Sábado, 07 de Janeiro de 2017

Não posso iniciar as crónicas de 2017 sem começar por abordar, ainda que superficialmente, o estado da nossa dívida pública, ora a passar os 130% do PIB, e bem assim comparar o seu diferencial com a última década do final do século XX; já então nos 50,3%. Portanto, a dobrar o cabo das misérias.

Também, mais ou menos, pelos finais da última década do século XX – quando ainda estava nas minhas faculdades de locomoção - fui a Kingstone (Capital da Jamaica) a meus olhos um país tão distante quanto mítico. E, aí fui, repito-me, apreciar ao vivo “o reggae”, bem como ainda o pensamento do seu músico maior “Bob Marley”, com o seu “emancipate yourself from mental slavery”, emancipa-te da escravidão mental, mas também a sua economia assente no turismo que enganadoramente, supúnhamos, rudimentar. E ainda para cotejarmos o seu PIB provindo essencialmente das actividade turísticas, pois.

Enquanto isso, é bom lembrar que a distribuição da riqueza – agora enfatizados como patrimónios acumulados – foi sempre uma das questões quentes no seio das famílias portuguesas; quem herda o quê! Porém, aos tempos de hoje o que mais se discute é a crescente dívida pública. Em vez de riqueza acumulada, discute-se a dívida pública que neste momento já vai para além dos 130% do PIB.

O tempo passa (voa) e inevitavelmente - dado o exponencial crescimento da dívida pública - reflicto no futuro, e francamente antevejo um futuro muito, muito sombrio, pese embora não termos patrimónios tangíveis para partilhar, teremos, com toda a certeza, muita dívida. Mas temos um património intangível (não temos “reggae” – mas temos o nobel património da humanidade: o “nosso fado”).

A tais patrimónios há quem chame de afectos (pura psicolinguística) – acham que a coisa vai de vento em pôpa, não obstante o continuado aumento da dívida pública. E acaso, pagaremos as contas com afectos. Ou estaremos a viver uma nova era: a escravatura dos afectos?

Como é sabido existem duas formas principais de um Estado (tal seja o nosso) financiar as suas despesas: pelos impostos ou pela assunção de dívida. Com efeito, o que for pago pelos impostos, será liquidado por nós, contribuintes de hoje. Ao contrário o que for liquidado pela dívida, esta será suportada pelos nossos descendentes e pelos descendentes dos nossos descendentes; e, em vez de activos haverá uma continuada transmissão de passivos a solver pelas suas vidas fora.

E vamos continuar a ter crédito para pagar as importações dos bens que consumimos, tal seja o bacalhau?

Com efeito, se queremos mudar alguma coisa, então teremos de reflectir mais, muito mais. Ou esperam pagar o endividamento português, repito-me, com “fados”. Por isso, creio que o melhor passará pelo uso da nossa capacidade cognitiva (a nossa força mental de apreender e fazer coisas). Isto é, só nos resta um caminho justo e credível: uma revolução cognitiva com menos psicolinguística que deixa os portugueses bêbados de êxtase por via da fluente retórica desfolhada a cada telejornal.

Emancipemo-nos, pois, da escravidão financeira em que temos vindo a cair.

 

Leiria, 2017.01.07

 



publicado por Leonel Pontes às 11:15
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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