Segunda-feira, 28 de Março de 2011

“O homem está teimoso, não sai das onze notas e meia, faladinho talvez venha prás onze; a rês é boa!“A conversa continuava. Eu ouvia (e procurava perceber a coisa), mas não contava pró caso.

 

No dia “vinte e nove” de cada mês, dos anos cinquenta do século (e do milénio) passado, não faltavam na minha aldeia reses para negociar. Perto daquela estava uma outra bezerra, de olhar mortiço – esquelética de espinhaço a querer saltar para fora da pele - ao que soube depois vinha cheia de piolho, por isso não podia medrar. Por aquela, o vendedor pedia dez notas e meia. “Mas não as vale, diziam os feirantes”. O certo é que ninguém queimou o preço.

 

As conversas embrulhavam-se umas às outras; todos opinavam. A conclusão final foi; uma das bezerras não poderia ser vendida por menos de onze notas. E a marrana acabaria por ser comprada por dez notas.

 

As feiras dos "vinte e nove" foram assim durante anos. Os preços eram fixados em notas; uma nota valia, nem mais nem menos, “cem mil reis”. Assim sendo, a bezerra de 10 notas custou um conto de reis, ou seja ao tempo de hoje 5 €uros. 

 

Os tempos foram passando e as notas de “cem mil reis” passaram à história, as feiras também – as do gado corno, estão proibidas – e tudo assim vai! Neste país tudo se pode fazer, menos trabalhar. E mais se diz; tudo deve ser vendido, com qualidade, marca, mas só em sítio de eleição, e trolaró. Mas o trabalho é que anda muito atrapalhado.  

 

Contudo, quanto à questão “n” conclusões poderemos tirar. Vamos só a uma. Não havendo bezerras não há vacas, não havendo vacas não há leite (é que o leite não vem do supermercado; vai pró supermercado). Mas em compensação temos muita ciência acumulada, cursos para todos os gostos, normas para tudo, bem como temos milhares de hectares campos desertos, a criar mato, gente sem saber o que fazer. Criar gado é que é uma chatice; não pode ser.

 

Concomitantemente temos uma balança comercial desequilibrada; o país não produz, manda para fora o pouco dinheiro que não tem, para importar, para os ditos espaços de eleição, bens com que nos havemos de alimentar. E há outras soluções? Então não há! Não temos a menor dúvida.

 

Os tempos de hoje são outros; disso também não há dúvidas. Mas então, porque havemos de viver e morrer pobres podendo ser ricos! Porque a muita ciência acumulada não deixa ver o óbvio, mesmo defronte aos olhos.

 

E assim vamos andando. Um dia destes, na capital do país entrei num café, por sinal onde não faltava gente (eventualmente falando sobre negócios, de vacas?!), pedi meia torrada (o trigo também está pela hora da morte!) e “meia de leite”. E quanto paguei? A rir e sem demasias, 5 euros. Foi quanto me pediram. E logo exclamei “porra, ao que me lembre é o preço da bezerra que o meu pai comprou, embora cheia de piolho, na feira dos vinte e nove lá da minha aldeia”

 

E mais pensei. Será assim cheios de piolhos que vamos acabar (infelizmente alguns já assim vivem) Se não metermos mãos ao trabalho – a todo o trabalho, desde o intelectual, ao braçal, ao agrícola, e tudo o que necessário for, até mesmo ao trabalho para obstar a que os trolarós governem o país, de contrário vem aí praga; de piolhos.

 

Leiria, 2011.03.28



publicado por Leonel Pontes às 15:51
Domingo, 20 de Março de 2011

Hoje 20 de Março de 2011, Domingo, está um dia primaveril a fazer jus ao de ontem; duas datas assinaláveis, o dia do PAI, e o início da nova estação PRIMAVERA. Agora junto-lhe um outro acontecimento, data que, por certo, ficará histórica; ataque militar à LIBIA.

 

E como recordo as notícias, ao tempo, de um jovem capitão que derrubou o governo do seu pís tomou o poder pela força! Kadhafi foi como foi, e é como é. Todos sabiam; ninguém (da esfera política) podia ignorar Kadhafi. Ele fez história.

 

Por isso, direi que a Líbia ou, melhor, o regime líbio, não precisa de ser caracterizado, todos conhecem a sua rácia do leader. Bem como todos sabem que eles, os líbios, andam de cadeias às avessas. É histórico. Mas isso é lá com eles.

 

Ah! Mas os Americanos querem ajudá-los! Pois que ajudem. Mas ajudem ajudando, não ajudem destruindo e matando. Afinal seguem a mesma rácia de KADHAFI.  Assim o que custa fazer política internacional. Nada. Política dessa todos sabemos fazer. E sabendo que aquele país é rico em petróleo, então ainda maior seria a vontade de ajudar. Não é?

 

Se alguma coisa havia a fazer, era pelo diálogo, pela persuasão, pela diplomacia. Pelos meios que fossem entendidos;  menos pelo recurso às armas.

 

Assim do que vale os EUA fazerem-se anunciar como os guardeões da democracia; quando só fazem a guerra. A a meus olhos não o são. Então o que são? Não sei, não tenho qualificação, para as Administrações Americanas.

 

Hoje tinha (e ainda tenho) “n” coisas para fazer, mas não consigo dar-lhe rego, sem que antes escreva uma censura aos EUA e aos seus seguidores. Ou muito me enganarei, ou a  Europa vai pagar as favas pelo seu desnecessário envolvimento na contenda.

 

Por isso agarrei o computador para esboçar o que penso sobre aquela rapaziada. E, em pouco concluo muito. Ajudar disparando bombas a esmo, isso é ajudar?

 

Onde estiveram os Americanos para ajudar, onde sempre entraram com garras de leão, sempre tiveram saídas de sendeiro. Ou não foi?

 

Estiveram na guerra da Coreia. Como saíram? De rabinho entre as pernas.

Descarregaram toneladas de bombas sobre o Vietname. Como saíram? Com milhares de estropiados.

Bombardearam o Japão, isso ajudou? Não! Matou como uma inclemência sem paralelo.

Meteram-se com Cuba, o que fizeram? Nada. Borraram-se de medo, quando Cuba apenas tinha armas artesanais.

E que sucessos tiveram no IRAQUE? Nem vale a pena falar!

Mesmo cá pela Europa, os seus comportamentos, nomeadamente nos Balcãs, continuam a ser uma história mal esclarecida.

 

Abreviando, o que os Americanos fazem e querem avidamente fazer é equilibrar a sua economia a partir da indústria de guerra. Se nós, pobrérrimos portugueses pudéssemos produzir e vender armas, se tivéssemos o monopólio das armas, precisaríamos do FMI? Creio que não. As nossas finanças não seriam outras.

 

Mas querem ajudar o mundo, pois que ajudem; mas pelo diálogo, pela ética, pela responsabilidade social. Ajudar o mundo com o fito no resultado económico, o que dá? Dá expressões como esta proferidas pela diplomacia a Americana: “O Balanço pelo ataque à Líbia é positivo” Mas como pode ser positivo, se matam e destroem.

 

Hão-de-me explicar! Só no campo da economia, claro!

 

Os resultados económicos melhoraram o balanço, as contas dos EUA e seus seguidores, isso melhoram. E nós, portugueses e europeus – para além da Ingleterra, sempre em contramão e a França da “connerie” -, ganhamos alguma coisa? Não. Não e não.



publicado por Leonel Pontes às 17:08
Segunda-feira, 14 de Março de 2011

O regime era ufano do “orgulhosamente sós”. Nós – aqueles que! - contestávamo-lo. A ousadia saía cara. Mas o que lá vai, lá vai!

 

O futuro era de sonhos. Sonhávamos com a liberdade – falar livremente, sem as pidescas “escutas”, sonhávamos com o direito de igualdade; onde ninguém fosse marginalizado. Sonhávamos!

 

O tempo ia passando, e a nossa (a minha geração) suportava o bastão e os calabouços, a descriminação, suportou uma guerra colonial. Por fim, faz uma revolução. Enquanto isso, a Europa do pós-guerra reorganizou-se. Aderimos à Comunidade Europeia e passámos a ter só amigos?!

 

E, do orgulhosamente "sós" passamos a estar “orgulhosamente acompanhados” numa comunidade em permanente crescimento, uma comunidade que se abria e trazia bem-estar. O muro da vergonha caiu. Países, até aí da cortina-de-ferro, também entraram na grande comunidade.

 

Cada vez mais acompanhados fomos ficando. Passámos a receber ordens a granel; arrancar vinha, arrancar oliveira, fechar actividade artesanais, limitar quotas leiteiras, etc. Em troca grandes projectos de desenvolvimento.

 

Hoje, vivemos melhor? Depende do ponto de vista. Pelo menos estamos mais pobres. Endividámo-nos como nunca estivemos, pagamos juros como nunca pagámos. Em vez de herança física, deixamos dívidas.

 

E repetimo-nos; vivemos melhor? Depende do ponto de vista. Passámos a ser governados por gestores de primeiro emprego que não sabem destrinçar, gestão de liderança. As coisas gerem-se, as pessoas lideram-se. É isso que tem acontecido? Não! Mas dizem-se líderes!

 

Sós, sozinhos, continuamos, sem apoios, sem solidariedades, sem a mão amiga de ninguém. Mas dizem; temos redes sociais!.. E, enquanto isso vemos o nosso “semelhante” a sofrer, a morrer, a apodrecer “sós”.

 

Um dia disse-me o meu avô que o pior que ao homem podia acontecer, era morrer, mas nem isso grande mal havia de ter, porque morrer, tem de ser. Verdade! Mas morrer assim não é morrer. Ou é?

 

Nunca pensámos que, o que vemos pudesse acontecer. Sonhávamos um outro mundo. Não este a que temos assistido, ultimamente. Os nossos concidadãos jazem “mumificados” durante quase uma década dentro de casa, coabitando com gente que nada faz, gente que nada pode fazer, porque a palavra de ordem é; obedeça-se às leis do país, ainda que, de nada ajudem socialmente.

 

Nem no mais subdesenvolvido país, acontecem coisas como acontecem em Portugal. Sós, até na morte. Mas porque não se morre “orgulhosamente acompanhados?”

 

 

Leiria, 2011.01.14



publicado por Leonel Pontes às 14:22
Sábado, 05 de Março de 2011

Aproveito este meio de comunicação “facebook” para sugerir aos jovens (ou não) de Monte Redondo a  organização de uma “monografia” sobre a Vila, sendo que esta já foi um importante – centro de actividade económica – que recebia imigrantes em ordem a suprir carências de mão d’obra

para os seus mais diversas actividades.

Com efeito, a Vila tem um acervo histórico, digno de nota, nomeadamente;

  • Industria de transformação de madeiras que contribuíam pª a balanço comercial do país, exportando durante anos a fio para a Europa, África e outros espaços económicos.
  • Filarmónica “centenária”
  • Fábrica de produção de vidro “garrafaria”
  • Instituto Dª Maria Rita do Patrocínio Costa, uma homenagem à mãe de Dr. Luis Pereira da Costa, cujo Instituto está na alçada da Fundação Bissaya-Barreto de Coimbra.
  • Clube de futebol c/ autocarro próprio, o que à época era um “luxo”.
  • Conjunto musical “Os Galitos” com pergaminhos granjeados no país.
  • Músicos que ficaram famosos, como foram o “Jose Rosa”,  “Manuel Godinho”, ou o “Zé Claro” (todos saxofonistas) entre outros
  • Conjunto musical, dito de “TUNA”
  • Exploração salínica, em Sismarias, de prestígio regional
  • Rancho folclórico, sediado na Casa do Povo, sob a égide de Manuel Moutinho (imigrante)
  • Oficina de “mármores” com produção de campas “João Amaro”
  • Grupo de Teatro (ensaiado pelo Pe Ramos)
  • Indústria de Madeiras como fora a “Ramos, Leal & Crespo, Ldª”
  • Oficinas Auto com nomeada.
  • Oficina da Alfaiataria junto à estação de Caminho de Ferro
  • Estação da linha do Oeste com paragem obrigatório em Monte Redondo (agra degradação)
  • A centenária feira dos "29"
  • Vários “moinhos” pª produção de farinhas, movidos a água e os já evoluídos “tocados a energia eléctrica”
  • Fornos de produção de “Carvão” pª fornecimento externo.
  • Fábrica de artigos de higiene “vassouras”, “piassabas”, “abanadores” entre o mais.
  • Unidade Industrial de produção de azeite "lagar"
  • Alambiques de produção de "bagaceira".

Porventura omiti actividades, mas com outros contributos poderemos escrever a nossa história.

Pela investigação, ou pelo interesse, pode haver quem tenha elementos históricos, tais sejam, documentos, fotografias, apontamentos, ou mesmo equipamentos das épocas (esse podem ser catalogados no Museu do Casal de Monte Redondo. Elementos que podem ser divulgados neste espaço (entenda-se faceboock)

 

Leiria, 05.03.2011



publicado por Leonel Pontes às 14:22
Quinta-feira, 03 de Março de 2011

Creio que já dei a texto, algures, esta estória, ou uma história, como esta. Mas se escrevi, como eu, já ninguém se lembrará se leu. Nós, portugueses, somos uns esquecidos, esquecemo-nos com muita facilidade. Esquecemo-nos, pronto!

 

Mas a história (o facto) é.

 

O tempo corria, aparentemente, de bonança. Mas de súbito – não tanto quanto isso - fez-se agreste, como aquele em que temos vivido, ultimamente. Curioso com o mundo a que chegara, um sementeiro, numa manhã fria até aos ossos, convicto da sua autonomia, pensando que tudo sabia, atreve-se a saltar do ninho onde o haviam colocado. E, vai daí pôs o pé (que é como quem diz, pôs a pata) em ramo verde.

 

Porém, o bicho não sabia que, ainda não sabia voar. E, o frio tolhia-lhe os movimentos. Enquanto isso, passa por debaixo do ramo onde se havia empoleirado, em passe estugado nutrido animal de ventas empinadas, a caminho das suas lides (sabe-se lá quais!). Sem demasias, faz - para curiosidade do empenujado chilreante -, a rês fez… defeca tremenda bosta.

 

Frio como estava o tempo, o intestinal excremento fumava como se irradiando calor. A ave (mas quem é que dizia isto; de vem esta ave agora?) já sem forças, quase desfalece e estatela-se em cheio sobre o quentinho excremento. E, por momentos, mesmo afogado no fedorento calor, disse “ai que bem se está aqui!”.

 

Contudo à medida que a malcheirosa almofada ia passando do estado fofo ao estado rijo, o pequeno passarinho pensava “e agora quem me tira daqui?”

 

Após aturada luta para que não ficasse sepultado na bosta, eis que de mansinho, faminta de palco, como quem vem de pantufas, se aproxima silvestre gata. O empenujado atolado até à medula, borrado por todo lado, pensou: a bicha não me fará mal! -. O que deu um enorme ânimo ao sementeiro. Logo pensou “pronto, estou salvo!”.

 

Mas, o diabo vinha com a felina que não teve com contemplações; à medida que o salvava o passarinho (assim pensava ele), logo começou a degluti-lo, deixando-lhe apenas uns breves instantes para um último pensamento. Qual fosse!

 

Ante a desgraça em que havia caído, do alto do seu chilreio, proferiu em voz trémula; “olhem, meus amigos, nem sempre aqueles que nos tiram da "merda" são nossos amigos!”

 

Que agrestes vão os tempos. Frios; não vão?

  

Leiria, 2011.03.03



publicado por Leonel Pontes às 10:22
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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