de actividades locais. Etc., etc.

 

Mas se a questão está no cortar, já pensou o governo em começar o corte por cima, tal seja redução de efectivos da Assembleia da Republica, no mínimo para metade, e mesmo assim ainda teríamos deputados a mais. E já fez o governo alguma coisa para reduzir o número de Ministérios de Secretarias de Estado, até de Autarquias?

 

Por outro lado ainda, não existem custos com a actual estrutura orgânica do país sem o menor retorno económico e que de facto são um sorvedouro de dinheiro. E não era de bom princípio em vez de andarem a discutir – agora – a constituição dever-se-ia de discutir, isso sim, a reorganização da máquina administrativa do país. Quer se queira, ou não, o país tem andado a viver em abastança. As promessas deram nisto!

 

Com efeito, a abastança terá de ser paga a qualquer tempo. Não menos certo é vermos gente que nunca nada geriu ou produziu coisa alguma. Ainda assim, todos esses serviram para a vida política. Aliás, até se diz, que quem não tem competências para trabalhar, tem-nas para uma funçãozeca política. E o que trouxeram ao país? Prejuízos, prejuízos, prejuízos.

 

Sem parafrasear ninguém, menos ainda um comentador de plano inclinado “essa gente sabe pouco” e o pior é que não sabem, que não sabem. A solução do país passa por melhor ensino, melhores escolas, melhores condições formativas em ordem a uma acção comportamental com futuro. Filhos longe da mãe tendem a comer os olhos do fruto do qual se hão-se alimentar. Com os comportamentos actuais não estão, não só a encerrar escolas, como também o país?

 

Leiria, 2010.09.13



publicado por Leonel Pontes às 14:41
Quarta-feira, 08 de Setembro de 2010

A imprensa da semana finda a quatro disse que o desemprego atingiu mais de 600 mil. E nós diremos que para um país pequeno, como o nosso, a cifra é preocupante.

 

Uma primeira questão se põe. Porque temos desemprego? Temos tudo feito? São esses desempregados especialistas em produção de foguetões - e como ninguém vai à lua – não se vende tal meio de transporte? Estavam aqueles desempregados afectos a actividades agrícolas e os celeiros já estão cheios? Desemprego porque?

 

Havendo desemprego por que é que aparecem afixados nos frontais dos estabelecimentos pedidos de colaboradores para os mais diversos trabalhos? Porque é que, não raras vezes, somos atendidos por estrangeiros, que até podem ser o diabo, mas em nada ficam aquém da simpatia e até da beleza feminina das portuguesas. É mentira?!

 

Poder-se-á tirar, desde já, uma primeira conclusão. Os 600 mil são os que estão no sistema; Instituto de Emprego. Os estrangeiros porque não fazem parte do sistema, para sobreviverem são precisamente os que se dispõem a trabalhar. Há dúvidas ou outras conclusões?

 

Porventura descenderei de povoadores que se fixaram em Monte Redondo; antepassados guerreiros. Não descendo de húngaro exilado, como Sarkozy, ou de imigrante arménio como Azenavour, ou de italianos como fora Sinatra, ou ainda de queniano como Obama.

 

Diz o povo que à terra onde fores ter, faz como vires fazer. Foi o que fizeram aqueles que para sustento dos seus tiveram de abraçar o trabalho fora dos seus países. Como português orgulho-me do papel dos portugueses no mundo do trabalho, como orgulho tive – quando abandonado e perdido no aeroporto de Nova York –, de naquele país ter encontrado a todo passo imigrantes das mas diversas origens.

 

O motorista que nos levou para a albergaria era proveniente do Haiti. O recepcionista da dita era porto-riquenho. As funcionárias do front-office do aeroporto, quer aquelas que nos atenderam à chegada, quer as que nos descalçaram a bota prá saída, todas eram portuguesas. O seu apego a Portugal era praticamente nulo.

 

Em Roma sê romano, na América sê americano. E foi isso mesmo que vimos, numa primeira impressão àquelas gentes. Após as primeiras palavras, logo demos conta que eram de origens diversas. Mas tantos e tantos portugueses que ali trabalham, e reconhecidos são pelas suas competências.

 

Porque é que em Portugal contribuem para o agravamento do endividamento geracional que há duas décadas aqui antevimos? Porque se privilegia o desemprego em detrimento dum enriquecimento nacional? Porque não se privilegiam os entes geradores de emprego, em vez do continuado descanso. Somos muito descansados, não somos?

 

Leiria, 2010.09.08



publicado por Leonel Pontes às 15:01
Quarta-feira, 01 de Setembro de 2010

Em Marrazes, no Zé Mário, um café – mesmo com cheirinho a bagaço – custa 50 cêntimos, na moeda velha “cem escudos, com vinte centavos”. Digamos que é um preço aceitável. O café é bom, a higiene também, o estacionamento serve, e por isso os fregueses estão fidelizados. Por tudo isto, de quando em vez, ali tomo café.

 

Em qualquer outro sítio da cidade de Leiria – convém esclarecer que até ao rio Lis, Marrazes também é cidade -, em qualquer outro “café”, em nenhum deles se toma um café por cinquenta cêntimos. E, até há quem cobre por café, com cheirinho um euro, ou seja na moeda velha, duzentos e tal escudos.

 

Nem sei se é legal o cheirinho! O que é sabido é que acabaram com a produção do cheirinho; dos alambiques que por esse país fora produziam o que havia de mais genuinamente português, o bagaço; “aguardente”. Fica mais barato importar e para que o tesouro arrecade mais uns cobres - até existe o imposto sobre o álcool, que faz parte dos IECs (Impostos Especiais sobre o consumo) -, tudo serve para inviabilizar o que é português. Talvez seja defeito meu, mas somos o país cheio de exotismos.

 

Mas porque é que a crónica de hoje há-de ser o café. É o café porque sem querer fiz um achado. Vim uma semana para descanso pró Algarve. E como obedeço às ordens de família – só às de família! –, vim sem saber o concreto destino.

 

E lá vem conduzido pelo GPS para os Salgados - Praia dos Salgados -, nas cercanias de Albufeira. Pensei: vou cair praí num desses amontoados de gente fina, a escarrar a todo passo, gente afrancesada “mon petit tu vá tomber, e ainda partes o focinho –, os militares do tempo do Lobo Antunes, também disseram que lhe partiam o focinho. E eu com pruridos de educação!  

 

Nada do que pensei, aconteceu! O sítio é calmo, é um vastíssimo empreendimento, novo – pese embora o que penso sobre o Algarve, metade deste deve ser requalificado se, se quer vender turismo de qualidade. Nestas andanças, como noutras, procuro gastar sempre o menos, daí que tratei de encontrar um supermercadozito onde pudéssemos comprar umas coisas que sirvam de almoço. Em tempo de férias também temos de dar descanso aos “molinexes” quando menos comermos mais desintoxicamos o organismo.

 

Mas em férias não podem abdicar de todos os hábitos - devemos manter alguns -, o café é um desses. Passeando rua fora, facilmente encontrámos onde fazer as compras. E logo por aí encontrámos também um sítio onde tomar o café. E logo se disse, depois do almoço já sabemos onde vir acabar a degustação.

 

Quando ali voltei, um axioma económico confirmei e que se insere na estratégia dos preços, que diz: só podemos cobrar o que o mercado pode pagar. E tanto eu como muitos outros que ali vão poderíamos pagar por um café os cinquenta cêntimos do cafezinho do Zé Mário. Mas o preço afixado e praticado era de 40 cêntimos. Pensámos: só pode ser água chilra! Enganámo-nos era café tão bom, ou melhor, do que aquele que se toma em sítios, supostamente “chiques” que vão até aos dois euros. E mais!

 

Há crise? O que há é uma falta generalizada de visão estratégica do que são os negócios e daquilo que queremos que eles sejam. Porque será que só somos atendidos por estrangeiros? Onde estão os portugueses? Mas dizem que há desemprego!

 

Ah! Falta dizer o nome do estabelecimento o “oceano” que todos pronunciavam à inglesa - onde nem eles faltavam -, “ouchecian"

 

 

Leiria, 2010.09.01



publicado por Leonel Pontes às 16:26
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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