Belle époque
A história repete-se.
A belle époque foi um período da história contemporânea que teve o seu início nos finais do século XIX, por volta dos anos de 1889 mantendo-se até 1914, até à eclosão da I Guerra Mundial. Para além de se caracterizar como um estado de espírito à francesa (como soe dizer-se; de abastança) mesmo assim foi uma fase de grande desenvolvimento para a Europa, havendo-se estendido a outros países como Itália e Reino Unido. Dinheiro não faltava, bem como não faltaram e até se agravaram as desigualdades socioeconómicas, como no-lo diz Thomas Piketty na sua obra o Capital do século XXI dada estampa no pretérito ano de 2013.
1948 Tratado de Bruxelas
A Europa (e o mundo) estavam, a levantar-se das cinzas duma guerra e logo uma segunda eclodia (1939-45). A capitulação do exército alemão abriria, desde logo, caminho para novas discussões com vista a reerguer a Europa. Destroçada, como sempre terminam (quando terminam!) as guerras, o primeiro passo estava em encontrar um modelo de gestão para a tão necessária quanto urgente construção de edifício político-económico, que trabalhasse um novo conceito de sustentabilidade, que ao tempo viera a ser denominado de Gabinete de Gestão de Crises. Urgia, pois, sair do estado a que se havia chegado. Existiam umas ideias, porém, não se conheciam as terapias a adoptar para sustar a crise e até mesmo para obstar a nova acção bélica.
Com efeito, um longo périplo de negociações decorreu e em 1948 foi celebrado “Tratado de Bruxelas”, o primeiro do pós-guerra. Nessa senda, a 1 de Janeiro de 1999, é celebrado na Holanda, Maastricht, o Tratado da União Europeia, que teve por subscritores, para além de Portugal, outros 10 Estados-membros, constituindo-se aí uma União Económica e Monetária (UEM). Em consequência, este tratado transferiu a responsabilidade pela condução das políticas monetárias para o Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), tendo adoptado uma moeda comum: o euro.
Instituída a moeda única, cedo se percebeu que passaria a existir uma moeda sem País, pelo que sendo esta um meio para a gestão de uma União, mas nem com todos os esforços haveria união, como não há. Ficou pois porta aberta para o surgimento de outros conflitos, ou melhor outras crises. Ou, não é o que temos em emergência a nossos olhos?
Fuga de Capitais
Ante o que nos é dado conhecer (pouco!) por via dos já famosos “Panamá papers” (como se estivéssemos perante caso virgem!), paulatinamente vamos reforçando a ideia de que as instituições bancárias (portuguesas e europeias) funcionam como crivo roto. Acresce ainda observar que, se as cargas fiscais fossem menos pesadas, e bem assim se houvesse uma harmonização fiscal, que tarda, é de crer que os detentores do capital financeiro não promoveriam as hemorrágicas transferências de capitais para paraísos fiscais.
Belle époque portuguesa
Enquanto isso damos conta de estar a viver num país anárquico, isso é, onde tudo funciona num autêntico desgovernado e onde ninguém sabe de nada (como se se vivesse sob a síndrome amnésica) e onde não é possível responsabilizar ninguém. Todavia, existe uma certa faixa da nossa sociedade e que vive “à lagardere” exibindo fundos e atributos como se lícito fosse fecundar todos aqueles que honesta e honradamente contribuem para sustentabilidade de um país cada vez mais decadente, mas nem por isso parco de ostentações à laia da uma belle époque à portuguesa. A história repete-se? Repete!
Leiria, 2016. 04.14