Não há volta a dar, somos assim! Tornamos difícil o que é fácil. Ou vendo de outro prisma teimamos em querer resolver tudo pela via política; uma via que tem impedido que atinjamos mínimos comuns de bem-estar social. Não é preciso ilustrar a coisa com factos que nos atormentam diariamente. E, enquanto isso, todos pensam estar no caminho certo.
Ainda assim, poderíamos avocar a ladainha do costume; a enorme dívida gerada durante quatro décadas, uma União Europeia que fomenta a desunião, a caterva de professores que teima em deseducar pelo exemplo, o mísero povo do interior que não tem holofotes de televisão a garantir-lhes os direitos que confere aos letrados, o continuado aumento de impostos. E por aí adiante.
Contudo, poder-se-ia trazer à discussão pública a divulgação, ou a falta dela, da ISO (International Organization for Standardization) 26000 que aborda de minúcia a ética e responsabilidade social. Afinal coisa que é de todos e que subjaz ao estado a que o país chegou; não só por culpa do governo.
Antes, porém, daríamos uma breve pincelada dizendo que foi aprovado em plenário do Conselho Económico e Social um parecer sobre a responsabilidade social das empresas em 17 de Janeiro de 2003 o qual “considera que a construção da União económica e monetária da Europa implica a construção de uma Europa socialmente coesa, baseada no conceito de desenvolvimento sustentável e nos princípios matriciais da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que aqui se assume como quadro de referência de toda a matéria” Para além do documento aprovado, o que mais se sabe? Nada.
Não se sabe, nem conseguimos apurar qual o contributo de Portugal para a produção da norma ISO 26000 que é muito mais do que “a responsabilidade social das empresas”. Esta, tal como se apresenta datada de 14 de Fevereiro de 2010, ao que se conhece o nosso país nada fez nem pela sua divulgação nem por haver seguido princípios plasmados na norma em ordem a conferir maior dignidade aos cidadãos em matéria de bem-estar, para todos. E todos são todos, porquanto até os mais endinheirados andam expectantes.
Com efeito, aquela norma fornece orientações para todos os tipos de organizações às quais não deveria escapar as estatais e nestas o próprio estado; A ser seguida a reforma do estado em curso esta será de efeito vazio porquanto não observa disposições mínimas de comportamentos socialmente responsáveis, e com meta última desenvolvimento sustentável do próprio estado, bem como dos cidadãos.
Uma reforma, aquela que se precisa, não pode ser um rol de medidas que só apontam para números e derroguem do bem-estar de uma sociedade cada vez mais assimétrica, na qual nem o estado português e menos ainda a União Europeia têm em conta princípios como seja “a carta internacional dos direitos humanos” que faz parte integrante da norma que versa sobre a responsabilidade social que nunca pode ser uma responsabilidade social filantrópica.
Mas o que se quer dizer com isto? A responsabilidade social tem de passar por um modelo de governo que tire da cena social tanta gente a esmolar, tantos a recorrer à sopa dos pobres, às instituições assistencialistas, a dormir ao luar, etc., etc. E a ISO 26000 resolve isso tudo; resolve. Resolve se as organizações deste país, todas, seguirem o que a norma preconiza. Mas terá de ser o poder instituído a dar o risco. Assim haverá volta a dar.
Estamos a chegar ao fim de mais um ano e, embora não antevejamos melhor advir, inevitavelmente, temos de cair neste lugar-comum; votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo
Leiria, 2013.11.19