Quarta-feira, 26 de Outubro de 2011

Quando os homens deixam cair no esquecimento factos relevantes, ou deliberadamente os ignoram, logo se diz “têm a memória curta!”; embora das várias memórias de que o homem goza nenhuma seja curta. Mas admitamos que o homem tem mesmo memória curta, ouso assim, no caso a seguir, recordar: o que se passa com o previsto Parque Industrial de Monte Redondo?

 

Há anos em função de determinados estudos era expectável que no norte do Concelho de Leiria, mais concretamente na freguesia de Monte Redondo, nesta viessem a ser instalados (ou explorados no subsolo em diapíros salinicos) depósitos para armazenamento de gás natural; cujo pipeline nesta região passava e passa.

 

Ao tempo levantou-se uma onda de contestação em Monte Redondo (com a qual sempre estive em desacordo) porquanto dizia-se que tais equipamentos só prejuízos trariam à terra; e poderia trazer, mas as nossas capacidades de observação e avaliação nunca viram que assim pudesse ser.

 

Entretanto, mercê da força popular os monterredondenses – com cartazes e tudo no Salão Nobre da Câmara no decurso das Assembleias Municipais – levaram a que as instalações do gás fossem para a freguesia do Carriço com ganhos óbvios para aquela região; o que uns não querem outros estão desejosos.

 

Enquanto isso, numa medida de contra jogo sempre defendemos que se a freguesia albergasse as instalações, no mínimo como contra-partida, nesta freguesia deveria ser instalado um Parque Industrial, ademais porque havia aqui uma mancha verde de parco retorno financeiro, a qual poderia receber o dito parque.

 

Na sequência foram feitos outros estudos e conclui-se que efectivamente Monte Redondo era de facto uma óptima região para receber tal equipamento, nomeadamente porque era servida por excelentes acessos, como veio a verificar-se com a construção da actual A17. Excelente.

 

Mais tarde, com o patrocínio da Câmara, do Nerlei e da Parque-Invest foi constituída uma empresa para gerir o Parque Industrial, denominada GESTINLEIRIA – Parques Empresariais de Leiria, SA sobre cuja empresa pude verificar (via internet) que desde o ano de 2004 jamais de publicou contas. E por aquele relatório ficou-se a saber que a empresa ainda gastou à volta de 650 mil euros.

 

É por demais sentido que o nosso país, e não só, atravessa um estádio de crise para a qual ainda não foi encontrado antídoto. Contudo, tal situação não invalida que se saiba como decorrem os negócios das actividades económicas de cunho público e nas quais a Câmara tem participação social.

 

Com efeito acresce anda dizer que a Câmara tem uma responsabilidade acrescida nesta matéria primeiro porque ao tempo foi o cérebro da questão, isto é; exerceu aquilo a que hoje se domina de empreendedorismo. Por outro lado os cidadãos devem de ter uma perspectiva de futuro.

 

Ou seja, os Senhores Vereadores, os sem pelouro, e outra coisa não fazem que não seja a busca de protagonismos, não seria de abrirem a pestana para as realidades do concelho em ordem a fazer qualquer coisa de útil; ou contenta-se tão-só em ostentarem o título de “Vereadores”

 

Andem lá, façam alguma coisa de útil, e os cidadãos estão a olhar para vocês; isto é; estão a ver que são uns inúteis sociais. Estão a ver porque é que a troika quer que seja discutido o poder autárquico. Não será tanto por aquilo que não fazem, mas mais por aquilo que estorvam e/ou entropias crias ao concelho.

 

Leiria,  2011.10.26



publicado por Leonel Pontes às 16:11
Sexta-feira, 21 de Outubro de 2011

Cheguei a este mundo pouco tempo depois da 2ª Guerra Mundial; um tempo cheio de estórias e história. Cheguei no inverno, não existiam sistemas de aquecimento (pelo menos na casa onde fui dado à luz; nem electricidade!), o calor do crepitar da lareira bastava. Naquele tempo não havia crise, havia o Ano Bom.

 

Se as colheitas das terras eram afectadas pela lagarta, o que reduzia a entrada de cereais na arca; logo se dizia: quando vier o Ano Bom, será melhor! Os adubos aumentavam, todos os anos; sem eles as searas não se saiam, e logo se esperava que melhorassem no Ano Bom. A vinha era atacada pelas moléstias (já então tinham estratégias de resistia ao sulfato), a produção baixava, mas com a graça de Deus (tanto mais que o néctar era preciso para dizer as missas) com esta vinha a reforçada fé no Ano Bom e as pipas haveriam de ficar cheias.

 

E poderíamos elencar um conjunto de acontecimentos, permanentes, que no final se traduziam sempre na carteira lá em casa, como no comum dos cidadãos. Cada ano que passava, algo mudava; o gasómetro acabou e veio a electricidade, a salgadeira onde se acomodava as carnes da matança dos porcos deu lugar às arcas frigoríficas; até a minha pedra da escola (a lousa preta) deu lugar às maquinetas de calcular. E enquanto sonhávamos, como dizia o poeta Gedeão, o mundo pulava e avançava. O que era mesmo preciso é que o Ano Bom viesse.

 

Quem é que falava do orçamento do estado, quem é que em boa verdade sabia o que era isso? O jornal, o “Século” custava dez tostões era comprado só ao Domingo (não havia dinheiro para mais). Mais tarde veio o “Expresso”, esse já dizia umas coisas interessantes, mas só era comprado uma vez ao mês; custava vinte e cinco tostões.

 

E o mundo pulava e avançava e vinha eu para a Escola Comercial, à noite num velho Fiat 600 que me gastava vinte escudos de gasolina por semana, já era dinheiro. Passeatas, mesmo com as coleguinhas, era uma vez por festa porque a ordem vigente era “trabalhar” e “poupar”. Mas ninguém falava em crise (crise é um neologismo) a esperança do advir de um Ano Bom era pelo que ansiávamos.

 

Bem como ansiávamos que chegasse o Domingo para dar uma volteca, voltar à cidade para ver as montras, tomar um cafezito num dos cafés chiques da Avenida Heróis de Angola com as novas casas de negócio; foi numa dessas (onde agora está uma ourivesaria) onde comprei o Fiat 600, seis contos de reis, que havia ganho nos serões passados numa fábrica de serração a fazer facturas à mão. Máquinas de calcular? Estavam em crise!

 

E de espera em espera do Ano Bom, dei por mim sem cabelo, mas sempre com o mesmo afã nas minhas tarefas; sempre a trabalhar, sempre as poupar, sempre a estudar; sempre a conviver com uma sociedade que se ia desenvolvendo, pelo meio com uma ida à guerra do Ultramar e sempre com a convicção, que me vinha da educação de menino, que o amanhã será melhor. Esperávamos pelo Ano Bom.

 

Depois de tantas e tantas vicissitudes vejo que os adultos continuam com as ilusões de criança. Para além do Ano Bom (que até hoje não veio) vinha o Menino Jesus que numa noite (só uma, já então, sem o saber, andava em crise) deixava na lareira umas carcaças de pão fino: as carcaças de dezassete acompanhadas de um pacotinho de manteiga Primor.

 

Depois, já adultos, já cansados do pouco que o Menino Jesus dava, passámos a fazer parte do Clube do Ano Bom, nunca chegou, cada um era sempre pior que outro; embora com coisas melhores.

 

Os frangos deixaram de vir da capoeira e passaram a vir do supermercado, as oliveiras passaram a embelezar os jardins e o azeite passou a vir dos supermercados, os campos passaram ao pousio e o leite de vaca passou a vir do supermercado, as panelas de ferro que conservavam a sopa quente por durante dias deram lugar às taparwares metidas nos frigoríficos. A instalação de um telefone que demorava anos, deu lugar aos telemóveis às mãos cheias.

 

Tudo se transformou e passámos a ter “crise” e até dizem que é nestas que devemos parar para pensar no amanhã. Será que o Ano Bom ainda vem? ou é como o Menino Jesus que vem cá só de fugida; vê-nos a penar e vai-se!

 

Estão os tempos de feição para que venha o Ano Bom? Por mim só posso dizer que me prometeram uma coisa e depois enganaram-me; em cada 12 meses de trabalho dei 5 pró rol. Agora quando mais precisava, sou penalizado! Será que nos próximos 50 anos com esta política virá algum Ano Bom?

 

Leiria, 2011.10.21



publicado por Leonel Pontes às 11:38
Quarta-feira, 19 de Outubro de 2011

Todos diferentes à nascença, todos iguais (igualíssimos) na morte. Entre um e outro estádio o que fomos? Homens em transformação; nem sempre construídos pela mesma escola. Jean Piaget e Lev Vygotsky ambos construtivistas, divergiam quanto à formação e à aquisição do conhecimento.

 

Piaget preconizava que o desenvolvimento é construído a partir de uma interacção entre o desenvolvimento biológico e a escola. Já Vygotsky dizia que o desenvolvimento se dá a partir das relações entre os grupos sociais através de processos de interacção e mediação com o meio.

 

Porém, numa interpretação à portuguesa até pelas vicissitudes de outros tempos (Portugal esteve fechado ao desenvolvimento, os cidadãos estiveram limitados no acesso ao ensino superior, neste só ingressavam os filhos das elites) a discussão da sociedade e/ou a aquisição do conhecimento era precedido de muita persistência; pese embora o “todos iguais”. Mas convenhamos que, todos “diferentes”

 

Daí que a nossa construção, naquela acepção de construção que os pedagogos preconizavam para o desenvolvimento do homem e concomitantemente para o crescimento do país, e até para o prazer da vida, um vasto caminho de escolhos tinha de ser percorrido para alcançar sucessos, e eis que o vencedor era cognomidentificado ”este subiu na vida a pulso”.

 

Aos meus olhos um desses foi o Carlos Luso. Um dia telefonou-me, quando o telefone era um recurso escasso, para que o visitasse no seu escritório (entenda-se da empresa onde deixava o seu esforço) sobre as águas do Rio Liz, na ponte Hintze Ribeiro (agora restaurada pelo programa Polis).

 

Aí conversámos; o Luso estava a um passo de ser Técnico de Contas mas pormenores precisavam de ser limados. Fez-se a pulso, foi um lutador. Mais tarde em representação dos Técnicos de Contas de Leiria, indicado pela Secção Regional local, faz parte da Comissão pª a Defesa do Estatuto do Técnicos Oficiais de Contas que viria a dar lugar ao estatuto da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas.

 

 Sempre activo, sempre com opinião, sempre disposto a abrir veredas, marcou indelevelmente a sua acção na construção da empresa que serviu durante décadas (que ao que nos diz o desprezou nas horas mais difíceis da vida), foi dirigente do futebol leiriense sempre cheio de garra, serviu a política da urbe, esteve sempre, garbosamente, na linha da frente.

 

Entretanto, gostaria de deixar aqui um testemunho como homenagem ao Carlos Luso. Quis o destino que num acto eleitoral nacional à Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (duas listas em compita) uma dessas fosse protagonizada por mim; o Carlos Luso não só apoiou a minha candidatura como para espanto meu publicou um extenso texto num semanário económico nacional com honrarias; imerecidas. Nunca lhe confessei a minha gratidão, faço-o hoje. O Luso estava lá, esteve na luta sem desfalecimentos.

 

E eis que, quando menos esperava (como nunca se espera) caiu numa emboscada da vida, daquelas que nem com muita força conseguimos fugir. E, pelo que de si tive ocasião de ver numa recente visita ao lar que o ampara, o meu amigo Luso percebe tudo quanto lhe dizemos porque o seu lobo direito (área de Wernickie) permita-lhe adquirir a compreensão, contudo a área de Broca, não permite que o homem fale, ou escreva.

 

A concluir ouso usar esta coluna para lembrar, quiçá pedir, a todos quantos acompanharam o Carlos Luso e muitos foram, que, por favor não deixem de o visitar no Lar Senhora da Encarnação e falem com ele, embora não consiga articular linguagem, compreende e descodifica na perfeição tudo o que lhe dizemos. E, para si (para ele), para combate à doença, a companhia e o contacto com o próximo oxigena-lhe o ego, estimula-lhe as emoções, prolonga-lhe o bem-estar de que muito carece para viver.

 

Força amigos; um amigo é sempre uma força! E, não obstante a nossa crise, da qual é lugar-comum, dizer-se que há vida para além do déficit, o mesmo não se poderá dizer da vida; para além da vida não há vida, é inelutável. E o que somos? apenas e só máquinas de pagar impostos; quando precisamos e esperamos pelo retorno não há, porque há déficit. Madastra de vida!

 

Leiria, 2011.10.19



publicado por Leonel Pontes às 20:38
Quinta-feira, 13 de Outubro de 2011

 

O poder local faliu, política e financeiramente. Procurando obviar o financeiramente, o poder central, dotou as actividades autárquicas com instrumentos de controlo, a exemplo de outros países da EU, implementou instrumentos de controlo; POCAL – Plano Oficial de Contabilidade para as Autarquias Locais, também aplicável a entidades equiparáveis.

 

Todavia, tais instrumentos de controlo – nem sempre aplicados em tempo, nem a contento do esperado – para além da informação pedida, pecava pela falta de uma peça crucial; um plano quinquenal de sustentabilidade. Indispensável.

 

Por outro lado, os rácios a que estavam obrigados a demonstrar, devê-lo-iam ser convolados com todas as actividades autárquicas exercidas pelas empresas do sector empresarial do estado, ou seja em cada área autárquica todas as actividades deveriam ser também demonstradas numa única prestação de contas, ou seja a “consolidação de contas” do Município.

 

Assim não aconteceu. O bom autarca não era aquele que poupava, era aquela que fazia uma gestão de encher o olho aos cidadãos e dizia em campanha “caros concidadãos eu sei bem das vossas necessidades e por isso vou mandar construir uma ponte lá em baixo ”

 

Mas, eis que um munícipe mais esclarecido gritou e disse “mas não passa nesta terra nenhum rio!” Ao que o putativo Presidente da Autarquia respondeu; “eu sei, mas já tenho isso em plano; o rio virá para a próxima campanha”

 

E, foi assim, que as autarquias ancoraram as suas actividades; na falácia, na obra fácil, no orçamento para inglês ver, no excesso de pessoal, sem cuidarem de saber se o seu Município tinha sustentabilidade económica.

 

Agora, no dizer do povo, “burro morto, cevada ao rabo”; mas a besta ainda não está morta, está agonizante e pode ser amansada, pese embora dizer-se que Portugal pode acabar como pais, aliás como já o disseram há catorze décadas atrás Eça de Queiroz : “nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal”

 

Então o que fazer? Muita coisa. Os Municípios não podem estar à espera do que há-de vir, como não podem servir só para prestar uns servicozecos. Os Municípios têm de prestar serviços de valor acrescentado (alguns dos quais já presta), o saneamento, águas e transportes. Mas também serviços de educação publica, bibliotecas, de espaços de saúde e lazer e desporto, de segurança, policiamento e controlo dos cidadãos. Exploração de eventos lúdicos e culturais. E até habitação como acontece em muitos municípios em vez de se financiarem com a pesada carga de impostos, devem prestar serviços.

 

Com efeito, o paradigma da gestão autárquica tem de mudar. As autarquias devem tratar os cidadãos como clientes e não como contribuintes. Têm de promover o seu marketing autárquico em ordem a captar clientes para a sua área de jurisdição, em vez de os expulsar com burocracias. Como as empresas têm de prestar serviços competitivos.

 

Com ironia, em tempo recente questionei aqui se, se poderia encerrar a Câmara. Mas hoje depois de melhor reflectir sobre a necessidade destes monstros, a questão toma foros de pertinência. Vista a coisa pelo lado da situação a que se chegou, pergunta-se: qual é a utilidade das Câmaras?

 

Ah! fazem falta para passar licenças prós canídeos; e então e isso não pode ser feito nas Juntas de Freguesia? E também gere as águas, mas essa tarefa está confiada a uma empresa municipal especializada e não podem ser também as JF a cuidar deste desenvolvimento local? E outros serviços.

 

O assunto merece reflexão séria, rigorosa e acizada. A troika diz que temos de reorganizar o poder local; pois temos. Mas não seria de o reorganizar no sentido de ter os serviços mais perto dos cidadãos; ou seja, são as Juntas de Freguesia o sorvedouro de dinheiros públicos? Não, não são!

 

Leiria, 2011.10.13



publicado por Leonel Pontes às 10:38
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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