Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2015

Como é por demais sabido, a União Europeia emergiu das angústias e cinzas de uma guerra que dizimou 59.604.600 almas, entre militares e civis, ainda há pouco. Século findo. Nessa senda a reconstrução parecia ser tão necessária quanto fácil. Porém, com o decorrer dos tempos o edifício mostrou-se de difícil construção, posto que, porventura, em vez de assentar em alicerces sólidos tal edifício acabou por ser erguido na precariedade de valores; de valores morais, visão assaz distante dos valores e saberes preconizados por Monnet ou Schumann que como também é sabido defendiam uma Europa solidária.

Todavia, muito antes de existir a União Europeia, já os pensadores da rés pública pressentiam que os países, sozinhos não lograriam grandes êxitos. Daí que, em 1849, Vitor Hugo, homem de acção, deu expressão à sua visão quanto à construção de uma Europa unida e disse:

“Virá um dia em que todas as nações do continente europeu, sem perderem a sua qualidade distintiva e a sua gloriosa individualidade, se fundirão estreitamente numa unidade superior e constituirão a fraternidade europeia. Virá um dia em que não haverá outros campos de batalha para além dos mercados abrindo-se às ideias. Virá um dia em que as balas e as bombas serão substituídas pelos votos.“

Com efeito, o importante estava na edificação de um edifício que assegurasse sustentabilidade aos membros daquele que seria a União de povos europeus. E assim, após longo périplo de negociações foi celebrado em 1948 o “Tratado de Bruxelas”, o primeiro do pós-guerra, abrindo-se aí caminho para muitos outros tratados. Entretanto, a 1 de Janeiro de 1999, é celebrado na Holanda, Maastricht, o Tratado da União Europeia, que teve por subscritores, para além de Portugal, outros 10 Estados-membros, constituindo-se aí uma União Económica e Monetária (UEM). Em consequência, este tratado transferiu a responsabilidade pela condução das políticas monetárias para o Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), tendo adoptado uma moeda comum: o €uro.

Mas as desigualdades da Europa da União foram aí sepultadas? Não, antes pelo contrário acentuaram-se a cada dia que passava. E, malgrado tanta convicção antes emergiu desse acto um projecto que nunca saiu do estado estado de crise. Uma crise que tem por cenário principal a moeda: €uro. Tudo o mais já é conhecido e público.

O que porventura não tenhamos bem presente e por isso ouso trazer à discussão é que ao longo o século XX, foi construído um sistema redistributivo, edificado em torno de um conjunto de direitos sociais fundamentais: o direito à educação, à saúde e à reforma de cujos pressupostos a nova Europa comungava. Porém, o que temos vindo a dar conta é que estas premissas borregaram e não precisamos de fazer grande esforço par ver diante dos nossos olhos, o estado de desunião que varre a União, basta que estejamos atentos aos ventos de Sul que podem voltar a atiçar um rastilho que fará explodir/ implodir a Europa, pelo menos existe um teatro de guerra. Já deram por isso, não deram? Em suma a União tem andado a modernizar ou a desmantelar o estado social?

Leiria, 2015.02.10



publicado por Leonel Pontes às 18:53
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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