Faço apelo à memória (à minha); e vejo que nos finais da década de sessenta do pretérito século a zona ribeirinha de Lisboa transpirava num frenético movimento de actividades empresariais como corolário de “negócios”, navios à carga, armazéns de retém e apoio recebiam mercadorias à espera de oportunidade para embarque, ora chegavam, ora zarpavam. Era o que era. Um desses armazéns, sito na Rua da Manutenção, 88 pertencia à empresa Gomes de Carvalho, Ldª., de Monte Redondo e desta partiam todos os dias mais do que uma camioneta carregada da famosa madeira trabalhada do pinhal de Leiria. Enfim, as exportações eram a razão e sustento milhares de empregos a montante e a jusante.
Novos tempos vieram e toda aquela azáfama se esfumou. Mas, pior que isso, foi que todas aquelas infra-estruturas caíram de obsoletas. Ainda assim ébrios de prazer algumas desses armazéns deram lugar a um certo de lazer nocturno como se daí adviesse progresso social; pura ilusão.
Contudo, uma ideia estratégica nasceu para a zona ribeirinha como fora a sua requalificação de modo a voltar a receber grandes navios, não os de carga como os de outrora, mas em vez desses trazendo turistas aos milhares de outras paragens de um mundo de progresso e bem-estar.
E agora o que podemos ver? Agora vemos uma zona em acelerada requalificação. Saio da “Expo” costa abaixo a caminho da Fundação Champalemaud outra infra-estrutura a enriquecer a zona, na qual se cruzam centenas de pessoas com défices de saúde, como eu. No trajecto, topo com centenas senão milhares de máquinas e outras forças braçais na requalificação da zona ribeirinha. Muitos dos edifícios em escombros estão a dar lugar a novos e amplos espaços de circulação, a novas infra-estruturas de apoio onde aportam todos os dias enormes e faustos navios de turistas que demandam Portugal em busca dos soalheiros espaços verdes e airosos, de gastronomia a contento e de serventia afável. E tudo o mais que agrade.
É certo que sem dinheiro nada se faz. Mas como é sabido e público a Câmara de Lisboa tem embolsado muitos milhões de Euros, quer por via da venda dos terrenos do aeroporto, quer por via do gordo IMI que cobra aos residentes. A aferir pela amostra o que não falta à edilidade é dinheiro o que, obviamente, chama dinheiro e nessa perspectiva as empresas vêem e sentem confiança e na alçada da edilidade também se arriscam a promover novas edificações, habitacionais e hoteleiras. Com efeito, na zona ribeirinha de Lisboa tudo bule numa estratégia de e com futuro. Bastou, pois, uma ideia, estratégica, e a Capital transfigurou-se.
E já agora, por cá, por cá pelo burgo de Leiria? Continua a faltar uma ideia assente numa estratégia com futuro. Mas, enquanto isso, vemos festas, muitas, e show-off de sobra. Mas uma ideia Senhores? Uma ideia com vida, com futuro para a cidade? Bem dizem-me que a coisa agora será outra loiça. Vai haver eleições e já se anunciam os putativos crânios. Pois sim, mas têm uma ideia para Leiria? Não! E ao menos conhecem Leiria? Ou vêm só e apenas debitar umas sentenças que ninguém pediu? Por ora e a julgar pelo histórico dos putativos nada de novo nos trazem.
Estamos em finais de mais um ano. Novo ano aí vem, ao que, como noutros tempos se dizia ”vem aí o Ano Bom”. E vêm? Abreviando tempo e espaço aproveito para desejar aos leirienses e todos os que me lêem um Feliz Natal e já agora um Próspero Ano de 2017.
Leiria, 2016.11.14