Sexta-feira, 10 de Abril de 2009

“O que deu cabo disto foram as imparidades, essa coisa moderna que se lembraram de meter a atrapalhar as contas!” Expressões, mais ou menos assim, já ouvimos e lemos muitas, a gente dos mais diversos quadrantes; desde administradores, gestores, políticos e outros como se estivéssemos efectivamente perante uma coisa nova e moderna.

 

O neologismo, a meu ver, só veio pôr a descoberto que o importante não é o saber, é o ascender. E, desde que se ascenda a determinados cargos passa-se, a saber tudo, e de tudo e, desde logo, debitam opiniões, que poucos, ou ninguém mesmo, ousa rebater, acima de tudo porque parece mal questionar o Senhor fulano. E, sabem eles do que falam? De um modo geral têm uma vaga ideia sobre as matérias. E depois lá vem a sempre pronta reposta. “Tenho de ver lá, com os meus serviços!”

 

Foi o que aconteceu com as imparidades. A matéria já está mais do que madura. Casos há até em que já estava sorvada e por isso caiu de podre. Mas, os senhores gestores, não por razões contabilísticas, mas por razões económicas “por querer manter as contas entre determinados rácios” não quiseram dar atenção à coisa.

E são efectivamente as imparidades coisa nova no mundo das contas da finança, ou das empresas em geral? Não.

 

As imparidades, expressão anglo-saxonica impairement entram no léxico contabilístico mundial em 1998 por via da publicação, pelo organismo de direito, da IAS nº 36 (International Accounting Standard). Mas o que é de facto, uma imparidade. Uma imparidade ocorre quando temos num balanço um valor de um activo superior ao seu valor real ou efectivamente superior valor a ser recebido. Ou dito de outro modo, os valores do activo têm de estar relevados contabilisticamente a justo-valor. (um outro palavrão, a carecer de melhor interpretação)

 

Então porque é que as contas dos bancos, e não só, deram buraco? Porque não havia a certeza da quantia a receber pela coisa registada nas contas. Existiam prejuízos latentes. Foi o que aconteceu, com a banca ao financiarem bens cujo estavam valorizados por um preço superior àquele que efectivamente valia, ou seria recebido. Havia, pois que relevar nas contas essa diferença, essa imparidade, esse valor não realizável.

 

Mas, a questão não se resume, nem podia, a um breve texto. A questão é complexa e carece de estudo, muito estudo, da norma que regula a matéria. Por outro lado, poder-se-á argumentar “pois, mas no POC não estão lá escarrapachadas as imparidades. Pois não! Mas é princípio assente quando “a matéria não está vertida no POC ou nas Directrizes Contabilísticas, aplicam supletivamente as IAS”

 

E, à boa maneira portuguesa sempre se diz que, também queremos ir no pelotão, devemos de estar lá; mas para tanto é preciso pedalar. E isso ninguém quer fazer. E, depois lá vem o chavão: é a crise! Também é, mas os nossos gestores têm de saber mais, têm de fazer melhor. E, sobretudo têm de receber pelo que fazem, apenas por isso, ou por muito que façam justificam-se as absurdas remunerações que lhes dão. Cantando e rindo, sempre cheios de fé (talvez pelo efeito de osmose pela proximidade de Fátima), cheios de euforia, lá vamos na cauda do pelotão, sempre a dizer que somos os primeiros! Então e quem aprecia o andar da carruagem é cego!

 

Ah! E os casos na América? Pois, os casos na América foram todos eles por deliberado desrespeito às normas contabilísticas e à sua intrínseca mania de que são sempre os maiores na apresentação rácios de excelência; como de resto em tudo! E ninguém viu? Viu! Mas para receberem chorudos prémios de desempenho todos condescenderam, chutando a coisa para a frente, sempre na convicção de que atirar o lixo para debaixo do tapete alguma vez foi solução.

 

Leiria, 2009.04.10



publicado por Leonel Pontes às 19:42
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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