É-me dificil perceber as pessoas. As pessoas comuns não, os políticos. Para dirimir este dilema, por vezes, recorro à literatura legada por pensadores de outras épocas, como seja o irlandês Óscar Wilde – os exemplos irlandeses estão na moda -, sobretudo quando enfatiza o amor-dos-homens e o amor-das-mulheres.
No dizer do escritor os homens amam pelo que veem, enquanto as mulheres amam pelo que lhes dizem.
Como sou como S. Tomé; gosto mesmo de ver. Portanto, só acredito no que vejo. Ponto. E, à vista desarmada vejo que: não obstante os muitos sacrifícios infligidos - sacrifícios que nem o S. Tomé acreditaria, porque em muitos casos são uma autentica espoliação -, o stock da dívida portuguesa continua em crescendo vertiginoso. Em 1980 (para não recuar mais atrás) era de 2 mil (e picos) milhões de euros. Porém no final de 2012 a dívida já ascendia a 195 mil milhões de euros (fonte IGCP/PORDATA). Os indicadores factuais apontam para que a dívida ainda seja maior. Isto é o que se vê, tudo o mais é conversa fiada.
Mas, dizem-nos que economicamente o país está melhor – vivo e trabalho, como sempre vivi e trabalhei, no seio das organizações, e, francamente não vejo onde possam estar as melhoras -, e até pode estar mesmo melhor. Porém, não é isso que vemos. Repito-me.
Outrossim, não sei o que sabe a Ministra das Finanças, se efectivamente é ela que interpreta as contas da dívida. Inclinar-me-ia a dizer que só sabe o que lhe dizem. E, dizem-lhe isso mesmo, que a coisa está a melhorar, que a economia está endireitar-se, e coisa e tal! E a notícia passa enviesada para fora.
Acresce que, se seguirmos a escola irlandesa temos dois cenários para sair do fosso, o da saída limpa e um outro. Mas, para tanto, não podemos pensar à portuguesa, mas seguindo o pensamento de Wilde “We're being fucked”. Com efeito, não estou crente de que possamos sair da coisa como nos querem fazer crer. E porquê?
Porque o paradigma da gestão nestas últimas quatro décadas também se alterou. A organização do trabalho deu lugar ao laissez-faire. Temos de trabalhar com afinco, motivação e mesmo com amor pelo país. Porém, o que vemos são constantes reivindicações que continuam a engrossar a mole de quem tudo faz para nada fazer. Tenham paciência, mas isto é o que vemos.
Mas, também vemos que o país sofre de uma notória falta de estratégia organizacional em ordem à motivação para o empreendedorismo. Ora perante isto, continuar-nos-emos a endividar, logo os exemplos à irlandesa para nós de nada adiantam.
Assim sendo, com ou sem troika, com amor de macho ou de fêmea, o dilema subsiste: organizar o trabalho, ou viver a crédito?
Leiria, 2014.02.18