O envelhecimento da população sendo um dos maiores triunfos da humanidade, também o é ao mesmo tempo um dos maiores desafios. Com efeito, a ONU levou a termo projecções sugerindo que à escala mundial o escalão etário das pessoas com mais de 60 anos é o que apresenta um crescimento mais rápido, de qualquer outro escalão. Veja-se a propósito que a população mundial desde 1994 cresceu de 5,7 para 7,2 mil milhões. Portanto, não será de estranhar que até 2050 haverá 2 mil milhões de pessoas com mais de 60 anos (dados da ONU, 2012).
Estamos, pois, perante um facto que, como se costuma dizer em gíria“bicudo”. Então o que fazer? Salvo melhor opinião, aos poderes instituídos só uma via lhes resta para gerir com proficiência o fenómeno do envelhecimento que é visto como algo de muito complexo caracterizando-se por “sucessivas crises pelas quais o idoso passa (…) e esgotam os seus recursos psicológicos no esforço de adaptação (…) O facto do idoso, apartemente, já não contribuir produtivamente para a sociedade, conduz a que seja tratado de modo diferente. O, que de facto não facilita a sua integração social, ma sim a sua marginalização”.
Por outro lado, em antítese, diariamente somos bombardeados com informação, tal como “o desemprego jovem é um desastre nacional” Será? E a necessidade que os seniores (velhos) têm de trabalhar sempre na busca de melhor qualidade de vida não também um desastre nacional? E se se aproveitassem os saberes dos velhos, em vez de os hostilizarem, não teríamos neles uma rica fonte de conhecimento?
E porque trago à liça os “idosos”? Primeiro porque inelutavelmente todos caminhamos para velhos, e como diz o povo “quem de novo não vai de velho não escapa” Então justifica-se e compreende-se que tenhamos diversas políticas de apoio aos seniores de quarta e mesmo quinta idade. E não é verdade que o mestre Manuel de Oliveira cidadão da quinta idade – já passou os 106 anos - não trabalha com toda a lucidez e apoio para as suas obras cinematográficas?
Ainda mais surpreendente foi dar conta que o octogenário Sr. Brás, com oficina de mecânica auto em Marrazes, vestindo o fato de macaco todos os dias pela manhã abre portões e até horas tardias aí presta serviço de elevado potencial técnico. O meu carro, com quase seis décadas, afinal um clássico, depois de andar de Pôncio para Pilatos, jamais alguém deu rumo à sua maleita/avaria. Recorrendo ao Sr. Brás, - que até ai não conhecia - lá do alto da sapiência dos seus 83 anos (qual lar, qual carapuça) meteu mãos calejadas e muitíssimo rugosas à obra e deu cura ao velho automóvel pondo-o a trabalhar eu nem um relógio suíço.
Ora, não dou a crónica um caso pessoal, porque me fora resolvido uma questão técnica; antes achei que o potencial dos seniores deveria merecer mais atenção por parte das instâncias governamentais, dando-lhes apoio não só em ordem a dar-lhes longevidade com qualidade de vida. Porém, em vez disso, antes lhes sacam inclementemente os patacos que estes velhos granjeiam, por via de impiedosos impostos (matéria para outra crónica).
Leiria, 2015.03.26