Domingo, 11 de Setembro de 2016

Vivemos um tempo de coacções; tempos de violência, senão física, psicológica. E dizem-nos que é por amor à liberdade e a um futuro mais próspero. Chega-se mesmo a dizer (ironicamente, só pode ser!) que poderemos viver num estado de bem-estar dúplice. Isto é, pode-se viver hoje, agora e já com mais liquidez (mais dinheiro no bolso para com ele adquirir, a felicidade – paradoxal -, e ao mesmo tempo poder-se-á ver ali a correr a em paralelo, um futuro cheio de contas (dívidas) sem que as tenhamos de solver no amanhã. Contudo, o que surpreende é ouvir a todo passo o primeiro magistrado da nação a corroborar tais pontos de vista. Falaciosos. A situação tem e deve ser repensada. Porém, para que não tenhamos de equacionar (reequacionar, se se quiser) muitos dados, também eles falaciosos, poderemos reflectir no que no-lo diz o filósofo Byung-Chul Han:

“A psicopolítica configura uma técnica de dominação que, em vez dos antigos métodos opressores, recorre a um poder sedutor e inteligente, que consegue que os cidadãos se submetam por si próprios às forças de dominação.”

Com efeito, em sumária apreciação poder-se-á concluir que vivemos tempos de um novo capitalismo. O Capitalismo da Emoção. Mesmo sem dinheiro disponível, mas com toda a certeza de uma dívida pública a aumentar cada vez mais, tendo por base o que no-lo vão impingindo achamo-nos emocionalmente felizes. Felicíssimos.

Concomitantemente ainda, a questão coloca-se de um outro prisma, tal seja; como pode a economia inspirar novos comportamentos organizacionais que levem ao empreendedorismo, logo ao investimento e à geração de emprego duradouro? Valerá a pena arquitectar projectos a médio e longo prazo, ou mesmo a curto prazo, se a matriz racional de desenvolvimento económico-social se apoia na mentira, em estados de alma que levam à assunção de uma vida onde nada falta, para logo a seguir estropiar o crescimento com sobrecarga de impostos para suprir gastos (em vez de investimentos) E, a propósito onde mora o investimento público? E porque aumenta, então, cada vez mais o endividamento externo.

Com efeito, servem-se da psicologia, descaracterizando-a para à sua pala induzirem bem-estar; mundo próspero, futuro risonho nas cabeças dos cidadãos por troco a dez reis de mel coado ilusoriamente aceite como coisa duradouro que em vez de um bem-estar é um estar-bem de circunstância. Portanto, em vez do construto “capital emocional” não estaremos a construir um capital de miséria social (mais e mais impostos, mais desmotivação, mais stresse, mais depressões e mais ideações suicidas?) Oxalá o tempo não nos venha a dar razão.

 Leiria, 2016.09.11



publicado por Leonel Pontes às 10:51
A participação cívica faz-se participando. Durante anos fi-lo com textos de opinião, os quais deram lugar à edição em livro "Intemporal(idades)" publicada em Novembro de 2008. Aproveito este espaço para continuar civicamente a dar expres
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