Terça-feira, 29 de Outubro de 2013

Por facilidade de linguagem ou por perda de facilidades, com facilidade diz-se que a vida não está fácil, logo concluindo “por culpa do governo”. E até pode ser. Mas se a educação (e os comportamentos admitidos) não tivessem sido sempre facilidades, a vida seria o que é?

 

Há muitos anos, no tempo em que tudo era fácil, vivenciei um facto que recordo até aos dias de hoje, e por isso, de novo o dou a texto (não porque faltem factos novos).

 

“ … hoje escrevo sobre um comportamento de gestão usando linguagem vernácula, embora dum léxico do qual já não sei o que é, e o que não é, vernáculo, posto que há um acordo ortográfico em discussão “então como  agora”. E vamos ao facto.

 

Uma sociedade constituída por quatro sócios, volume de facturação razoável, empregando à volta de cinquenta trabalhadores, salários ligeiramente acima da média, mercado florescente, boa remuneração do capital investido, bons rácios de performance, etc., Quando assim é, tudo é fácil, e todos querem dar o seu palpite.

 

Vai daí, a esposa de um dos sócios achava que tinha direitos de gerência – exigia, ao marido, que as suas (dela) opiniões fossem seguidas – opiniões ao arrepio das normas estabelecidas. Este, em função dos conselhos, vezes sem conta, atrapalhava a coisa pretendendo virar o já discutido e aprovado.

 

A coisa começou a ficar insustentável, e um dia dita Senhora veio à minha presença para uma reunião, na qual deveria esclarecê-la e até convencê-la, de que gostando ela muito da empresa, nem por isso poderia levar o marido a cair no ridículo, dando muitas vezes o dito-pelo-não-dito. As suas opiniões poderiam ser ouvidas, mas não poderiam fazer vencimento no seio da gestão.

 

Com os cuidados que sempre devemos ter, ainda para mais, com uma Senhora, lá fui explicando que não obstante o marido ser dono de um quarto da empresa, tal não lhe dava qualquer especial direito. E, eis senão quando, a Senhora vendo que estava a ser vencida, com voz firme e decidida, dispara: “oh! Senhor fulano, com essa é que você me passou os “colhões” a ferro. Então não mando nada?”

 

O marido sentiu-se no dever de dizer alguma coisa, e remata: “oh senhor fulano a minha mulher, sempre foi assim, tem umas saídas, com muita graça – e ria-se desbragadamente”

 

Em conclusão não direi que a vida seja uma risota, menos direi que as pessoas são mal-educadas, menos ainda que têm culpa pela vida que não está fácil seja ela fruto do bom tempo que caracteriza o país. Mas lá que a vida não está fácil, isso não está. Com efeito, em memória da Senhora, estou em aderir à sua tese “passados a ferro”. E mais diria parafraseando nuestros hermanos e “tener-los em su sítio, mui negros”, porque de outro modo já não vai lá.

 

Leiria, 2013.10.29



publicado por Leonel Pontes às 14:27
Terça-feira, 08 de Outubro de 2013

O mercado municipal novo está velho. Não por saudade, mas porque era assim, com o seu encerramento outras actividades perderam vida como por exemplo os “comes e bebes”, do Salvador ou do Manel num corrupio de entra e saí, e saí umas febras para ali e saí mais um jarro para acolá e saí um chouricinho assado para mesa da janela, e todos saiam cedo de vale de lençóis para assegurar pequenos negócios que interagiam com as actividades agrícolas. E, no regresso a casa, se necessário fosse, ainda era estreado um par de botas.


Os tempos evoluíram e passou-se a pensar noutros modelos económicos “as grandes superfícies” já que seria nestas que estaria o futuro. Com efeito, as pequenas produções, como a agrícola, teve morte e para a necessária subsistência passou-se a adquirir fora o quanto se necessitava; não só em produtos agrícolas, como em tudo o mais.


E assim se foi alterando o paradigma da economia-social. As fontes geradoras de riqueza passaram a ter o seu fulcro fora de país; passámos tout court a ser consumidores (e até as macro actividades económicas, como a vinha, a oliveira e até as quotas de leite deixámo-las à mercê de outros agentes). Portanto, o que nós consumimos e não produzimos é fator gerador de pobreza; passámos a enviar o nosso dinheiro para fora.


O certo é que o país necessita de motivar os cidadãos para a revitalizar a pequena economia, como seja a agricultura e tudo quanto fica a montante e a jusante. Com efeito, o que nos propomos de modo breve abordar na crónica desta semana é a motivação para o exercício de actividades geradoras de riqueza, actividades que obviem o envio dinheiro para fora do país a troco de bens de consumo nem sempre de qualidade esperada.


E por isso começámos por dizer que o mercado novo está velho. Os anos não perdoam e quem entra naquele espaço logo dá conta que o mercado é pouco atrativo; as canalizações estão rotas, em consequência o chão está encharcado pelas águas perdidas, as paredes estão degradadas pelas infiltrações. Em suma o mercado necessita de uma intervenção profunda eventualmente acompanhada de uma imagem mais apelativa.


Este procedimento com toda a certeza despoletaria a motivação para o exercício de actividades agrícolas que encontrariam um espaço requalificado capaz de gerar uma dinâmica de negócios locais a contento dos pequenos empreendedores. Por mim, em primeiro lugar compro bens produzidos Portugal, por cada euro gasto em bens nacionais é menos um euro (não é bem assim porque há sempre um apequena componente externa), mas é um euro a menos que saí do país, é menos um euro a concorrer para o endividamento do país que já vai em 127% do PIB.


Leiria, 2013.10.08



publicado por Leonel Pontes às 10:01
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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