Ainda mal se levantava das cinzas da primeira Grande Guerra, logo eclodia a segunda (1939-45) e com ela uma gravíssima crise. Tais efeitos aconselhavam medidas conducentes à reconstrução de uma Europa em escombros. Nessa esteira, logo em 1948 nasce o primeiro tratado, o “Tratado de Bruxelas”, que tinha por objectivo encontrar um modelo de gestão de crises. Na sequência desse muitos outros foram subscritos até aos dias de hoje numa União composta 28 estados-membros.
Convirá referir, contudo, que muito antes daqueles períodos bélicos a União já o era no pensamento e na pena de um dos maiores humanistas: Vitor Hugo que, embora provindo dum meio burguês-castrense já aí perscrutava latentes crises. E, nesse modus vivendi se inspirou para escrever Os Miseráveis (1862). Ao tempo colocou o dedo na ferida dando conta de assimetrias económicas agravadas por um despotismo jacente na Europa. E disse;
“Virá um dia em que todas as nações do continente (europeu), sem perderem a sua qualidade distintiva e a sua gloriosa individualidade, se fundirão estreitamente numa unidade superior e constituirão a fraternidade europeia. Virá um dia em que não haverá outros campos de batalha para além dos mercados abrindo-se às ideias. Virá um dia em que as balas e as bombas serão substituídas pelos votos”.
Mas, voltando ao período do pós segunda Guerra Mundial as crises tinham por corolário o ditado português “casa onde não há pão, todos ralhas e ninguém tem razão”. E, ante a emergência de novos confrontos bélicos urgia organizar a Europa obviando mais e maiores crises. Ao tempo cada país daquela Europa tinha a sua própria divisa. E diziam os sábios: só vamos lá com uma moeda única.
Nessa esteira, de discussões/negociações nasce o tratado Tratado da União Europeia, também conhecido pelo Tratado de Maastricht por ter sido assinado nessa localidade holandesa. O termo União, desde o início do Tratado, usa-se para representar o avanço num projecto histórico: moeda única europeia – o euro – que, efectivamente, nasceu a 1 de Janeiro de 1999. E pensava-se: agora é que isto vai!
Porventura, o que não seria expectável, decorridas praticamente sete décadas de Tratados constitutivos da União esta continua à procura de uma estratégia de gestão de crises em ordem a encontrar sustentabilidade. Porém, hoje sabemo-lo que na gestão e na vida das organizações, jamais podemos ignorar que sempre hão-de existir crises e, por isso, esta – a nossa, a da Europa -, dela muito se falou, fala e vai falar sobretudo até ao próximo acto eleitoral no próximo dia 25; após o que a crise segue o seu percurso como se fora mesmo “o pão nosso de cada dia”.
Enquanto isso o despotismo acerta o passo por esta, ou vice-versa!