Quarta-feira, 19 de Outubro de 2011

Todos diferentes à nascença, todos iguais (igualíssimos) na morte. Entre um e outro estádio o que fomos? Homens em transformação; nem sempre construídos pela mesma escola. Jean Piaget e Lev Vygotsky ambos construtivistas, divergiam quanto à formação e à aquisição do conhecimento.

 

Piaget preconizava que o desenvolvimento é construído a partir de uma interacção entre o desenvolvimento biológico e a escola. Já Vygotsky dizia que o desenvolvimento se dá a partir das relações entre os grupos sociais através de processos de interacção e mediação com o meio.

 

Porém, numa interpretação à portuguesa até pelas vicissitudes de outros tempos (Portugal esteve fechado ao desenvolvimento, os cidadãos estiveram limitados no acesso ao ensino superior, neste só ingressavam os filhos das elites) a discussão da sociedade e/ou a aquisição do conhecimento era precedido de muita persistência; pese embora o “todos iguais”. Mas convenhamos que, todos “diferentes”

 

Daí que a nossa construção, naquela acepção de construção que os pedagogos preconizavam para o desenvolvimento do homem e concomitantemente para o crescimento do país, e até para o prazer da vida, um vasto caminho de escolhos tinha de ser percorrido para alcançar sucessos, e eis que o vencedor era cognomidentificado ”este subiu na vida a pulso”.

 

Aos meus olhos um desses foi o Carlos Luso. Um dia telefonou-me, quando o telefone era um recurso escasso, para que o visitasse no seu escritório (entenda-se da empresa onde deixava o seu esforço) sobre as águas do Rio Liz, na ponte Hintze Ribeiro (agora restaurada pelo programa Polis).

 

Aí conversámos; o Luso estava a um passo de ser Técnico de Contas mas pormenores precisavam de ser limados. Fez-se a pulso, foi um lutador. Mais tarde em representação dos Técnicos de Contas de Leiria, indicado pela Secção Regional local, faz parte da Comissão pª a Defesa do Estatuto do Técnicos Oficiais de Contas que viria a dar lugar ao estatuto da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas.

 

 Sempre activo, sempre com opinião, sempre disposto a abrir veredas, marcou indelevelmente a sua acção na construção da empresa que serviu durante décadas (que ao que nos diz o desprezou nas horas mais difíceis da vida), foi dirigente do futebol leiriense sempre cheio de garra, serviu a política da urbe, esteve sempre, garbosamente, na linha da frente.

 

Entretanto, gostaria de deixar aqui um testemunho como homenagem ao Carlos Luso. Quis o destino que num acto eleitoral nacional à Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (duas listas em compita) uma dessas fosse protagonizada por mim; o Carlos Luso não só apoiou a minha candidatura como para espanto meu publicou um extenso texto num semanário económico nacional com honrarias; imerecidas. Nunca lhe confessei a minha gratidão, faço-o hoje. O Luso estava lá, esteve na luta sem desfalecimentos.

 

E eis que, quando menos esperava (como nunca se espera) caiu numa emboscada da vida, daquelas que nem com muita força conseguimos fugir. E, pelo que de si tive ocasião de ver numa recente visita ao lar que o ampara, o meu amigo Luso percebe tudo quanto lhe dizemos porque o seu lobo direito (área de Wernickie) permita-lhe adquirir a compreensão, contudo a área de Broca, não permite que o homem fale, ou escreva.

 

A concluir ouso usar esta coluna para lembrar, quiçá pedir, a todos quantos acompanharam o Carlos Luso e muitos foram, que, por favor não deixem de o visitar no Lar Senhora da Encarnação e falem com ele, embora não consiga articular linguagem, compreende e descodifica na perfeição tudo o que lhe dizemos. E, para si (para ele), para combate à doença, a companhia e o contacto com o próximo oxigena-lhe o ego, estimula-lhe as emoções, prolonga-lhe o bem-estar de que muito carece para viver.

 

Força amigos; um amigo é sempre uma força! E, não obstante a nossa crise, da qual é lugar-comum, dizer-se que há vida para além do déficit, o mesmo não se poderá dizer da vida; para além da vida não há vida, é inelutável. E o que somos? apenas e só máquinas de pagar impostos; quando precisamos e esperamos pelo retorno não há, porque há déficit. Madastra de vida!

 

Leiria, 2011.10.19



publicado por Leonel Pontes às 20:38
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