Para a crónica de hoje achei por bem abordar o homem; o homem que aprende, ensina e prepara um novo homem para a vida.
O homem que não pára de envelhecer; uma velhice que deveria ser fonte de reflexão, porquanto encerra em si inesgotável fonte do conhecimento; riqueza acumulada na ilimitada plasticidade do cérebro.
Preocupações novas, sempre velhas. Já por volta do ano 100 a.C. (Antes de Cristo) Cícero cidadão e filósofo grego deu à discussão um texto onde questionava inúmeros dilemas que se põem ao homem na sua velhice.
O homem que se tem preocupado em cuidar (remediar) apenas das coisas imediatas, descorando com as consequências daí advindas do seu próprio final de linha.
E com o que se tem preocupado? Apenas e tão-só com a manutenção do corpo, ao que se convencionou chamar gerontologia. Mas o fim de linha do homem deve e pode ser melhor aproveitado pelo outro, o homem em construção invertendo constructos de qualidade, mas também e sobretudo os de qual idade?
Dois mil anos depois do filósofo Cícero, veio em meados do século passado o alemão Erik Erikson, mais tarde naturalizado americano, apresentar a sua visão sobre o homem em fim de linha, com a revolucionária teoria do desenvolvimento psicossocial de “geratividade”.
Nesse desenvolvido estudo o especialista concluiu que a geratividade é uma reacção à estagnação “de certa maneira, podemos dizer que geratividade é o tempero que a idade traz para fazer florescer e redireccionar um conjunto de competências profissionais e pessoais desenvolvidas no ambiente de trabalho”.
Ora o que temos dado conta é que a sociedade está cheia de cidadãos que foram “compulsivamente” reformados, esquecidos e enquadrados numa outra sociedade “emprateleirados” tornando-se desde logo uma fonte de custo, quando poderiam ser não uma fonte mas o poço de proveitos para o país. Não há contudo essa visão na sociedade portuguesa.
Dir-se-á, com efeito, que o país é rico em activos humanos – vasto acervo de conhecimento – que estão (vão e são desperdiçados), não aproveitados, nem aproveitando a ninguém, menos ainda à sustentabilidade do país.
Tais “desorganizações” são pesadas às gerações futuras porquanto atiram os mais velhos para a gerontologia em detrimento de uma geratividade necessária, saudável e de extensão social.
Este é um dos nossos grandes problemas com peso financeiro, mas também e´ um ponto de vista, o meu, vendo a meus olhos uma vida de pseudo qualidade em detrimento de uma vivencia de qual a idade?
Leiria, 2011.06.26