Domingo, 25 de Dezembro de 2016

Hoje é Natal, mas nem por isso deixa de ser tempo de reflexão. Enquanto o almoço é preparado pela família eu vou pensando no futuro da família, dos mais novos (dos meus e de outros) e francamente antevejo-lhes um futuro muito, muito sombrio. Outros, se é que pensam ou se só falam; ao que já chamaram palavras de afecto (pura psicolinguística) – acham que a coisa vai de vento em pôpa, não obstante o continuado aumento da dívida pública.

Será que no futuro as contas são pagas com afectos?

Existem, pois, duas formas principais de um estado (tal seja o nosso) de financiar as suas despesas: pelos impostos ou pela assunpção de dívida; mais.

Com efeito, o que for pago pelos impostos, este será por nós; (os contribuintes de hoje. Ao contrário o que for pago pela dívida, esta será suportada pelos nossos descendentes e pelos descendentes dos nossos descendentes; em vez de activos haverá uma continuada transmissão de passivos a solver pelas suas vidas fora

Oportunamente, com menos raiva redigirei texto reflexivo sobre a problemática do nosso empobrecimento/endividamento, e, não digam, que os fala barato somos nós, os que pensam como eu.

E vamos continuar a ter crédito para pagar as importações dos bens que consumimos, tal seja o bacalhau?

 

Leiria, 2016.12.25



publicado por Leonel Pontes às 11:55
Sábado, 24 de Dezembro de 2016

… dizia o historiador Oliveira Martins sobre a região centro do país (História Portugal, pags 35 e 36):

“O litoral do centro, entre o Mondego e o Tejo, é a parte mais benigna do país. Aí o ar temperado pelas brisas marítimas mantém um grau de humidade (60 a 85%), e as chuvas regulares sem serem copiosas (700 a 800 mil. anuais, e 20 a 30 no estio) uma rega, que fertilizam os terrenos sem os tornar gordos, como os do norte. Nem o calor (150 a 160) tisna de verão as vegetações, nem o frio do inverno as atrofia. Por tudo isto, a população abunda, sem exorbitar, como no Minho; e o habitante reúne à laboriosidade de uma vida agrícola a liberdade de uma existência mais ampla. Por tudo isto, além dos carateres geognósticos da região, a flora é variada, reunindo o pinheiro bravo e o manso, a vinha, a oliveira e o carvalho, o trigo, o milho e o centeio. Desde os campos que o Mondego todos os anos fertiliza, por Leiria e Alcobaça vestidas as florestas, pelas veigas do Nabão, chegamos ao Tejo; e, transpondo-o, entramos no seu vale, que é para nós como o Nilo é para o Egito. Nele com efeito o campino nos traz à ideia o tipo dessas raças da África setentrional, líbios ou mouros, cujo sangue anda misturado em nossas veias. A cavalo, de pampilho ao ombro, grossos sapatos ferrados, gorro vermelho na cabeça, o ribatejano, pastoreando os rebanhos de touros nas campinas húmidas e vicejantes, é como um beduíno do Nilo. A vasta planície matizada de povoações e bosques de choupos, de salgueiros e de álamos, contornada ao longe pelas cumeadas das serras, sem o caráter das paisagens do Egito, ou de Túnis, dominadas pelo esqueleto gigânteo do Atlas[28]. Como o beirão, também o ribatejano reúne à vida agrícola amarítima ou fluvial; é ele quem vem nos seus barcos de água-acima, até Lisboa, trazer o seu tributo de cereais e frutas. Pelo Tejo, o Portugal marítimo abraça o Portugal agrícola, fundindo numa as duas fisionomias típicas da nação. Rio acima, o Alentejo de um lado, a Beira do outro, por esta forma se comunicam com a população marítima do litoral. Lisboa, com Sines ao Sul, Aveiro ao norte, eis os pontos cardiais dessa costa ocidental, donde tantas grandes aventuras, tão dilatadas viagens se empreenderam. Capital geográfica, Lisboa é também a nossa capital marítima; e se as viagens e descobertas são o coração da nossa história particular nacional, Lisboa é também a nossa capital histórica. As toadas plangentes que ao som da guitarra se ouvem por toda a costa do ocidente, essas cantigas, monótonas como o ruído do mar, tristes como a vida dos nautas, desferidas à noite sobre o Vouga, sobre o Mondego, sobre o Tejo e sobre o Sado, traduzirão lembranças inconscientes de alguma antiga raça, que, demorando-se na nossa costa, pusesse em nós as vagas esperanças de um futuro mundo a descobrir, de perdidas terras a conquistar ao mar? Os sonhos cheios de encanto e melancolia, por tão longos tempos embalados pelo incessante murmúrio do mar bretão e pelo ciciar das florestas druídicas; o carinho da natureza pelo homem, traduzido nessas lendas piedosas em que os animais falam, os pássaros vêm fazer ninhos na mão dos santos, e a voz das fadas se mistura com o ramalhar das árvores e o murmurar das águas; esse vaporoso e encantador botão da alma céltica, porventura desabrochava no espírito nacional português, quando a conclusão das guerras da independência assim o ordenou. D. João de Castro, o marinheiro, tem, como um druída, o amor ingénuo da natureza: « ó vergonha e grande cobiça dos homens, que por haver as desventuras dos metais cavam tanto a terra que lhe tiram fora as tripas, derribam grandes outeiros, abaixam ásperas e altíssimas serras no andar e olivel dos campos, e não contentes de estragarem tanto a terra, rompem e furam pelo mar por haverem uma perla – e para esculdrinhar uma obra maravilhosa da natureza são tímidos e preguiçosos!»”



publicado por Leonel Pontes às 11:40
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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