Herança Sommer
Durante anos, em especial por volta nos anos sessenta, a imprensa leiriense dava conta da acesa contenda judicial travada entre os herdeiros Sommer, liderada pelo empresário Champalimaud que na região dominava a gestão da Empresa de Cimentos de Leiria. O diferendo acabaria por ser resolvido, porém, para nós, para os da minha geração, ficaria gravado nas nossas memórias o acutilante papel de António Champalimaud que acabaria por conduzir outros negócios na região como fora a aquisição do Banco Pinto & Sotto Mayor. Homem de rija tempera, antes partir que torcer.
Eficiência na Gestão
Com a revolução o império Champalimaud abanou, porém o homem magro de carnes tinha em mente um objectivo, como aliás todo o homem de negócios faz ou deve fazer; ganhar dinheiro. Ninguém se abalança no mundo dos negócios para perder. Com efeito, para assegurar a continuidade de tais negócios mister era que tivesse (na sua óptica) continuadores. Persentindo estar a chegar ao fim da sua vida, entendeu que deveria doar significativa parte da fortuna amealhada ao país por via de uma Fundação.
Fundação
Com efeito tal dádiva deu lugar à Fundação que perpetuasse a memória der tão insigne homem de negócios, e aí está vetusta obra, em Lisboa, cuja missão se subsume em “Criar e desenvolver; com independência, rigor, dedicação e criatividade e obedecendo aos mais elevados padrões éticos e científicos, um ambiente propício ao desenvolvimento de programas avançados de investigação biomédica e à prestação interdisciplinar de cuidados clínicos, numa perspectiva transnacional, que resultem em descobertas pioneiras na área da saúde com um reflexo direto na qualidade de vida das pessoas. Através da sua atuação, a Fundação pretende ser líder mundial na inovação científica e tecnológica com o objetivo ultimo de prevenir, diagnosticar e tratar a doença, orientada por uma postura de desafio constante e contribuindo para uma sociedade mais desperta para os problemas de saúde que atingem a humanidade”. E assim se fez. Quem a tais serviços de saúde recorre fica boquiaberto pela excelência que a sita Fundação põe à disposição dos cidadãos, que não só a portugueses,
Cleptocracia
Por mim, de momento, não encontro palavras que bem caracterizem a obra do velho gestor que, obviamente deixará o seu nome e da família Champalimaud ligada a tão nobre empreendimento. Em antítese, o que nos tem sido dado ver no pós-revolução em matéria de bem-estar social, o que temos visto é um novo riquísmo que só passivos deixa em contínuo ao país e aos cidadãos, passivos que hão-de consumir o esforço das gerações próximas. Se algum vez forem solvidos.
Evidentemente, por demais conhecidas, não faremos referências aos gestores de tais desmandos. Todo o cidadão atento sabe que o país se tem entretido em jogos de rapina por via de uma autêntica prole de cleptomanos.
E assim vamos empobrecendo. Em vez de uma democracia estamos cultivando uma verdadeira Cleptocracia.
Leiria, 2016. 03.09