Segunda-feira, 16 de Setembro de 2013

Não obstante o muito que se escreve, discute e estuda acerca do empreendedorismo, há sempre lugar para mais umas palavras sobre reflexão histórica daqueles que ousaram empreender. E quando verdadeiramente começou e quem foi o empreendedor mor de Portugal?

 

D. João I, 1357-1433, foi pai de 6 filhos legítimos, fora os bastardos. Desde cedo se viu confrontado pelas muitas ideias que cada um deles, que delas queria fazer vencimento. Sobressaiam as do infante Henrique, o que mais traços herdou do pai e, talvez por isso, o mais ouvido. Era tido por sério e reservado e o que “mais apreciava o estudo do que os prazeres da sua idade”.

 

Não havendo guerras ao tempo, Henrique, após conversas várias com o progenitor convenceu-o de que o futuro de Portugal estava fora das suas fronteiras. E, debaixo do segredo que os negócios sempre requerem - ainda hoje popularmente se diz que o segredo é a alma do negócio -, o povo andava em pulgas por saber que empresa havia sido autorizada a D. Henrique e que dinheiro iria gastar, sendo que o país era pobre.

 

Todavia todos puseram mãos à obra, o importante era partir à descoberta de outros mundos e outros resultados. Tendo em conta o muito crédito que a população tinha no infante Henrique, mesmo sem saber que destino os esperava, mesmo assim, atiraram-se à obra e diz a história que Portugal inteiro zumbia com a vasta oficina. Todas as classes estavam ativas; faziam-se os censos de homens válidos, abatiam-se árvores às carradas, os carpinteiros estavam mobilizados e em breve os estaleiros de Lisboa e do Porto eram “fremosa cousa de se veer”.

 

Os pescadores trabalhavam num afã e todos os espaços soalheiros ao longo da costa exalavam o cheiro de peixe a secar. Os cozinheiros faziam biscoitos e preparavam conservas, os tanoeiros faziam pipas e barris, os artífices fabricavam artilharia, a casa da moeda mal se podiam ouvir uma palavra tal era o martelar junto às fornalhas que produzindo moeda, os cavaleiros bruniam as armas, os alfaiates costuravam roupas.

 

E, enquanto isso corriam boatos como que interrogando mas para quê tanto trabalho, qual é o destino da empresa. Apesar da inexistência de jornais o escrutínio caía sobre os movimentos dos gestores tão observados e badalados, quiçá quanto o são hoje.

 

A ordem nacional era produzir e assim e fazia com absoluta poupança, em ordem a carrear para as naus tudo quanto necessário fosse à odisseia. Os marinheiros e operários, dia e noite trabalhavam armazenando suprimentos, alimentando-se das tripas para que toda a carne de gado abatido se salgasse. “Sois na verdade tripeiros!” disse desdenhosamente, um qualquer má-língua de Lisboa, ao que retorquiram os do Porto, e com orgulho “queremos ser tripeiros!; e assim se assumem até aos dias de hoje. 

 

Dir-se-ia que, então como hoje, cabe perceber que para se ser empreendedor ter-se-á de ser sério, e gozar de crédito se não o financeiro no mínimo o pessoal; ainda assim as desconfianças acontecem. Por outro lado o empreendedorismo não dispensa cuidado estudo. E, os sacrifícios também não são coisa despicienda. Outrossim, o elemento mais valioso das organizações – quaisquer que sejam - são as pessoas, sem perder de vista que a motivação haverá de contagiar todos os que entram no processo do empreendedorismo.

 

Leiria, 2013.09.16



publicado por Leonel Pontes às 14:18
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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