Tudo tem uma (a sua) história; uma história que por vezes se confunde com lendas. O café, como o conhecemos hoje teve (e tem) a sua história e sabe-se que o mundo começou a ter café no século IX, a partir da Etiópia. Mas o nome café só mais tarde nasce na Arábia a partir de uma infusão de pequenos frutos cujo produto acabou por receber o nome de “cahue”. Todavia as propriedades dessa planta começaram por ser observadas pelo pastor “Kaldi”que viu que, os seus carneiros ficavam mais espertos quando rilhavam o fruto que afinal era o “café”. Daí se extrapolou que, também os guerreiros que tomassem uma infusão desse fruto sentiam-se mais activos; mais encorajados para a luta. Também nessa senda, ao tempo, um monge começou a tomar a dita infusão de modo a resistir sono trazido pelas longas horas de oração. Vistos e experimentados os benefícios do cahue, a sua disseminação deu-se da Etiópia à Arábia, à África, à América do Sul.
A tal propósito devo aqui realçar, como que em singela homenagem a um ilustre amigo que cedo deixou o seu torrão pátrio havendo-se fixado em Angola, Fazenda Sofia, no Cuanza Sul e aí desenvolveu, segundo relata João Guerra na sua obra homónima a tarefa na plantação de mil hectares de cafeeiros. E daí exportava mundo fora milhares de toneladas de café tendo, ao tempo, por cliente fidelizado o magnata do café em Portugal Rui Nabeiro, de quem ainda hoje cultiva relações de amizade.
A talho de foice, diga-se que nos anos oitenta do século passado o café chegou a ter uma cotação monetária imediatamente a seguir ao petróleo. Portanto economicamente o café concorria fortemente para a organização dos orçamentos dos países produtores.
E, hoje ainda é assim. Hoje é mais do que isso, hoje o café é um bem social. Hoje o café (bebida) é pretexto para um encontro de lazer, para uma cavaqueira, para início de conversa de negócios. Isto é, a nossa vida social não seria a mesma sem café naquele despertar que adiciona à nossa acção laboral.
Todavia tenha-se em atenção que o café, segundo literatura científica causa habituação e se causa habituação pode causar perturbação por via do componente químico que este fruto incorpora, ou seja a cafeína, como já todos ouvimos falar. Também ainda segundo a literatura científica a toma de 2/3 chávenas de café por infusão pode tornar-se prejudicial para a saúde. Portanto a toma reiterada de cafeína, quer seja por via do café por infusão, ou mesmo por via de bebidas frias como refrigerantes, ou até chá, podem carecer de acompanhamento médico.
Portanto o café é um produto que traz ganhos económicos aos orçamentos dos países produtores, bem como traz lucros às empresas que exercem o negócio deste produto. Por outro lado, o café é um excelente estimulante desde que tomado em doses moderadas, mas também é um parceiro social que convida amigos à reunião em espaço lúdicos também conhecidos por cafés, onde se encontravam no passado, como hoje, políticos escritores e até mesmo gente de mal-dizer.
Enquanto isso e na sequência do acima dito Leiria sempre foi um local de tertúlia e encontro de contabilistas, entre os quais pontuava o João Guerra, que uma vez por mês vinha de Benedita até à cidade do Lis para aqui cavaquear e deixar a sua razão de ciência sobre o café, e outras actividades do foro agrícola que em Angola geria. Com efeito, deixo aqui um repto público a todos os contabilistas do passado e actuais, para uma cavaqueira acompanhada quiçá pelos milhares de slides que o João projectava sobre uma parede sempre ouvido como muita atenção tais foram as suas aventuras desenvolvidas em meados do século passado na Fazenda Sofia, Angola. O que acham? Vamos ouvir o velho sábio, como quem presta uma homenagem a alguém que por muito que diga, muito tem sempre para dizer.
Leiria, 2015.02.18